Entre falinhas mansas e tolerância máxima, os novos protagonistas lá foram dizendo, de forma levezinha, para não magoar, algumas coisas pesadas, desfilando, à boa maneira de Rui Veloso, entre grinaldas e velhos heróis de alfinete, trazendo debaixo das fraldas muitos índios de gabinete nesta pequena pátria de tantos feitos.
Em discursos elaborados e politicamente correctos, os tais que agradam ao eleitorado, com promessas de uma revolução copérnica, em contexto cínico de socráticos menores, recriaram um pequenino momento maquiavélico onde o argumento das eleições já lá vai sendo preciso trabalhar com todos: as instituições, os partidos políticos, a saúde, o ensino, a participação da sociedade civil, a interligação com a imprensa, abraçando a plenitude democrática, excluindo as suposições predominantes do passado, trazendo ao de cima sentimentos de quem diz o que (não) sente, neste ensejo feliz de controlo eficaz da linguagem.
Claro está que para trás ficaram as eleições. Já lá vão. Já são passado. Mas… Há feridas. Feridas essas que necessitam de tratamento e não se podem esconder. Nem com o sol que hoje não há, nem com a peneira que efectivamente não têm.
Mais cedo ou mais tarde os culpados serão julgados nas estruturas, agora mais que esfrangalhadas, onde os efeitos indeléveis da insalubridade colocaram a (in)competência política acima do interesse partidário e do burgo, fazendo com que o pior/melhor tivesse acontecido, mesmo percebendo que para se ser político é absolutamente necessário ter uma certa dose de jeito. E, sinceramente, há quem não o tenha. Há quem se julgue, mas efectivamente não nasceu para isto.
E depois: Erros de cálculo? Erros técnicos? “Fake news”? Ódios e invejas recalcadas? Faca e alguidar? Ou mais outras tantas para aguentarem a sustentação do sistema cínico, que, sob a forma de avanços e recuos, solavancos, uns avançaram com a prestimosa presença cultural de alguns títulos académicos e lugares importantes de importação e de arautos de outros projetos noutras paragens, enquanto outros não entenderam que a travessia do deserto é longa, penosa e difícil, sim, esses mesmos que anteriormente foram defensores acérrimos do protagonista e das práticas contrárias aquilo que hoje defenderam.
Perante o ridículo da situação, o resultado salta à vista: partidos fragmentados, esfrangalhados, tentando camuflar as suas incapacidades num processo que, mais dia menos dia, trará ao de cima o rosto de uma corja tisnada de laranja azeda e rosa completamente desmaiada. É inevitável.
Por fim e no revés da medalha, damos conta da necessidade de ajustamento nas governações. Tem de ser feito com cabeça, tronco e membros, com cálculo, sem calculismos, com consciência e a tranquilidade necessárias para que os adversários de ontem, com o intresseirismo que os caracteriza, não sejam os “amigos” da solução oportuna do oportuno do amanhã.
A crónica de hoje só pode terminar assim: O movimento associativo está de luto.
Ao Norberto Gonçalves.
O politicamente (in)correto da tomada de posse / Efeitos colaterais
“Claro está que para trás ficaram as eleições. Já lá vão. Já são passado. Mas… Há feridas. Feridas essas que necessitam de tratamento e não se podem esconder. “