Sociedade

PS põe em causa «legitimidade política» de Chaves Monteiro na presidência da Câmara da Guarda

Escrito por Luís Martins

Eduardo Brito quer eleições antecipadas para a Câmara da Guarda por causa da anunciada saída de Álvaro Amaro da presidência para se candidatar a um lugar de eurodeputado em Bruxelas. «Isto é o PS nervoso, nem sequer o acalma a minha saída porque sabe que a equipa é forte», responde Álvaro Amaro.

A ideia foi lançada na última reunião do executivo, na segunda-feira, com o argumento de que Carlos Chaves Monteiro, vice-presidente do município, tem «falta de legitimidade política» para assumir a presidência a partir de 22 de abril, quando o atual edil suspender o mandato. «Isso vai sentir-se até ao final do mandato», augura o socialista.
No período de antes da ordem do dia da primeira reunião de Câmara após o anúncio da inclusão do autarca social-democrata na lista do partido às europeias em lugar elegível, os dois vereadores socialistas surpreenderam com elogios ao líder da maioria, mas tinham algo mais na manga. Em 2017, «Álvaro Amaro obteve uma maioria muito sólida, fruto de uma vitória esmagadora, que não serviu para nada porque ano e meio depois os guardenses são confrontados com esta opção política e sentem-se enganados», começou por dizer Eduardo Brito, para quem é agora preciso «voltar a devolver a palavra ao povo». O adversário derrotado nas últimas autárquicas justificou que a atual maioria PSD está «centrada na figura» de Álvaro Amaro, que teve «um grande peso» no resultado, pelo que a integração na lista às europeias «devia te consequências políticas» porque resulta numa «quebra de compromisso» para com os eleitores. Nesse sentido, Eduardo Brito desafiou o PSD a marcar eleições: «Se for respeitador dos guardenses, só tem essa saída», afirmou, recordando que na campanha sempre disse que «a política não pode ser para gestão de carreiras».
O vereador adiantou que o balanço deste ano e meio de mandato será feito «oportunamente» e garantiu que o PS, «desta vez, não terá problemas» para encontrar o candidato caso haja eleições. «Soluções não faltam, esse não vai ser um problema do PS», declarou. Por sua vez, Pedro Fonseca foi menos taxativo: «O amor de Álvaro Amaro pela Guarda passou e a sua palavra não ficará porque haverá obras que não se vão concretizar», considerou o socialista, segundo o qual o legado do autarca é «uma folha de perda de população, tanto em Gouveia como na Guarda, de investidores e de incapacidade para atrair empresas e fixar pessoas». Na resposta, Álvaro Amaro recusou a necessidade de novas eleições, reiterando que a maioria foi eleita em lista: «Somos uma equipa há cinco anos e quem fica são praticamente os mesmos que foram eleitos em 2013 e 2017, mais Lucília Monteiro e agora Cecília Amaro, a minha adjunta, que já era uma espécie de “vereadora sombra”», declarou. O presidente desvalorizou também a acusação de falta de legitimidade de Chaves Monteiro, dizendo que o futuro presidente tem «toda a legitimidade formal e política» para assumir o cargo. «Isto é o PS nervoso, nem sequer o acalma a minha saída porque sabe que a equipa é forte», contra-atacou. «Daqui por dois anos, o povo julgará», concluiu Álvaro Amaro.
Na sessão, o presidente esclareceu também que, por força da lei autárquica, a suspensão do mandato terá que ser formalizada na reunião de Câmara de 22 de abril e não na Assembleia Municipal da semana anterior. «Um candidato suspende, um eleito renuncia ao mandato», disse ainda, admitindo que não pode já renunciar ao mandato porque «não sei se serei eleito eurodeputado».

Moradores do Bairro da Fraternidade na Câmara

Nesta sessão, que foi pública, um grupo de moradores do Bairro da Fraternidade foi questionar o executivo sobre o andamento do projeto de reabilitação da zona.
Isto depois de Álvaro Amaro ter dito que era uma das obras que gostaria de ter feito e não conseguiu. «Era uma das prioridades, mas não consegui resolver esse problema que envergonha a Guarda. Este é um exemplo de lentidão da administração pública», disse há quinze dias, considerando que, pelo menos, lançou «as bases para resolver o caso». Na segunda-feira, o presidente voltou a declarar que não vai demolir as casas pré-fabricadas existentes no local enquanto não houver uma alternativa. «Estamos a fazer o estudo prévio para três lotes de apartamentos para alojar prioritariamente as famílias do bairro e depois quem estiver na lista do gabinete da Ação Social», revelou aos moradores. «A minha esperança é na equipa que vai ficar», acrescentou Álvaro Amaro, adiantando que a intervenção naquela área degradada da cidade só se concretizará «daqui a três anos, na melhor das hipóteses».
Da ordem do dia, o executivo aprovou por unanimidade a atribuição de cerca de 500 mil euros de apoios às associações culturais, desportivas e humanitárias do concelho, bem como a abertura do período de consulta pública da revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), que será de 60 dias por sugestão de Eduardo Brito. Por sua vez, Pedo Fonseca lamentou o número reduzido de sacos de pão entregues nas padarias e pastelarias da cidade, ao que Álvaro Amaro anunciou que a Câmara já encomendou «mais uns milhares de sacos» para distribuir.

CDS-PP desafia Álvaro Amaro a renunciar à presidência da Câmara

A distrital da Guarda do CDS-PP considera que Álvaro Amaro deve «renunciar de imediato» ao cargo de presidente da Câmara da Guarda por integrar as listas do PSD às europeias de maio.
A estrutura liderada por Henrique Monteiro argumenta que, «na política, como na vida, a ética deve ser um farol que padronize o comportamento das pessoas», por isso, havendo um candidato que é simultaneamente presidente de uma autarquia será «inconciliável a manutenção das funções de edil autárquico com essa mesma condição de candidato a um órgão da União Europeia». Os centristas da Guarda acrescentam, em comunicado, que o compromisso de Álvaro Amaro «não era com uma determinada reunião de Assembleia Municipal, mas sim com todos os que vivem e trabalham neste concelho do interior e por um mandato de quatro anos». Para o CDS-PP, a Guarda «foi apenas um degrau» no percurso político pessoal do autarca social-democrata e alega que o lançamento do Movimento Pelo Interior «foi apenas e somente uma ação de promoção do candidato ao Parlamento Europeu e que funcionou como uma espécie de campanha para esse mesmo efeito».

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