Se o leitor não sabe que o exército russo invadiu a Ucrânia ainda não aprendeu a dizer Zaporizhzhia e não faz ideia de quem seja Dmytro Kuleba, não só o leitor anda a passar muito tempo na Playstation, como é mais feliz do que muitos de nós, afastado que está das imagens de uma das guerras mais feias a que já assisti, mais precisamente aquela que, nos estúdios da SIC, opõe Alexandre Guerreiro a os outros comentadores. Paralelamente, a Rússia controla já algumas cidades da Ucrânia e o pensamento de alguns comentadores da televisão portuguesa.
Num dos debates, ouvi uma referência a uma teoria conhecida que afirma que dois países onde exista McDonald’s nunca entrariam em guerra um com o outro. Essa teoria da “fast food”, que agora se provou totalmente equivocada, é também bastante desrespeitosa porque não tem em conta que o presidente da Ucrânia não come bifanas.
Se o leitor não faz ideia do que estou a falar e passa grande parte do tempo na consola agarrado a jogos de guerra, nem sequer dará conta se o jogo for abaixo e a televisão mudar automaticamente para um dos canais de notícias. Pode até dar-se o caso de rebentar uma central nuclear e o leitor não averbar pontos. Nesse caso, pode ser melhor tomar algum remédio para desintoxicar.
A invasão russa preocupa-me muito porque está a destruir um país, porque pode não parar pela Ucrânia e porque mais de cem mil soldados russos atravessaram a fronteira sem apresentarem certificado de vacina anti-Covid. Além disso, ninguém usa máscara na cara. O ano passado, quando visitei Kyiv e Odesa, cheguei a pensar que a Ucrânia só se safava se a nossa GNR entrasse por ali dentro e forçasse o governo de Zelensky a abdicar da liberdade de viver sem os atilhos das máscaras cirúrgicas.
Alguns amigos perguntam-me se não temo uma guerra nuclear. Respondo que sim, mas que ao mesmo tempo me sinto muito protegido pelo Governo, porque à primeira fuga de gás, mesmo que não seja radioactiva, a directora-geral Graça Freitas fecha-nos logo todos em casa.
O Governo português, exemplarmente, abriu um programa de emprego para pessoas fugidas da guerra na Ucrânia. Mas como Portugal é um país que não admite injustiças, embora só as mulheres é que possam sair da Ucrânia, o IEFP não se comove e exige que as empresas respeitem a igualdade de género na contratação.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia