Especial Beira Interior - Vinhos & Sabores Sociedade

Os responsáveis pelo melhor que se produz em Pinhel

Pinhel
Escrito por Efigénia Marques

Vinho, azeite e mel são alguns dos produtos endógenos em destaque no “Beira Interior – Vinhos & Sabores”. O INTERIOR foi conhecer melhor os produtores e alguns dos segredos destes produtos endógenos que fazem as delícias de quem os prova

Porque não só de vinhos se faz o “Beira Interior – Vinhos & Sabores”, este ano serão 23 os expositores de sabores da Beira Interior presentes no evento que decorre nos dias 18, 19 e 20 de novembro. O Mel Flor do Côa, do concelho de Pinhel, vai ser um dos produtores presentes no certame «que já se realiza há alguns anos e que cada vez mais tem vindo a ganhar impacto, não só na nossa região, como fora dela. E é sempre bom para promover os nossos produtos», considera Francisco Morgado, representante da empresa. O responsável acrescenta que este é um evento que não cria diretamente negócio ao longo dos três dias, «é mais uma mostra de produtos do que a região tem para oferecer» para depois potenciar alguns negócios.
Em declarações a O INTERIOR, Francisco Morgado revela que devido ao ano atípico «tanto a nível da floração, como de outros fatores climatéricos, este foi um ano de produção fraca que se vem a revelar também noutras áreas». No caso do mel de Vale de Madeira a quebra ronda este ano os 50 por cento. «A nível nacional depende de região para região, porque há florações que se deram melhor com as condições climatéricas do que outras. Por exemplo, há florações que deram origem a mel que, pelo que ouço dizer, não teve nenhuma quebra. Mas houve outras produções com mais de 50 por cento de redução. É relativo, depende de região para região e do tipo de mel», adianta.
A nível das vendas, as expetativas não são as melhores para o produtor pinhelense. «Como é do conhecimento geral, os custos são muito maiores, tanto a nível de produção, como no mel, caso do vidro, que foi um produto cujo preço disparou brutalmente», o que vai fazer com que, «apesar da produção já ser pouca, tenhamos que cobrar estes custos todos» e devido «à falta de poder de compra» por causa da inflação «prevemos que o negócio começa a fraquejar um bocadinho», lamenta o empresário. «É um problema geral, não é só para nós. Porém, quem quer comprar ou quem precisar vai ter que comprar, como acontece com outros produtos», considera Francisco Morgado. No caso do Mel Flor do Côa a maior parte da produção é exportada a granel e por isso os preços praticados «vão depender do mercado. Se houver procura é uma coisa, se não houver não dá para vender. Já sabemos que a oferta vai ser pouca, agora a procura vamos ver se vai ser muita ou se também vai ser pouca», afirma.
Francisco Morgado explicou ainda a O INTERIOR de que forma se desenrola o processo de venda do mel: «Se forem às grandes superfícies e tiverem a curiosidade de ver o rótulo dos frascos, a maior parte dos méis aí comercializados é uma mistura de méis vindos sobretudo da América do Sul e da China com mel comprado na Europa. Ou seja, vendemos e exportamos o nosso mel, que é, misturado lá fora com outros que se conseguem adquirir mais baratos e depois chegam novamente às nossas prateleiras, ao nosso consumidor final». E para o apicultor surge aí uma das maiores problemáticas do setor, já que na maior parte das vezes «o consumidor final não liga a isso, prefere ver o preço e não dá o valor devido ao produto em si. Neste momento não conheço nenhum produtor que venda o mel ao preço que vale, a não ser na zona litoral, em que o quilo do mel já é vendido a um preço considerável», garante o responsável do Mel Flor do Côa, lembrando que o aumento do preço do gasóleo também tem um impacto significativo nas contas, uma vez que os produtores têm que se deslocar até aos apiários, que estão principalmente em zonas não populacionais. «Neste momento, se conseguirmos vender um frasco de mel por oito euros, em que o consumidor final vai achar caro, se calhar ainda estamos a ganhar menos dinheiro do que antes», sublinha.

Francisco

Outro dos problemas que se tem arrastado nos últimos anos é a mortalidade das abelhas: «A nível nacional, todos os apicultores perdem anualmente cerca de 20 a 30 por cento do seu efetivo devido a fatores climatéricos ou à vespa asiática. Tudo isso contribui para um lado que ninguém vê», afirma Francisco Morgado. O que faz com que a empresa Mel Flor do Côa tenha perdido nos últimos dois/três anos cerca de 400 colmeias. Atualmente tem 600 e produz anualmente entre 5 a 10 toneladas de mel. Associado à apicultura, a empresa vai abrir brevemente um espaço de turismo rural denominado “Côa Honeycomb”, também em Vale de Madeira. «É um projeto interligado com a atividade apícola, desde logo no formato das casas, que têm a forma do favo. E com isto queremos também dar a conhecer um bocadinho do que é que a fileira do mel e da sua produção. Os turistas vão ter a oportunidade de visitar os apiários e ver como se processa o mel até chegar ao consumidor final», antecipa o empresário. Ainda não há data de abertura «devido a questões burocráticas», mas é possível conhecer um pouco mais do projeto nas redes sociais.

