Juice e luas geladas de Júpiter

Escrito por António Costa

“Galileu, ao observar pela primeira vez Júpiter e as luas que o rodeavam, através da sua luneta, estaria longe de imaginar a importância destes astros na busca de locais potencialmente habitáveis para além da Terra.”

A navegação pelo espaço para lá da órbita da Terra é designada por astronáutica ou cosmonáutica. Foi apenas na segunda metade do século que surgiram as primeiras missões tripuladas ou não tripuladas permitindo ao Homem aventurar-se para lá dos limites terrestres.
A história das missões tripuladas e não tripuladas conta-se em vários atos, que começam com o lançamento dos primeiros satélites artificiais Sputnik 1 e 2, em 1957, passam pelo primeiro homem a realizar um voo orbital, em 1961, pelos primeiros astronautas, que, em 1969, pisaram solo lunar, até abril de 2023, com o lançamento da sonda europeia Juice. Muitas outras missões tripuladas e não tripuladas estão programas para um futuro próximo, como o regresso do ser humano à Lua, ou mais longínquo, como a viagem tripulada a Marte.
Lançada a 14 de abril deste ano, a Juice, acrónimo em inglês de Explorador das Luas Geladas de Júpiter, marca o regresso de uma missão não tripulada àquele planeta. A primeira sonda a alcançar Júpiter foi a Pionner 10, tendo esta sobrevoado este gigante gasoso e seguido viagem para os confins do Sistema Solar. Já Juice permanecerá em órbita do planeta antes de iniciar aproximações às luas geladas Ganimedes, Calisto e Europa, onde se acredita que existam oceanos profundos de água líquida sob as suas superfícies geladas. Foi precisamente esta descoberta que colocou as luas de Júpiter no topo da lista de locais do sistema solar a explorar em busca de sinais de vida e habitabilidade. Para tal, serão realizados sobrevoos para cartografar e determinar a estrutura interna destas luas, com o objetivo de, entre outros, encontrar moléculas orgânicas.
Quando orbitar Júpiter, Juice recolherá dados que permitirão aos cientistas estudar a turbulenta atmosfera e a magnetosfera deste planeta. O final da missão é centrado em Ganimedes, satélite natural maior do que Mercúrio, onde se pretende medir a intensidade do campo magnético. Quando a missão for concluída, em setembro de 2035, a sonda impactará contra a superfície de Ganimedes.
Em termos tecnológicos esta missão apresenta desafios significativos uma vez que o ambiente em torno de Júpiter é altamente nocivo para os componentes eletrónicos dos instrumentos e painéis solares da sonda, que devem sobreviver a níveis muito elevados de radiação. Destaque, ainda, para um poderoso computador de bordo e um sistema de navegação capazes de realizar operações de forma autónoma e a resolução independente de problemas sem a necessidade de contacto com a Terra.
Galileu, ao observar pela primeira vez Júpiter e as luas que o rodeavam, através da sua luneta, estaria longe de imaginar a importância destes astros na busca de locais potencialmente habitáveis para além da Terra.

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António Costa

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