Com a pandemia surgiu também o ensino online e o confinamento. Foi uma nova realidade a que os jovens não estavam habituados e muitos deles não estavam preparados para passar infinitas horas sentados numa secretária à frente do computador. Tudo isto trouxe algumas consequências, uns sentem que o aproveitamento escolar diminuiu, outros conseguiram melhorar, mesmo sendo caso raro. O que quase todos os jovens ouvidos por O ONTERIOR dão como certo é que estão a perder aqueles que deviam ser os melhores anos das suas vidas, o que acaba por os afetar a nível psicológico.
Joana Santos, 18 anos, Pala (Pinhel)
Solicitadoria – Instituo Politécnico de Castelo Branco
Joana Santos entrou este ano no ensino superior. Passou pelo processo de candidatura em plena pandemia e se em tempos normais esse já é um procedimento que os jovens vivem com algum nervosismo e ansiedade, é normal que «na nossa candidatura vai ser tudo diferente e acaba por nos afetar psicologicamente», adianta a estudante de Solicitadoria. A ida para uma cidade desconhecida e viver uma realidade diferente, ainda por cima sozinha, foi uma adaptação que se tornou «difícil porque nos sentimos mais sozinhos e as oportunidades não são as mesmas. A pandemia impossibilita-nos de criar amizades e de conseguirmos ter contacto com a universidade, visto que as aulas são online», o que, para Joana Santos, complica ainda mais as coisas não só a nível escolar, mas também a nível pessoal.
Apesar do ano de caloira não estar a ser aquilo que Joana Santos idealizou, a jovem consegue retirar alguns benefícios e aprendizagens desta situação: «Os mecanismos de adaptação do estudo e da aprendizagem que fui obrigada a desenvolver, bem como a maturidade e responsabilidade que isso implicou, fizeram-me crescer pessoal e academicamente», acredita.
Mariana Costa, 21 anos, Fundão
Licenciada em Ciências da Comunicação – Universidade da Beira Interior (UBI)
A jovem de 21 anos, como tantos outros, está neste momento desempregada. Mariana Costa acabou a licenciatura em Ciências da Comunicação em junho de 2020 e decidiu fazer uma pausa nos estudos. «Já não tinha muita vontade de seguir para mestrado, mas depois do último semestre, em aulas online, senti que não aproveitei ao máximo o que as cadeiras e os professores tinham para me oferecer e escolhi parar antes de me meter num mestrado e pagar propinas para estar outra vez no regime que não me trouxe as potencialidades que poderia ter nas aulas presenciais», justifica a jovem fundanense.
Mariana Costa sente que a sua ansiedade aumentou devido ao descontrolo de horários que as aulas tinham: «Os professores, não sei se era para nos acompanharem mais, mas acabaram por não nos dar aulas certas. Eu cheguei a ter aulas online até as 23 horas, o que provoca um extremo cansaço», declara. O facto de passar o dia inteiro a ter aulas ou reuniões sem conseguir «ir à rua desanuviar um pouco» também não ajudou a que Mariana Costa conseguisse um grande aproveitamento escolar. Agora, estar parada em casa, também é causa de desmotivação para a recém-licenciada em Ciências da Comunicação: «Eu estou sem trabalhar e sem estudar. Farto-me de enviar currículos e a maioria das vezes nem uma resposta recebo e quando recebo são negativas. Tenho a plena consciência que não está fácil para ninguém, mas acabo por ficar desmotivada», confessa a fundanense. Entretanto, Mariana Costa decidiu candidatar-se a mestrado no próximo ano letivo porque «não se vê melhorias no mundo do trabalho e prefiro investir mais dois anos na minha formação do que ficar novamente em casa sem ocupação».
Pedro Ferreira, 20 anos, Manigoto (Pinhel)
Ciências do Desporto – UBI
Natural do Manigoto, Pedro Ferreira é um dos jovens que sente que a pandemia lhe está «a roubar aqueles que deviam ser os melhores anos da minha vida», afirma. Aluno do segundo ano de Ciências do Desporto, que inclui muitas aulas práticas, o curso acabou por se tornar mais difícil. «Estamos a pagar propinas para aprender, para termos aulas práticas, porque no futuro o nosso trabalho vai ser no terreno e não passar um dia inteiro à frente de um computador. E eu não tive a prática que é a essência do meu curso», lamenta. O facto de fazer serviço nos Bombeiros Voluntários Pinhelenses ajudou-o a lidar um pouco melhor com a pandemia, as suas alterações e incertezas. «Claro que no início também tínhamos muito medo não só de ser infetados, mas também de infetar alguém. Mas com o tempo isso relativizou-se um bocado porque sabíamos que estávamos expostos e se estivéssemos sempre a pensar nisso “panicávamos” e não conseguiríamos prestar o nosso melhor serviço quando fosse necessário socorrer alguém infetado», considera Pedro Ferreira.
