Enquanto António Costa falava aos jornalistas, na terça-feira à noite, sobre a sua decisão de não aceitar a demissão do ministro Galamba, a minha distorção da realidade não via um primeiro-ministro a dar explicações, mas um hooligan aos saltos e a cantar “e esta merda é toda nossa, olé, olé”.
Em breve se verá se António Costa, que se armou em forcado numa pega de caras com o touro de Belém, não acaba enforcado na teia de mentiras na tourada da TAP. Espero mesmo que seja muito brevemente, porque me começam a faltar trocadilhos, metáforas e alegorias para continuar a fazer graçolas com o tema.
Sobre o comunicado da Presidência da República, emitido ainda durante o grito do Tarzan em S. Bento, há duas notas a ter conta: usando um termo próprio da Ciência Política, o comunicado é choninhas, e a palavra «percepção» surge duas vezes, em vez de «perceção», o que indica que o Presidente tem tanta paciência para o acordo ortográfico como para o Governo.
Para os que apreciam teorias da conspiração, proponho mais uma, que não sendo muito conspirativa, é pelo menos tão absurda como as demais. No dia 1 de Maio entraram em vigor as alterações ao Código do Trabalho, a que o Governo chama leis do trabalho digno. Por isso é que antes de segunda-feira não havia problema em despedir assessores por telefone e administradores pela televisão, mas a partir dessa legislação, passou a ser indigno despedir trabalhadores, mesmo quando o trabalhador pede e o presidente sugere.
O ministro Galamba só soube que afinal não ia fazer companhia a Pedro Nuno Santos durante a performance de “commedia dell’arte” do nosso Arlequim de S. Bento. Não é de espantar. Julgando que não iria continuar ministro, Galamba saiu do ministério sem computador nem telemóvel, não fosse nessa noite receber uma visita do SIS.
No fim, Costa ponderou bem os prós e os contras da saída do ministro Galamba e percebeu que, para o futuro do país, é mais conveniente que Galamba esteja num ministério do que no Twitter.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia