Sociedade

«Quando vamos lá para fora, nunca voltamos iguais»

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Escrito por Efigénia Marques

Sandra Ferreira, uma guardense que partiu à aventura pelo mundo para ser formadora de jornalismo em Dili

Sandra Ferreira nasceu no Barracão (Guarda) e é mais uma guardense que partiu à aventura pelo mundo, estando atualmente a viver em Dili, capital de Timor-Leste.
Estudou até aos 17 anos na Secundária Afonso de Albuquerque, saiu depois para Viseu e posteriormente para Coimbra, para estudar Jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade. «Aquilo que tenho mais presente dos momentos em criança são de brincar, das minhas amigas de infância, de andarmos nas linhas de comboio, na estação do Barracão/Sabugal, de brincarmos todas juntas», recorda Sandra Ferreira.
Irmã de Madalena Ferreira, jornalista da SIC na Guarda, assume ser possível que «o “bichinho” do jornalismo» tenha surgido da irmã. «Ela já fazia rádio e na altura houve um casting para novas vozes na Rádio Altitude. Confesso que nem ia muito entusiasmada, mas lembro-me que, quando estava a fazer o casting, pensei “se calhar até vou fazer isto” e acabei mesmo por ser selecionada e nunca mais parei», adianta a jornalista. A Rádio Altitude foi a sua primeira casa, rumou depois «à concorrência» [Rádio F] antes de seguir para Viseu, «para reativar uma rádio local».
Sandra Ferreira partiu posteriormente para Roma, ao abrigo do programa Erasmus, tendo estado na Rádio Vaticano. «Foi um ano, mas foi muito gratificante, uma grande experiência, porque a Rádio Vaticano trabalha com quase 40 nacionalidades, há muitas culturas e é um mundo diferente», confessa a guardense, para quem uma das barreiras na capital italiana foi a língua. «Lembro-me que nos primeiros tempos eu não conseguia comunicar. Os italianos não sabiam inglês, não sabiam francês, não sabiam espanhol e essas eram as línguas em que conseguia comunicar, então tive que aprender o italiano depressa e bem. Teve de ser tudo muito rápido», admite a jornalista.
Apesar de terem sido tempos intensos, quando chegou a oportunidade de ficar em Roma, Sandra Ferreira não quis e preferiu ter «outras experiências», tendo regressado a Portugal. «Estive a ganhar experiência na imprensa portuguesa, estive no “Público”, no “Jornal de Notícias” e em junho de 2021 vi um anúncio interessante para ser formadora em Timor-Leste. Concorri, mas sem grandes esperanças, confesso, e passado uns dias fui fazer entrevista e acabei por ser escolhida», lembra. Atualmente Sandra Ferreira é formadora na área do jornalismo em Timor-Leste. «Foram sete meses muito intensos porque não é só dar formação. É um país onde está tudo por fazer e, portanto, era preciso fazer um estudo dos meios de comunicação social, criar instrumentos de análise para perceber as necessidades formativas dos jornalistas, criar os planos de formação, os manuais e isto tudo obrigou a um grande foco, de manhã à noite», garante.
A jornalista assume que foram tempo difíceis e confirma que «quando vamos lá para fora nunca voltamos iguais», por diversos fatores. «Quando aterrei em Dili não foi um choque, sabia mais ou menos o que ia encontrar, mas uma coisa é aquilo que vemos na televisão, outra é o que vamos vendo aqui. Talvez aquilo que me surpreendeu mais tenha sido a pobreza, se bem que é uma pobreza que não é sentida da mesma forma como nós a sentiríamos. Encontramos gente a tomar banho nos esgotos, há esgotos a céu aberto em plenos passeios, há um grande contraste, mas é um país pobre em que, ao mesmo tempo, as pessoas parecem felizes, sempre sorridentes, sempre muito afáveis, porque aprenderam a viver com aquilo que têm e isso é realmente uma grande lição para todos nós», conclui a formadora.
Sandra Ferreira tem saudades da família, assim como da gastronomia guardense, mas do que mais sente falta é «da civilização, de ir na rua e sentir que está tudo limpo, que as coisas funcionam, acho que valorizamos as pequenas coisas de outra maneira».

Sobre o autor

Efigénia Marques

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