A Feira Concurso do Jarmelo regressa este fim-de-semana ao Alto do Jarmelo para a 39ª edição. A iniciativa que pretende promover a raça autóctone da vaca e cabra jarmelistas começa este ano com uma atividade «diferente», segundo o presidente da Junta de Freguesia de São Pedro do Jarmelo, António Santos.
Esta sexta-feira há um concerto de música medieval na Igreja de São Miguel, seguido de um jantar medieval, cuja participação carece de inscrição até 1 de junho, na Junta ou no Museu da Guarda, e tem um custo de 10 euros. Depois do jantar haverá teatro na Igreja de São Pedro. Já no sábado realizam-se as «visitas guiadas ao castro do Jarmelo» durante a manhã e no domingo decorre a feira propriamente dita, com o 39º Concurso Nacional Bovino da Raça Jarmelista. O presidente da Junta adianta que o evento abre «por volta das 8 horas da manhã com a receção dos criadores. Temos dois grupos itinerantes que vão animar a festa – um grupo de bombos e outro de concertinas». Posteriormente serão classificados os animais a concurso e entregues os prémios, seguido de um almoço com vaca jarmelista para os criadores.
«De tarde há a tradicional garraiada e durante o dia temos sempre as visitas ao castro, artesanato junto ao museu, comes e bebes, roupas, calçado, a parte agrícola com máquinas e tratores e animais (bovinos, ovinos e caprinos)», lembra António Santos. O autarca espera ter cerca de «seis a sete mil visitantes, pelo menos», que é o que «tem vindo a acontecer nos últimos anos». Mas se as condições climatéricas forem favoráveis, «a Feira do Jarmelo vai ser igual ou melhor que nos anos anteriores», vaticina António Santos. A 39ª edição da Feira Concurso do Jarmelo é organizada pelas duas Freguesias do Jarmelo (São Miguel e São Pedro), a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo e a AcriGuarda, com o apoio da Câmara da Guarda. O evento integra o ciclo de Festivais de Cultura Popular, promovido pelo município.
A luta contra a extinção da vaca Jarmelista
As vacas de raça jarmelista já estiveram quase em extinção, mas com o esforço de várias pessoas e entidades, a tendência inverteu-se. A luta de Agostinho da Silva, professor de artes visuais, sindicalista e ex-presidente da Junta de Freguesia do Jarmelo, contra a extinção da jarmelista começou no «final do século passado, em 1999, quando me convidaram a participar num evento, uma mordomia, que juntava umas quantas pessoas amigas».
Na altura, Agostinho da Silva não percebeu o potencial da vaca jarmelista, mas mais tarde, «o meu pai falou-me de que havia uma raça de vacas amarelas que era interessante tentar recuperar» e, com os amigos que participaram na mordomia, «começámos por fazer o ”show-off” à volta da raça e foi correndo bem».
Olhando para trás, o ex-presidente da Junta de Freguesia do Jarmelo socorre-se de Fernando Pessoa para dizer que «o esforço vale sempre a pena quando a alma não é pequena». Agostinho da Silva constata que se conseguiu travar a extinção da vaca jarmelista, mas que essa luta «foi fruto do trabalho de muita gente».
No início o objetivo era que as pessoas «recebessem algum dinheiro, uma vez que estavam a fazer um esforço por manter um legado genérico que nos foi transmitido de geração em geração». E isso foi conseguido: «Houve benefícios a serem integrados nos financiamentos dos fundos comunitários do Ministério da Agricultura e por aí fora… Além de uma coisa que não se mede – a sensação de pertença a um território e autoestima das gentes do Jarmelo e arredores», sublinha agora. «Hoje, toda a gente tem no seu mapa de memória que o primeiro domingo de junho é no Jarmelo», conclui Agostinho da Silva.
O médico veterinário da ACRiguarda – Associação de Criadores de Ruminantes do Concelho da Guarda, José Manuel Nunes, adianta que, em 2007, recomeçaram a luta contra a extinção da vaca jarmelista. Nesse ano a ACRiguarda registava 23 fêmeas e três machos jarmelistas. Fizeram-se «estudos comparativos, uma vez que havia diferenciação entre a vaca jarmelista e outras raças» e começou a implementar-se o «livro genealógico», pelo que todas as crias de vaca jarmelista têm de ter «pai e mãe jarmelista para não haver mistura nas raças».
Em 2023, 16 anos depois, José Manuel Nunes partilha os dados com alegria, visto que agora estão sinalizados entre 450 a 500 exemplares de vaca jarmelista, de 23 criadores de gado. O veterinário especifica que 90 por cento dos criadores estão no concelho da Guarda, mas também há alguns espalhados por Pinhel, Penamacor, Montemor-o-Novo e Golegã. «A raça jarmelista ainda está em vias de extinção, mas já não se vai extinguir», acredita José Manuel Nunes, uma vez que há cerca de «20 a 30 fêmeas por criador». A produção da vaca de raça jarmelista «está num bom caminho», tendo em conta «todas as ajudas que há, incluindo o apoio facultado pela Câmara da Guarda há já seis anos». O médico veterinário garante a O INTERIOR que «há muita procura» pela carne de vaca jarmelista, «quer na restauração, quer nos talhos e, por isso, estamos num bom caminho». E no domingo todos os caminhos vão dar ao monte do Jarmelo.
Sofia Pereira