1. Há mais de 30 anos, enquanto participava num encontro europeu de jovens, em Barcelona, perguntava-me porque motivo Portugal era sempre excluído da organização destes eventos. A primeira razão, explicaram-me, derivava do isolamento a que durante anos o país foi votado – a escolha “nacional” do “orgulhosamente sós” (que, afinal, também fora comum ao franquismo espanhol). Depois, a partir a partir de Abril de 1974, entre falta de estruturas e distância da Europa (extremo ocidental…), Portugal era um país atrasado, distante e pouco recomendável. Com a entrada na CEE o país mudou, desenvolveu-se e, nos últimos 20 anos, passou a estar entre os mais recomendados. Lisboa passou a ser uma cidade cosmopolita, moderna, cara e destino internacional apetecido. Passou a estar na moda. E assim vai continuar, como destino turístico bonito e barato (??), como cidade atrativa e acolhedora, como centro do mundo (católico) com as Jornadas Mundiais de Juventude (JMJ).
Se antes lamentávamos o pouco interesse que o mundo mostrava em relação a Portugal, hoje, muitos lamentam que um evento assim traga tanta gente a Lisboa…
Para os muitos que criticam o encontro mundial de jovens, considerando que será uma feira de vaidades em que a Igreja Católica exibe o Papa como se fosse uma estrela, numa festa paga pelo Estado laico e com benefícios privados, deviam conhecer um pouco melhor a caminhada de Francisco (e já agora, perceber que o grande investimento público foi destinado à requalificação do antigo aterro sanitário de Beirolas). Sendo certo que no centro do descontentamento está a saga em que vivemos, de regime fiscal opressivo, salários baixos, rendas altas, especulação imobiliária sem regras ou falta de mercado de arrendamento para jovens, os tais a quem supostamente o encontro se dirige. Mas como salientava há dias o cantor Pedro Abrunhosa, acredito na capacidade deste Papa para mudar as regras de um jogo há muito inclinado ou viciado. Talvez por isso, também eu me sinta cristão de pensamento, apesar de agnóstico. E também por isso confio que o melhor da Igreja está nestas jornadas, nesta vivência de partilha, neste preceito intrínseco e universal que é o valor da fraternidade e da luta pelo bem comum. Mesmo quando não podemos esquecer que a Igreja vive enredada em encobrimentos de abusos vários, confio no esforço de Francisco para combater as injustiças onde que elas existam; e confio que as JMJ sejam umas jornadas de enriquecimento humano, social e cultural para os milhares de jovens que vêm à procura da concórdia, da paz, da solidariedade, da humildade e partilha apregoada pelo Papa Francisco.
2. Como sabemos, a imprensa em geral vive tempos difíceis e, apesar das muitas “palmadinhas nas costas” sobre a importância da comunicação social e da sua necessidade num regime democrático, a verdade é que em Portugal não há apoios públicos e financiamento do Estado ou das autarquias (que são o estado de proximidade) que garantam um financiamento adequado à sustentabilidade da imprensa nacional ou regional. Todos consideram importante o escrutínio público dos poderes ou a informação com rigor e isenção ou a pluralidade e profissionalismo, mas ninguém que pagar por isso. Ou quase. O jornalismo vive da sua relação com os leitores e sobrevive graças aos assinantes e clientes, (os que compram jornais e os que fazem publicidade) – os leitores são a energia, o suporte e a vida de um jornal. O contributo de O INTERIOR para a vida democrática, cívica e cultural da região reside nessa força e na sua relação com os leitores. Apoiar o jornal O INTERIOR é, pois, um ato cívico e um sinal de participação e empenho na defesa de uma sociedade mais desenvolvida cultural e socialmente. E os jornais precisam de apoio para sobreviverem.
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