Não pisarei mais os jardins
Não correrei nas avenidas largas
Não sentirei a chuva na cara
Não me levantarei destes lençóis
E tu ufana em torno à minha vida Como se me prendesses aqui.
O paladar já foi, o tato desintegrou-se,
O sexo – não ficou para se despedir. Deixa-me ir que não voo mais
Deixa-me partir que não ando outra vez
Deixa-me só.
Lutas por mim
Mais que me empertiguei com a minha vida
E assim me prendes entre tubos Frascos estranhos
Exames infindos
E incómodos gestos,
Desumanos movimentos.
Tudo me dói,
Tudo me aborrece.
Eu terminei
E o que é estranho
É que estou seguro
Consciente e nada apreensivo.
Eu sei que me findo
E aborrece-me que o impeças Quando não tenho força de contrariar.
Deixa-me.
Quero que a morte chegue
E me veja preparado,
Enamorado dela.
Morro se me deixares
Porque cheguei ao fim
E não quero que me impeças
Com a tua arrogante ciência.
Não apreciarei os estorninhos,
Não amarei mais ninguém.
Assim, com as tuas ajudas,
Custa-me mais morrer.
2014 um poema a propósito da eutanásia….
“Deixa-me partir que não ando outra vez
Deixa-me só.
Lutas por mim
Mais que me empertiguei com a minha vida”