Para preservar a minha saúde, a minha crónica e a minha energia, não me tenho envolvido nas discussões identitárias sobre características atribuídas, herdadas e reclamadas. Esta guerra, que já tem muitas vítimas noutros lado, tem andado relativamente arrefecida por cá. Mas esta semana, apetece-me atear a chama da indignação dos teclistas das redes sociais.
Seguindo a tese pós-moderna que corre pelos meios progressistas de que ser homem ou mulher é apenas uma questão de auto-identificação, sem necessária correspondência com as condições materiais que anteriormente eram a base da mesma definição, quero fazer publicamente a minha declaração identitária dos pronomes, de condição e de género.
Sinto-me rico, identifico-me como adolescente e quero ser tratado por sua majestade.
Espero que não me venham dizer que não posso ser rico por não ter dinheiro, porque já ficou estabelecido anteriormente que é possível ser homem ou mulher sem ter em conta a morfologia. Estou convicto de que os novos progressistas não poderão ser tão materialistas e adeptos do capitalismo que considerem que o dinheiro é uma realidade material mais relevante do que a biologia.
O argumento que a adolescência termina aos 20 anos também não é válido, já que a minha identidade é uma escolha individual, não deve ser uma imposição externa dependente de variáveis da modernidade capitalista, como é o tempo do calendário. Se tenho vontade de jogar computador toda a noite e comer pizza ao pequeno-almoço, não admito que alguém me venha dizer que sou adulto. Da mesma forma que algumas famílias americanas não atribuem sexo às crianças quando elas nascem, os meus pais não me deviam ter dado uma data de nascimento.
O tratamento por sua majestade facilita imenso a confusão com pronomes, além de ser não-binário no género gramatical.
Para terminar esta crónica das minhas revelações identitárias, falta revelar o género com que mais me identifico: a ficção científica.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia