ALBINO BÁRBARA
Presidente da direção do Centro Cultural da Guarda Idade: 68 anos Naturalidade: Guarda Currículo: Animador cultural e neste momento reformado da função pública Livro preferido: “O Discurso do Filho da Puta”, de Alberto Pimenta Filme preferido: “O Mundo a Seus Pés”, de Orson Welles Hobbies: Ler, passear, ver televisão, fazer análise política«Temos massa humana suficiente para o Centro Cultural da Guarda continuar»
P – Que balanço faz destes 60 anos, pelo menos daqueles que tem acompanhado na presidência do Centro Cultural da Guarda?
R – Quando uma instituição é essencialmente uma associação, naturalmente que os 60 anos são sempre uma data que deve ser assinalada. Nem todas as instituições, principalmente as culturais, desportivas e outras, têm essa longevidade, nós conseguimos estes 60 anos e só podemos dizer que é um momento positivo. É um agradecimento em termos históricos àquilo que efetivamente foi feito na Guarda porque os 60 anos do Centro Cultural confundem-se um pouco com os 60 anos da história da cidade. Nós estivemos sempre presentes em todos os acontecimentos marcantes da vida da cidade nestes anos. Portanto, só podemos agradecer às pessoas que por ali passaram, aos seus colaboradores, dirigentes, aos homens e às mulheres de boa vontade, assim como o carinho que toda a sociedade guardense sempre dedicou ao seu Centro Cultural.
P – Quais são as vertentes e o principal objetivo do Centro Cultural?
R – Iniciámos a nossa atividade no dia 17 de novembro, na Rua Rui de Pina, junto à Porta do Sol. Quatro anos depois, o Centro Cultural mudou-se para a Rua Francisco de Passos, hoje Rua Direita, e depois, em 1979, foi instalada na Escola dos Gaiatos, onde funcionavam também as Finanças, no espaço que é hoje o Paço da Cultura. Esse foi o nosso percurso até agora. Relativamente às atividades. O doutor Virgílio de Carvalho, juntamente com o cónego Sanches de Carvalho, que foi ao longo de mais de 50 anos diretor do jornal “A Guarda”, arrancaram com um orfeão em 1963. A ideia foi fazer um orfeão e um grupo de teatro, isto num período em que todos os homens que por ali passaram eram conotados com o anterior regime. Por cá passaram desde o reitor do liceu, ao diretor da escola, ao Provedor da Santa Casa da Misericórdia, ao Governador Civil e ao presidente da Câmara, que foi simultaneamente presidente do Centro Cultural. Houve também jornalistas do regime que foram presidentes desta casa, portanto, praticamente toda a gente passou por cá. Depois o Centro evoluiu, começou com o Grupo Coral e, posteriormente, o doutor Sanches de Carvalho achou que deveríamos ter um rancho folclórico que fizesse uma recolha das canções e dos trajes dos usos e costumes da região beirã, o que aconteceu. Mais tarde, do conjunto de pessoas que cantavam na cantata do rancho foi criado aquilo que se chamou, e que ainda hoje se chama, o Conjunto Rosinha. Temos música tradicional portuguesa, música do cancioneiro português, música do cancioneiro da Beira Baixa… A partir daí houve necessidade de criar outras valências, por exemplo, um coro infantil e um coro sénior, que passou a designar-se Coro Cantar Tradição. Por outro lado, tivemos sempre um conjunto de pop rock dos anos 60, desde os Kiowas aos Néptunos. Ainda hoje temos o grupo 65 Estrelas, que toca música dos anos 60 e que ainda há dias fez aquele belíssimo espetáculo no TMG. Depois temos a vertente letiva e empresarial. Neste momento ministramos aulas de teclas, cordas, sopro, percussão, solfejo, de ballet e danças modernas.
P – E quanto ao número de inscritos no Centro Cultural, tem aumentado ou diminuído nos últimos anos?
R – O Centro Cultural está mais ou menos bem. Passamos por uma pandemia e nada ficou como dantes. O Centro Cultural também levou um “abanão” e temos hoje menos alunos do que antes porque algumas pessoas ainda se retraem de participar nas atividades. A grande maioria regressou, mas nada ficou como dantes: temos menos alunos, menos participantes e o apelo que deixo é que as pessoas que estão motivadas para esta coisa, o associativismo, que apareçam porque as nossas escolas estão a funcionar. O Centro Cultural, entre professores, colaboradores, trabalhadores e participantes nas valências e associados, deveria ter à volta de 500 pessoas, mas agora deverá andar na média das 400 pessoas.
P – E como vê o futuro do Centro Cultural da Guarda?
P – Tem futuro. Já por duas vezes – e falamos do 25 de Abril e num período revolucionário onde houve um grande abanão e muitas instituições do tipo do Centro Cultural caíram – o Centro Cultural também abanou, mas não caiu e deixou um agradecimento aos homens e às mulheres que nessa altura seguraram a instituição. Naturalmente que agora tivemos este abanão da pandemia, mas enquanto tiver as pessoas que tem envolvidas, que se motivam para estar no associativismo, que gostam daquela casa, o Centro Cultural mantém-se. Deixo, por isso, um grande agradecimento a todos aqueles que se envolvem de alma e coração. Muitas dessas pessoas reconhecem o Centro Cultural como a sua segunda casa. Olharmos, por exemplo, para uma pessoa que entrou há 50 anos, cujo filho já lá andou e que agora o avô dança com o neto e por aí adiante, dá-nos uma certa alegria. Dá-nos um gosto dizer que temos ali a massa humana suficiente para o Centro poder continuar.
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