Do pouco que dei conta dos dias que passaram antes da jornada pascal – não por atenção religiosa, mas por desatenção festiva, e que terminou com um domingo de paixão velocipédica pela corrida Paris-Roubaix – parece que houve uns mails e umas mensagens trocadas entre umas pessoas que nos governam e outras pessoas que se governam.
Diz que há uma senhora que quer devolver meio milhão de euros e não sabe como. Estou solidário, também me acontece muito não perceber como pagar coisas que devo. Mas se precisar de ajuda, ou de intermediário, ligue aqui para o jornal que a gente arranja maneira.
Outra senhora, uma francesa que fala inglês, parece que foi despedida por uns ministros. Mal posso acreditar, um governo que tanto aposta na internacionalização das empresas e das universidades. Entretanto, um senhor inspector das finanças não conseguiu falar com a CEO da TAP porque ela só fala inglês. Um dia que me calhe ser inspeccionado pelas Finanças, avançarei logo com um simpatiquíssimo “доброго ранку, пан інспектор!” para iniciar a conversa.
Mas a criatura que conseguiu ser mais polémica do que duas frases de André Ventura foi um ex-qualquer coisa em todos os governos e oposições do PS nos últimos vinte anos. E tudo isto por ser ciumento e enviar emails a pedir monogamia comunicacional à senhora da TAP – “só falas connosco, ouviste?”; por ser graxista e querer fazer agrados ao presidente – “vê lá se mudas o vôo para o presidente poder viajar nesse dia, que eu quero fazer-lhe uma surpresa e sair de dentro de um bolo enquanto sobrevoarmos o Kilimanjaro”; por ser sôfrego e querer tudo ao mesmo tempo.
Lá para o fim da semana, soube por alto que houve uma reunião secreta, uns jogos de bastidores para eliminar concorrentes, uns traidores e uns panhonhas a quem se pede que acreditem em tudo, mesmo que estejam mesmo a ver que aquilo é tudo uma fantochada – depois é que percebi que afinal não era o novo concurso da SIC, tinha sido uma comissão parlamentar.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia