Estalou o verniz na Câmara da Guarda. O presidente Sérgio Costa vai processar o vereador do PSD, Carlos Chaves Monteiro, alegando ter sido insultado na última reunião quinzenal do executivo, realizada na segunda-feira. A sessão decorreu à porta fechada – apenas a última reunião do mês é pública –, mas, de acordo com os protagonistas, teve que ser interrompida por «alguns minutos».
O confronto verbal começou ainda no período de antes da ordem do dia, após o vereador social-democrata ter questionado o executivo sobre uma exposição e um pedido de esclarecimento de uma munícipe relacionado com uma obra em curso na Rua Maria das Dores Sampaio, no centro histórico. Chaves Monteiro quis saber porque não foi dada «qualquer resposta» à requerente e o que estava a fazer o município para resolver a situação. «O presidente começou por imputar culpas ao anterior executivo, dizendo que este processo era de 2020, e quando estou a explicar o que está em causa fui interrompido. O tom elevou-se porque fui interpelado, mais uma vez, com uma falsidade e uma mentira», justificou Chaves Monteiro aos jornalistas no final da reunião.
O antecessor de Sérgio Costa afirmou que o processo «entrou em 2022 e é da exclusiva responsabilidade do atual executivo», não sem antes lembrou que o autarca atual teve o pelouro das obras «durante sete anos, até 2020». «Eu não estou refém do passado e o presidente não está livre do passado», constatou o vereador da oposição, afirmando que o PSD «não se compadece com mentiras e não permitirá mais que o presidente da Câmara se dirija aos vereadores com falsidades e mentiras».
Sérgio Costa apresentou outra versão deste «episódio muito triste, muito grave», e acusou Carlos Chaves Monteiro de o ter insultado: «Sofri insultos, injúrias, está tudo gravado e em ata, e tive que interromper a sessão por alguns minutos para que o vereador do PSD se acalmasse, parasse de estar aos berros na sala», declarou aos jornalistas após a reunião do executivo. O edil independente revelou ainda ter pedido aos serviços a extração de uma certidão para ser enviada ao Ministério Público. «Um presidente da Câmara da Guarda jamais poderá ser insultado por quem quer que seja, muito menos por um vereador desta casa», considerou, ficando a aguardar que o procedimento siga os seus trâmites. «Esperemos que sirva de lição para que as coisas possam seguir o caminho da democracia e não o da opressão ou outros», concluiu Sérgio Costa.
Câmara apoia bombeiros de Fornos com 7.500 euros
Polémica à parte, o executivo aprovou, por unanimidade, a atribuição de um apoio de 7.500 euros aos bombeiros de Fornos de Algodres para ajudar na aquisição de uma viatura que substitua a que ardeu no incêndio da Arrifana. «Temos conhecimento que as Juntas de Freguesia afetadas pelo fogo já estão também a mobilizar-se para apoiar a corporação, que sofreu um dano irreparável», disse o autarca guardense. A Câmara também adjudicou a criação de caminhos de ligação aos Passadiços do Mondego e aprovou a instalação de módulos de apoio. «São as casas de banho e pequenas zonas de apoio e armazenagem, tudo aquilo que não foi feito desde 2020 e que conseguimos fazer em oito meses, e já estão licenciados. Não percebemos porque não se fez antes, porque as leis e as instituições são as mesmas», criticou Sérgio Costa, que mantém o objetivo de abrir os Passadiços «até ao final do Verão».
Hotel Turismo decidido até ao final do ano
Sérgio Costa continua confiante numa solução «até ao final do ano» para o Hotel Turismo, inaugurado há 75 anos e fechado há 12.
«Estamos a trabalhar em estreia parceria com a tutela para isso. Se não acontecer teremos que avançar para o plano B, que é, conforme a moção aprovada na Assembleia Municipal de abril, a reversão do edifício para o município», disse o autarca a O INTERIOR, escusando-se a falar na eventual alteração do uso do imóvel. «Todos queremos que o hotel reabra, mas ainda vão passar anos porque é preciso fazer projetos e obras», acrescentou. Sobre esta matéria, Chaves Monteiro afirmou que se «anda a iludir os guardenses» porque «dizer que o assunto estava bem encaminhado não é nada». «O que é preciso saber é se foi lançado outro procedimento ou outra forma de conseguir potenciais interessados», apontou, pedindo «mais empenho» do executivo.
Nesta sessão a Câmara aprovou um protocolo com o Comando Territorial da GNR para a requalificação da entrada do quartel da Guarda e deliberou isentar de taxas os comerciantes do mercado de São Miguel até à conclusão das obras em curso. O executivo autorizou ainda a empresa Tubitorno a vender um lote que possui na plataforma logística à Polidocasip, que fabrica residências modelares. «É um bom investimento, mas a seu tempo a empresa falará sobre ele», disse apenas o presidente do município.
Obra do Pavilhão 5 consignada «nas redes sociais»
O presidente da Câmara lamentou ter sabido «pelas redes sociais» da assinatura do ato de consignação da empreitada do Pavilhão 5 do Hospital Sousa Martins.
«Poder-se-ia pedir que fosse uma cerimónia pública, afinal de contas a região da Guarda está à espera daquela obra há vários anos e fez-se uma cerimónia pelas redes sociais», criticou, confirmando não ter sido convidado para a cerimónia. «A administração hospitalar lá saberá porque fizeram assim», acrescentou, adiantado ter já pedido explicações para o sucedido. «É uma obra importante para a Guarda e para toda a região, mas devo lembrar que houve um compromisso eleitoral nas últimas legislativas para as obras da totalidade da segunda fase do Hospital Sousa Martins. Faltam quatro anos para o fim desta legislatura, esperemos que isto seja uma realidade até lá», sublinha Sérgio Costa.
«Investimento não é uma opção deste executivo»
Na segunda-feira, o executivo tomou conhecimento da terceira alteração orçamental, o que deixou Chaves Monteiro «preocupado».
«Agora sim, há mais de um milhão de euros para investir nas Juntas de Freguesia e não há um mês, como disse o presidente da Câmara», assinalou o vereador do PSD, que também diz resultar desta alteração «a falta de vontade» do executivo em investir. «São cerca de 2,5 milhões de euros que retira de despesas de capital, ou seja, investimentos que estavam previstos no orçamento inicial. Desde logo em escolas, construções diversas, equipamento básico e equipamento de recolha de resíduos. O investimento não é uma opção do executivo nesta terceira alteração, ao contrário, há um reforço de 20 mil euros para 110 mil euros da rubrica que tem a ver com prémios, condecorações e ofertas», ironizou.
Chaves Monteiro disse também ter ficado «perplexo com o desinvestimento» no Plano Municipal de Proteção da Floresta, cujo valor inicial era de um milhão de euros e que sofreu uma de 385 mil euros. Perante estas alterações, o eleito da oposição voltou a insistir que o orçamento municipal para 2022 é «o mais empolado dos últimos oito anos e de difícil execução».
Luís Martins