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O fado esquecido

“Cabelo Branco é Saudade”, de Ricardo Pais, amanhã à noite no grande auditório do TMG

O que têm em comum Argentina Santos, Celeste Rodrigues, Alcindo de Carvalho e Ricardo Ribeiro? O fado e as casas lisboetas onde se canta com garbo e genuinidade uma arte tradicional, mas também o facto de serem uma incógnita para a maioria dos portugueses. Uma lacuna que o encenador Ricardo Pais quer colmatar com o espectáculo “Cabelo Branco é Saudade”, amanhã à noite no grande auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG). Os quatro são acompanhados por Bernardo Couto (guitarra), Diogo Clemente (viola) e Nando Araújo (violabaixo).

Esta co-produção do Teatro Nacional de S. João e LadoB-Produções traz à ribalta o fado “esquecido” nas vielas vadias do Bairro Alto ou de Alfama, que albergam autênticas escolas de canto e intérpretes “insuspeitos” que «só esporadicamente saem para os palcos, aí revelando a raridade das suas escolas», refere o criador de “Cabelo Branco é Saudade” no texto de apresentação do espectáculo. «Este projecto parte da constatação de que alguns fadistas vivem uma vida inteira dentro das casas de fado e nunca passam, de facto, pelos circuitos da boa gravação, dos bons estúdios, da boa produção discográfica nem dos melhores circuitos de divulgação», explicou depois Ricardo Pais numa entrevista ao crítico musical João Lisboa. É o caso de Argentina Santos. Nascida na Mouraria (1926), só muito recentemente, por opção pessoal, decidiu interpretar fado fora do “seu” palco. Desde a década de 50 que canta n’”A Parreirinha de Alfama”, o restaurante típico que dirige desde 1950 e contracenou com alguns dos fadistas que marcaram a história do fado como Berta Cardoso, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Celeste Rodrigues, Mariana Silva, Maria da Fé, entre muitos outros.

Já Celeste Rodrigues demonstrou que a sua profissionalização não se devia ao facto de ser irmã de Amália, mas à forma sentida como interpreta o reportório tradicional ou os originais. Alguns dos seus temas foram sucessos de vendas e são agora clássicos. A fadista privilegiou a vida familiar, mas mantém a sua ligação ao fado através de “A Viela”, de que é proprietária desde 1959. Alcindo de Carvalho é outro dos intérpretes que emergiu das casas de fado. Nasceu no Bairro Alto em 1932 e, a convite do guitarrista Carvalhinho, cantou no restaurante “Márcia Condessa”. Mais tarde passou pela casa “A Faia”, onde se apresentou ao longo de 14 anos ao lado de Lucília e Carlos do Carmo e Alfredo Marceneiro. Posteriormente transitou para “A Parreirinha de Alfama” e, mais recentemente, para o Clube de Fado. Foi homenageado em 2004 com o Prémio de Carreira, atribuído anualmente pela Casa da Imprensa. Muito mais jovem que os restantes, Ricardo Ribeiro, com apenas 24 anos, tem já um vasto currículo. Começou a cantar aos 9 em diversas colectividades culturais de Lisboa e venceu “A Grande Noite do Fado” em dois anos consecutivos. Actuou no restaurante “Os Ferreiras”, no “Café Luso” e n’”O Faia”. Actualmente canta todos os dias na casa de fados “Marquês da Sé”. Jovens são também os guitarristas, com destaque para Diogo Clemente, que acumula a direcção musical com a viola de fado.

Luis Martins

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