Casa Agrícola Metello de Nápoles é o produtor de vinho mais recente de Pinhel

No que toca ao vinho, são 27 os produtores que estão presentes no “Beira Interior – Vinhos & Sabores” deste ano. A Casa Agrícola Metello de Nápoles é a mais recente marca vitivinícola do concelho de Pinhel.
«A minha família tem há várias gerações casa na cidade de Pinhel e propriedades no concelho e produzia vinho até ao aparecimento da Adega Cooperativa, que era vendido localmente e a granel, mas não era engarrafado. O meu pai seguiu a tradição e na década de 90 deu início a um processo de reconversão da vinha existente e de plantação de novas vinhas, que se prolongou por mais de uma dezena de anos, mas sempre na ótica da produção de uva», explica Pedro Metello de Nápoles, impulsionador do projeto.
Depois de em 2019 e 2020 ter feito duas vindimas teste, em 2021 os vinhos da Quinta da Ribeira da Pêga começaram finalmente a ser comercializados. «Quando tomei a decisão de fazer vinho, pensei nisso como um “hobby”, um “hobby” muito caro, em que a preocupação era fazer algo que fosse bom e sustentável. Nunca pensei nisso como um negócio que deveria atingir o “break even” num determinado período», adianta o responsável, revelando que a decisão de criar uma adega surgiu em 2018. «A partir daí passei a explorar uma pequena parte das vinhas do meu pai com o objetivo de produzir vinho», destaca. Numa propriedade situada a dois quilómetros a sul da “cidade-Falcão” são produzidos vinhos DOC tintos e brancos, especialmente para um mercado de nicho. «Neste momento está a entrar no mercado o Quinta da Ribeira da Pêga Síria 2021. É um vinho diferente do Síria tradicional, com mais estrutura e potencial de evolução. O objetivo é mostrar todo o potencial da casta. Na Primavera de 2023 vamos lançar um lote de Rufete de 2021, em estreme (Quinta da Ribeira da Pêga, Rufete, 2021). O Rufete é, por excelência, a casta da região, está muito bem adaptada aos solos e ao clima e é capaz de produzir vinhos com grande longevidade, mas com características muito distintas em termos de cor e paladar. Durante o próximo ano o objetivo é ainda lançar pelo menos um “blend” de 2021 e um lote de Síria de 2022», adianta o empreendedor natural de Lisboa.

Pedro

Quanto ao negócio dos vinhos, nomeadamente da Beira Interior, Pedro Metello de Nápoles considera que ainda «não é uma boa aposta» e justifica-se dizendo que «apesar da sub-região de Pinhel ter características muito particulares, quer de clima, quer de solos, que permitem fazer vinhos com identidade própria, fazendo uso das castas tradicionais», ela parte de «uma posição desfavorável em comparação com as regiões vizinhas do Douro e do Dão». Porém, se houver união dos produtores de Pinhel e da Beira Interior através de «um projeto a longo prazo, que depende de todos, de uma estratégia comum, de investimento e, para usar a palavra da moda, de resiliência, estou convencido que a região tem enorme futuro», considera o produtor em declarações a O INTERIOR. E exemplo dessa resiliência são eventos como o “Beira Interior – Vinhos & Sabores”, que «se centra no vinho e pretende dar palco aos produtores da região, pelo que é uma iniciativa de louvar», elogia.
Sobre o futuro da Casa Agrícola Metello de Nápoles e dos vinhos da Quinta da Ribeira da Pêga, Pedro Metello de Nápoles revela que «neste momento a fase é de consolidação, com uma aposta clara na qualidade». Para breve está prevista a ampliação da adega para ter novas áreas para barricas e para armazenagem, bem como a plantação de novas áreas de vinha. «Gostaria também de poder desenvolver a vertente do enoturismo e estamos a equacionar a forma de o fazer», antecipa. Já num futuro mais distante ambiciona expandir a área de vinha, «apostando noutras castas, mas sempre numa lógica de produto de nicho, com uma grande aposta na qualidade e na identidade da região», salienta Pedro Metello de Nápoles.

Carina Fernandes

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Efigénia Marques

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