Trancoso foi a capital gastronómica do Nordeste da Beira no último fim-de-semana por ocasião da terceira edição da Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato. Apesar da chuva e da neve terem feito uma inesperada visita, afastando possíveis visitantes, foram muitos aqueles que passaram pelo Pavilhão Multiusos da Aldeia Histórica. Os enchidos, queijos, vinhos, azeites, pão, doces regionais e produtos artesanais estiveram assim em destaque num evento que veio para ficar.
Logo à entrada, os visitantes depararam-se com uma tentadora proposta a que muitos não puderam resistir: uma chouriça, uma moira, um farinheiro e uma morcela, tudo por cinco euros. «É o que está a sair mais», dizia António Plácido, da Casa da Prisca. Também os presuntos estiveram em plano de destaque em muitos dos cerca de 70 expositores do Douro Superior e Terras do Côa até ao sopé da Serra da Estrela e às margens do Alto Zêzere que marcaram presença no certame. O bucho, o paio, o salpicão ou a barriga fumada foram outras das iguarias que aguçaram o apetite de quem por ali passou. Tudo regado com azeite e os bons vinhos das várias adegas cooperativas que estiveram representadas na feira, organizada pela Associação Empresarial do Nordeste da Beira (AENB), Cooperativa Bandarra e Raia Histórica – Associação de Desenvolvimento do Nordeste da Beira. Como não poderia deixar de ser, o queijo Serra da Estrela marcou presença em grande escala com uma série de stands ocupados por produtores locais. Para acompanhar os saborosos enchidos e o queijo, também não faltou o pão tradicional da região. Os doces estiveram igualmente muito bem representados, caso das sardinhas doces de Trancoso. A meio do primeiro dia do evento estavam a «vender-se bastante bem», confessou Luís Canaveiro, um comerciante que já tinha participado nas duas primeiras edições, referindo que «apesar da chuva já aí estiveram pessoas do Porto e disseram que a feira estava muito bem recheada».
Outras especialidades menos conhecidas, mas não menos saborosas, foram os bolos de carne, de bacalhau, de mármore ou os esquecidos e as cavacas. A provar que um bom doce sabe sempre bem, um dos stands com mais procura e que mais trabalho teve foi o de uma doçaria de Torre de Moncorvo que confeccionou doces no local. A oferta era muita, mas sempre com o mesmo ingrediente em comum, a amêndoa. Assim, muitos visitantes não resistiram a comprar flores de amêndoa, barcos, delícias, estrelas, negritos, palitados ou queijadas. Quem não quis esperar por chegar a casa para saborear os produtos tradicionais pôde petiscar logo algumas das iguarias típicas da região num dos restaurantes improvisados no local. Depois, de barriga bem recheada, nada melhor do que um digestivo conventual de Lamego, «que dá bastante prazer a beber», por apenas um euro o cálice. Um dos licores que mais chamou a atenção do público tinha por designação “Avantajado”, que Emanuel Guedes explica: «Tradicionalmente, dizia-se que avantaja qualquer coisa no homem…», soltando uma sonora gargalhada. Mas houve mais bebidas com nomes sugestivos, caso do “Arrebimba o Malho” ou o “Carinho”. No mesmo stand desta colectividade de Lamego, os visitantes puderam ainda adquirir chás provenientes de agricultura biológica. Também as peças de artesanato, de Portugal e Espanha, estiveram representados, havendo até um artesão a fazer peças de cerâmica ao vivo. A animação musical também não faltou ao longo dos dois dias da Feira com a actuação de vários agrupamentos da região.
Ricardo Cordeiro