“Netos de Companhia” é o mais recente projeto da Delegação da Cruz Vermelha de Seia. Criado a 1 de março deste ano, os “netos” voluntários têm como missão promover o envelhecimento ativo.
Orlando Batista, presidente da instituição, é militar da GNR e isso ajudou-o a ter mais conhecimento desta realidade preocupante que a pandemia veio acentuar, motivando ainda mais a necessidade deste projeto. «Em conversa com os meus colegas do programa próprio para idosos, consegui perceber que existia esta falta», adianta. «Infelizmente, as IPSS não conseguem estar muito tempo com os idosos, o seu serviço não o permite. Os funcionários chegam e aquilo que fazem – que é muito importante – é entregar a comida ou a medicação e seguir para outras casas. Faltava este complemento para que pudéssemos chegar aos idosos e fazer esta intervenção», considera o militar de 41 anos.
Alvoco da Serra é a primeira freguesia do concelho de Seia onde os idosos estão a ser acompanhados pelos “Netos de Companhia”, que trabalham semanalmente com 34 idosos, num universo de 304 em todo o concelho. Devido à pandemia alguns dos projetos planeados ainda não saíram do papel, mas serão agora implementados com o retomar da normalidade. Por agora, apenas tem sido feito um acompanhamento no domicílio do “avô”, com todas as medidas de segurança exigidas pela Direção-Geral da Saúde (DGS). «Daqui para a frente temos esperança que as coisas vão melhorar e pretendemos fazer imensas atividades, de várias ordens, com este grupo de idosos», revela Liliana Ramos, coordenadora do projeto.
O objetivo destas primeiras visitas é criar uma relação de confiança com os participantes, «porque essa é a base deste projeto: criar uma proximidade entre avós e netos», acrescenta. E para que a delegação da Cruz Vermelha consiga acompanhar melhor cada idoso e, fazer um seguimento personalizado, numa fase inicial «fizemos uma ficha de avaliação diagnóstica, onde também temos em conta os interesses dos idosos e tentamos adaptar-nos o máximo possível aos seus gostos», afirma a licenciada em Sociologia. O “feedback” dos idosos e das suas famílias «tem sido muito bom», pois muitos deles já não se vêm há mais de um ano e os “Netos de Companhia” tentam fazer esse acompanhamento e transmitir certas informações aos familiares. «Quando chegamos ao terreno apercebemo-nos de que isto era realmente uma carência, havia mesmo necessidade de companhia», relata a jovem de 26 anos.
Envolver mais jovens no projeto
Essa mesma necessidade é sentida nas visitas domiciliárias: «Há muitos idosos que nos dizem que é pouco tempo», evidencia Liliana Ramos. Para além da GNR, também as Juntas de Freguesia têm sido um «apoio imprescindível» para a Cruz Vermelha de Seia conseguir prestar um melhor serviço de acompanhamento porque «muitos dos idosos não estão sinalizados pela GNR, então também foi importante falar com os próprios presidentes de Junta para que nos transmitissem a realidade deles, pois estão mais do que familiarizados com as pessoas» por se tratarem de aldeias pequenas e «onde toda a gente se conhece», sublinha Orlando Batista.
Um dos principais objetivos da iniciativa é chegar ao máximo de pessoas «para que ninguém fique para trás, é levar alegria sem exceção», assume o dirigente. Depois de Seia, o objetivo é chegar aos concelhos vizinhos, nomeadamente Gouveia e Oliveira do Hospital», acrescenta Liliana Ramos, para quem este é um projeto «de combate ao isolamento e à solidão, onde fazemos intervenções no local e no domicílio dos idosos para contribuir para um diagnóstico de necessidades e um acompanhamento de proximidade». Em média estão cerca de 20 pessoas como voluntários, com idades compreendidas entre os 14 e 60 anos, mas «quando começarmos a abrir para outras freguesias, há uma necessidade muito grande de ter mais voluntários», alerta.
Nesse sentido, Orlando Batista diz ser «muito importante» atrair mais jovens para o projeto. «Estamos a fazer algumas parcerias com o IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude) para ocupação dos tempos livres e com o Instituto de Gouveia, que tem um curso de animação sociocultural cujos alunos vão fazer estágio connosco», revela o responsável. O presidente da delegação da Cruz Vermelha de Seia admite que ainda há «um longo trabalho para fazer no concelho de Seia, porque são cerca de 300 pessoas, mas estamos a começar agora a abrir a freguesia de Loriga, que não tem muitas anexas, porém a ideia é começarmos a descer a Serra».