O solar Teles de Vasconcelos

Escrito por Francisco Manso

“Após o casamento instalou-se na Guarda, onde para além da advocacia, veio a ser Procurador à Junta Geral do Distrito, Presidente da Câmara e Conselheiro do Distrito da Guarda. “

Teles de Vasconcelos

António Teles Pereira de Vasconcelos Pimentel, filho de Manuel Maria Soares Teles e Tavares e de D. Maria Rita Pereira de Vasconcelos de Azevedo e Melo, nasceu a 26 de agosto de 1832, na Quinta das Bouças, Santa Cruz de Alvarenga, concelho de Arouca.

1. António Teles de Vasconcelos, retrato por Malhoa. Assembleia da República.

1. António Teles de Vasconcelos, retrato por Malhoa. Assembleia da República.

Em 1857 formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, e no ano seguinte, tendo aderido ao Partido Regenerador, é eleito deputado às Cortes, dando início a uma vida política de sucesso.
Pouco depois, em 1863, casou no Porto com Josefa Cândida da Cunha Osório Pignatelli, nascida em S. Vicente, Guarda, a 15 de março de 1841. Filha de Joaquim da Cunha Freire Robalo Pignatelli da Gama Sotomaior, da Guarda, e de D. Maria José Tavares Osório Cabral, de Santo Estêvão, Sabugal.

Após o casamento instalou-se na Guarda, onde para além da advocacia, veio a ser Procurador à Junta Geral do Distrito, Presidente da Câmara e Conselheiro do Distrito da Guarda. Muito ligado à Guarda e ao Sabugal, às suas gentes e às suas instituições, foi sempre muito empenhado em tudo o que lhes dizia respeito, nomeadamente à rede de estradas e ao caminho-de-ferro. Amigo do Barão de Mogadouro, das Freixedas, apoiou a construção da estrada da Guarda para Pinhel, e a ele se deve a estrada que, passando por Santo Estêvão, se dirige ao Sabugal e Aldeia da Ponte. Esta estrada teve várias vicissitudes, adiamentos e avanços, e alteração de percurso, nomeadamente o que fez com que a via passasse mesmo ao lado do seu palacete em Santo Estêvão.

2. Josefa Cândida

2. Josefa Cândida da Cunha Osório Pignatelli

 

Foi deputado em sete legislaturas desde 1870, sempre pelo círculo da Guarda, governador civil de Coimbra, Secretário do Tribunal de Contas, vogal do Supremo Tribunal Administrativo, presidente do concelho de administração da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, ministro, Par do Reino, Presidente da Câmara dos Dignos Pares do Reino, entre outros cargos de relevo. Figura de primeiro plano da política portuguesa da segunda metade do século XIX, pertenceu sempre ao Partido Regenerador embora na sua última intervenção na Câmara dos Pares (8.3.1907) tenha declarado que não estava filiado em nenhuma das organizações partidárias.

Solar Teles de Vasconcelos

Após o casamento instalou-se na Guarda, mas não tendo casa apropriada decidiu adquirir um edifício já construído. O casal escolheu uma casa com alguma sumptuosidade e que era, por certo, uma das melhores da cidade e, mais a mais, tinha a vantagem de se encontrar disponível.
Estas “casas nobres” tinham sido construídas por volta de 1780, pelo presbítero do hábito de S. Pedro, Joaquim Xavier Pereira da Silva Rua, natural de Alverca da Beira, Pinhel, mestre-escola na Sé Catedral da Guarda, onde passou a residir e veio a morrer no dia 5 de setembro de 1832. Fez testamento, pelo qual constituiu como sua única herdeira, D. Cassilda de Lencastre, filha de sua irmã, D. Teresa Rua, que passou, desta forma, a ser a proprietária do solar. Será ela, D. Maria Cassilda Coutinho de Lencastre, que em 1869 irá vender “a sua casa de morar sita à Fontinha com a sua cerca e mais pertenças” por um conto e duzentos mil réis a António Teles de Vasconcelos. Tinha acabado de nascer o “Solar Teles de Vasconcelos”.

3. Solar Teles De Vasconcelos

3. Solar Teles de Vasconcelos, na Guarda.

António Teles de Vasconcelos, de acordo com a sua vida política, tinha passado a residir em Lisboa, mas vinha regularmente à sua casa da Guarda. Morreu subitamente em Lisboa, no dia 13 de maio de 1907, precisamente quando se preparava para vir para a Guarda, onde já se encontrava a esposa, aguardando a visita da Família Real, que vinha inaugurar o Sanatório Sousa Martins.
D. Josefa Cândida faleceu na Guarda a 23 de agosto de 1923 e o edifício passou, por herança, para o Eng. Manuel da Câmara Leme Teles de Vasconcelos e sua mulher, Maria Egipcíaca Franco, que em 1971 o venderam ao médico oftalmologista, Dr. José Monteiro Paiva, por 800 contos. Anos depois, em 1978, o solar foi adquirido pela Câmara Municipal, que nele veio a instalar, em 1986, a Biblioteca Municipal, que ali se manterá até 2008.

O Brasão

Muito deu que falar. Joaquim Xavier, tendo direito a usar brasão de armas, não deixou de usar essa prerrogativa mandando-o colocar na frontaria da sua bela casa. Teles de Vasconcelos também tinha esse direito, já seu pai o tinha, mas talvez por desavenças familiares entre ambos, relacionadas com o seu casamento, chegando a ser deserdado, nunca mandou substituir a pedra de armas. Daí a confusão.

Brasão

*Investigador da história local e regional

Sobre o autor

Francisco Manso

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