P – A Coficab continua a ser a maior empresa do distrito da Guarda. O que contribuiu para o reforço dessa liderança (e para o aumento da faturação) em 2021?
R – É a inovação contínua, que tem sido o verdadeiro motor de crescimento da Coficab em Portugal. O mercado automóvel em que operamos é extremamente competitivo e os clientes diretos da Coficab estão localizados em paises em vias de desenvolvimento, bem longe da Guarda, o que nos traz dificuldades acrescidas de competitividade nos produtos classificados como “comodities”.
A nossa aposta em Portugal foi então totalmente direcionada para a inovação a nivel de produto e processo, oferecendo aos nossos clientes algo diferente, e sempre melhor em algum aspecto quando comparado com os produtos estandardizados que existem. A migração para a eletromobilidade abriu novas áreas de intervenção no nosso negócio e a Coficab foi rápida a perceber isso, assim como a implementar as ideias e decisões resultantes dessa oportunidade.
P – O que foi determinante para o crescimento da Coficab?
R – Uma equipa altamente motivada e unida, a trabalhar em volta de um projecto que todos sentem como “seu”. Essa equipa foi constituída ao longo dos 30 anos que estamos na Guarda, através de um processo de seleção rigoroso e suportado depois por um processo de “coaching pessoal” aos escolhidos.
P – A empresa tem agora duas unidades industriais, em Vale de Estrela e na PLIE-Guarda. Quantos trabalhadores tem neste momento?
R – Empregamos atualmente 960 trabalhadores.
P – Tem em mãos um novo projeto, para o qual já adquiriram dois lotes de terreno na PLIE-Guarda, em que consiste? Será uma nova unidade industrial ou mais um polo de investigação e I&D?
R – Para já, é um projecto confidencial, pelo que não posso neste momento adiantar muitos detalhes. O que posso dizer é que será uma unidade industrial para produção de um novo tipo de produto que estamos a tentar introduzir no mercado automóvel e para o qual neste momento não existe produção na Europa. Quanto ao novo polo de investigação, a sua construção está em curso desde 2020 e deverá estar concluida em maio deste ano.
P – A localização da Coficab na Guarda é uma desvantagem competitiva num mercado global?
R – Sim, no mercado em que operamos é claramente uma desvantagem importante por estarmos longe dos nossos clientes e a competir com empresas que estão milhares de quilómetros mais próximos deles. Esta desvantagem seria bastante atenuada caso tivessemos acesso a uma rede de transportes ferroviários moderna e competitiva que nos ligasse ao centro da Europa. Ainda tenho esperança que o projeto da Plataforma Logistica na Guarda avance de vez, e que seja estruturado de forma a proporcionar essa vantagem competitiva tão importante. Uma das nossas unidades industriais localizadas em Ploiesti, na Roménia, teve acesso a um projeto semelhante, que foi desenvolvido pelo governo local e os custos de logistica foram reduzidos em um terço!
P – Apesar das dificuldades de contexto, como a localização na Guarda, a Coficab é um caso de sucesso, a que se deve?
R – Com o risco de me repetir, o sucesso da Coficab na Guarda deve-se aos dois fatores que mencionei antes: aposta permanente na inovação como estratégia-base e uma equipa muito competente e motivada para a implementar.
P – A falta de mão de obra será um problema para o futuro do grupo na Guarda?
R – É provavelmente o principal problema, e que está já a colocar em risco a execução do novo projeto industrial que refiri antes.
P – Como foi sentido o aumento dos custos de matéria-prima e energéticos?
R – Os anos 2021 e 2022 foram muito dificeis para a Coficab devido a esses dois fatores. Tivemos matérias que duplicaram de preço e cujos custos acrescidos foram extremamente difíceis de passar aos nossos clientes. Competir num mercado global e “algo selvagem” não é fácil, pois os clientes têm políticas de compras muito agressivas. Nesta fase tão difícil, quando argumentamos com estes novos custos que estão fora do nosso controlo a nivel de gestão (como os tremendos custos energéticos), foi imediatamente feita a comparação com preços de produtos vindos de outras regiões do globo, em que o impacto da guerra na Ucrania não foi tão grande. Não foi implementado qualquer mecanismo extraordinário de proteção à indústria europeia neste contexto tão adverso! Tivemos que competir com empresas localizadas fora da Europa, em que este enorme sobrecusto energético não foi sentido. O nosso processo é baseado em tecnologia consumidora de energia e o nosso custo energético triplicou – a fatura de energia da Coficab é hoje superior a um milhão de euros por mês! Vimos o custo da energia subir muito rapidamente com a argumentação da subida do preço do gás. Ainda não o vimos cair com a mesma rapidez, apesar do preço do gás estar em minimos de dois anos e quase ao seu preço normal! Os preços de fontes de energias alternativas, como, por exemplo, as renováveis, em que os custos de produção são muitissimo inferiores, sofreram o mesmo aumento que a energia produzida a partir de gás! Estamos a pagar energia eólica e solar a 320 eur/MWh quando o seu custo de produção real é de 50 eur/MWh. São 600 por cento de lucro! Que lógica económica é esta? Sou contra a intervenção estatal na economia, mas sou ainda mais contra a cartelização de bens essenciais.
É urgente uma revolução a nivel regulamentar no setor energético para se implementarem as boas intenções do “nosso” presidente da ONU no que respeita à descarbonização da economia, assim como para a implementação da estratégia de independência energética que a presidente da Comissão Europeia veio recentemente defender. Isto não será possivel se continuarmos a necessitar de mais de dois anos para se licenciar um parque solar ou eólico para autoconsumo, em que dez entidades têm que dar o seu parecer e levantar as habituais 10 dificuldades cada uma delas…
P – E o futuro da Coficab na Guarda?
R – A Coficab está bem ancorada na Guarda por ser uma unidade diferenciada tecnologicamente das outras fábricas do grupo. A revolução da “Eletromobilidade e Conetividade” vem reforçar essa segurança, pois sendo dois campos tecnológicos novos permitem, e até exigem esforços suplementares na inovação, que é o nosso ponto forte. Será muito dificil crescer mais, e penso que isso também não seria muito saudável para a Guarda devido à dependência que a economia da região teria de uma só empresa. O nosso objetivo na Guarda é chegar, de forma consolidada, aos 400 milhões de euros de faturação anual com 1.000 trabalhadores.