Não há nada pior para um político do que as pessoas perceberem que ele não está a ver o filme. Vê-lo dizer uns lugares-comuns e passar ao lado do verdadeiro potencial que um assunto encerra. Tem sido assim o presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, sobre a exploração de lítio no concelho.
Não vem mal ao mundo por Sérgio Costa difundir comunicados a defender «mais estudos» sobre a prospeção de lítio no território do município para «aferir se não trará mais desvantagens que vantagens». É simplesmente ingénuo, curto, mais próprio de um autarca de província do que do presidente de uma cidade média ambiciosa como a Guarda.
Comecemos pelo lítio propriamente dito. A transição digital está a transformar o mundo, alterando a forma como trabalhamos, produzimos, consumimos ou comunicamos: no fundo, a forma como vivemos. A inteligência artificial, a robótica, o 5G, etc., são centrais nesta transformação em curso. No entanto, os seus desenvolvimentos só serão viáveis se houver componentes, nomeadamente baterias, que tornem viável esse aceleramento da digitalização: ora, lítio é um elemento imprescindível desses componentes!
O lítio será, por isso, uma matéria-prima crucial nas próximas décadas, razão pela qual quem o detém se deve concentrar em duas coisas simples: minimizar ao limite os danos ambientais decorrentes da sua exploração; e maximizar o valor acrescentado que o lítio pode deixar no território onde é extraído, o que só se conseguirá com a instalação de unidades industriais de refinação avançadas, que tragam consigo emprego altamente especializado, sobretudo nas áreas da engenharia, da química, da logística, etc.
O ponto é que, sobre isto, Sérgio Costa nada falou e nada fez. Falou em «mais estudos» em vez de tentar atrair os investimentos na indústria e nos serviços para a Guarda, falando com os investidores europeus e mundiais neste negócio. À Guarda não faltam vantagens competitivas: das seis zonas viáveis para explorar lítio em Portugal, cinco situam-se no distrito da Guarda, quatro delas no próprio concelho.
Dizer isto não é desvalorizar os riscos ambientais! Pelo contrário, a exploração do lítio na Guarda exigirá requisitos rigorosos de controlo, monitorização do processo operacional, grande segurança e o aumento da qualidade dos indicadores ambientais atuais.
A grande questão, porém, não é essa. A grande questão é não deixar para outros concelhos do país o valor acrescentado que irá ser gerado pelo lítio que a Guarda tem no seu subsolo. O filme que importa é este! E é uma pena que Sérgio Costa não o esteja a ver…
* Dirigente sindical