P – Qual a sensação de ser campeão nacional aos 50 anos (M50) de idade depois de ter conquistado vários títulos ao longo da carreira? Tem um sabor especial?
R – É ter realizado um trabalho bem feito e gerido da melhor forma a minha carreira no atletismo ao longo de todos estes anos, desde os 14 anos. É especial porque continuo a subir aos pódios nacionais passados 35 anos de carreira.
P – Qual é a receita para esta longevidade no atletismo profissional?
R – Gostar muito da modalidade, amar aquilo que faço e fazê-lo sempre com lealdade, integridade e honestidade, respeitando sempre os valores básicos do desporto. Há também muita dedicação, força de vontade, espírito de sacrifício e estabilidade emocional.
P – Já estabeleceu um limite temporal para colocar um ponto final na carreira?
R – Há uns anos tinha estabelecido um prazo, mas já o ultrapassei há algum tempo. Sentia-me ainda com condições para ser competitivo e atingir coisas interessantes, não só a nível individual, como no clube ou na seleção. Por isso, cá continuo enquanto me sentir em condições de ser útil e competitivo ou até que alguma condicionante física me afaste.
P – Como surgiu a opção pelas provas de estrada e, mais recentemente, pelas competições de montanha?
R – As provas de estrada são normalmente a evolução natural de um fundista, depois da pista e corta-mato. É onde se pode ganhar algum dinheiro extra para juntar ao apoio financeiro dos clubes. Muitas vezes essa evolução vai até à maratona, onde, no meu caso, concretizei o sonho olímpico. As competições de montanha são mais recentes e excecionais nas minhas últimas épocas porque me sinto bem em contacto com a natureza e descobri grande apetência especialmente no “up hill” (subidas).
P – Depois de muitas convocatórias para representar Portugal em vários campeonatos europeus e mundiais, fica surpreendido com os recentes convites para continuar a vestir a camisola da seleção nacional?
R – Não, de todo. Apesar da idade continuo a ser dos melhores atletas nacionais nessa vertente, mesmo entre os seniores no pódio nacional.
P – Quando olha para o extenso currículo, qual o momento, ou momentos, que destaca pela positiva?
R – A concretização do meu sonho de criança, de ser atleta olímpico na maratona. Aconteceu nos Jogos de Pequim, em 2008. Destaco também o mundial de meia maratona em 2003, onde fui o melhor europeu e não africano. As mais de 20 representações pela seleção nacional e os pódios nacionais individuais e coletivos pelos vários clubes que representei, mas também os pódios internacionais coletivos pela seleção nacional e taças dos clubes campeões europeus conquistadas.
P – E a parte mais negativa?
R – Negativamente aponto as lesões. Apesar de poucas, algumas foram persistentes e castraram uma maior evolução e performance à minha carreira.
P – Que fotografia faz do atletismo na região?
R – Muito negra. A falta de clubes tem vindo a acentuar-se. Atualmente, apesar de existir muita gente a correr ou a praticar “jogging”, não traduz um maior incremento de atletas federados e praticantes de atletismo ao nível do médio/alto rendimento competitivo. No distrito grassa a escassez ou ausência completa de clubes nesta modalidade. É o caso gritante do concelho da Guarda e em praticamente todo o distrito. O atletismo federado resume-se basicamente ao concelho de Seia e a uma ou outra exceção como Gouveia e Sabugal.
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PAULO GOMES
Atleta profissional
Idade: 50 anos
Naturalidade: Celorico da Beira (Guarda)
Currículo (resumido): 16 vezes campeão nacional individual de estrada, corta-mato e pista nos vários escalões; 30º na maratona dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008; 13º classificado no Mundial de meia maratona em 2003; Oito participações nos Mundiais de cross/estrada/montanha/pista; 6 participações nos Europeus de cross/estrada/montanha/pista; Três medalhas coletivas e sete títulos da Taça dos Clubes Campeões Europeus de estrada/cross
Livro preferido: Novo Testamento
Filme preferido: A Bíblia
Hobbies: Ver televisão, nomeadamente noticiários e desporto; convívios em família, ouvir música e concertos