Porém, o medo de infetar os amigos ou os familiares permanece muito presente na cabeça do futuro profissional do desporto. «Isto está a tirar-me o futebol», lamenta o também atleta sénior da UD Os Pinhelenses, segundo o qual o futebol distrital está a ser «bastante afetado» com todas as paragens provocadas pela pandemia.
Patrícia Costa, 22 anos, Guarda
Enfermagem – Instituto Politécnico de Bragança (IPB)
«Estagiar em plena pandemia tem sido assustador, mas também um desafio», confessa Patrícia Costa, que está no quarto ano de Enfermagem no Politécnico de Bragança, do qual fazem parte alguns estágios práticos.
O facto de já ter passado por alguns deu à futura enfermeira uma bagagem e as ferramentas necessárias para conseguir lidar melhor com toda esta situação. «Ajudou-me a não me alarmar, pois tentava ser crítica em relação ao que ouvia na comunicação social conciliando isso com os conhecimentos que já tenho», refere. Também por integrar a área da saúde, Patrícia Costa acrescenta que sente «que me preocupei o dobro ou talvez o triplo do que uma pessoa “comum” porque, como tinha passado por vários estágios, já conhecia e conheço bem a realidade que está por detrás das paredes de um hospital e o caos que se instala quando a afluência é maior do que a resposta que conseguimos dar».
Para a jovem guardense, o ensino online também a prejudicou e «não me está a dar nada de positivo ou vantajoso», principalmente nas aulas práticas, muitas das quais ficaram por lecionar.
Os estágios também não têm sido fáceis devido aos longos turnos que fazem, ao stresse a que estão submetidos e depois à falta de reconhecimento que os estudantes de Enfermagem têm sentido no processo de vacinação. Porém, «o que me move e o que me dá força é a recompensa daquilo que faço. Enfermagem é uma arte e ver um sorriso nas pessoas de quem cuido não tem preço», garante Patrícia Costa.
Francisco Brito Esteves, 23 anos, Covilhã
Mestrado de Engenharia e Gestão Industrial – Universidade da Beira Interior (UBI)
Francisco Brito Esteves é trabalhador-estudante e para ele o ensino online foi uma mais-valia para conseguir conciliar os estudos e o trabalho porque, «como sabemos, algumas universidades, caso da UBI, ainda não têm uma forma de ensino para trabalhadores, ou seja, um pós-laboral. E quando as aulas começaram a ser transmitidas online era possível que ficassem gravadas, e assim conseguia assistir a qualquer hora. Desta forma foi-me possível assistir às aulas, o que antes era impossível», revela o jovem engenheiro.
Para além da possibilidade de assistir às aulas num período posterior, a flexibilidade por parte dos professores também foi maior, pois «ao darem aulas através de casa tinham uma abertura maior para reunir connosco (estudantes) online a um horário diferente do marcado pela universidade», acrescenta. O jovem natural da Covilhã sentiu que a pandemia o afetou mais a nível pessoal do que a nível profissional e estudantil. «O que me deixou um pouco mais desconfortável foi a forma diferente com a qual tive de passar a lidar com os meus familiares e com as pessoas de quem gosto, como por exemplo a minha avó, que via com bastante regularidade e deixei de o poder fazer. De certa forma a pandemia afastou-nos das pessoas com quem nos relacionávamos habitualmente», lamenta o estudante do segundo ano do mestrado de Engenharia e Gestão Industrial.
Mariana Pedroso, 22 anos, Guarda
Comunicação e Relações Públicas – Instituto Politécnico da Guarda (IPG)
Mariana Pedroso é uma jovem que sempre sofreu de ansiedade, mas que, com a pandemia e toda a incerteza que a situação trouxe, fez com que o problema aumentasse. «Ao início foi bastante complicado», admite a jovem a O INTERIOR. A solução que arranjou foi «um “hobby” que me ajudou bastante a controlar os meus ataques de ansiedade», revela. Começou a fazer amigurumis – técnica japonesa em croché ou tricô para criar pequenos bonecos – e quando os faz «eu desligo um pouco do mundo porque é preciso muita concentração», acrescenta a estudante do IPG. Também para Mariana Pedroso as aulas online vieram prejudicar os estudos, apesar de saber que são necessárias para atenuar os efeitos da pandemia, mas, «visto que tenho défice de atenção, torna-se muito mais difícil concentrar-me», justifica. Além da falta de aproveitamento escolar, a estudante de Comunicação e Relações Públicas lamenta ter tido cadeiras «que sei que iam ser interessantes, mas, infelizmente, não consegui usufruir» devido ao regime de ensino à distância.