A natalidade baixou novamente em 2021 no distrito da Guarda, onde houve menos 68 nascimentos comparativamente a 2020, quando nasceram 547 bebés. O ano que agora findou saldou-se em 476 nascimentos, é a primeira vez que este indicador ficou abaixo dos 500 partos nos últimos dez anos.
Sinal dos tempos, quase metade (223) dos partos registados no Hospital Sousa Martins foram de mães oriundas do concelho da Guarda. Trancoso foi o segundo município com mais partos em 2021, com 35, seguido do Sabugal, com 28. Dos 14 concelhos do distrito, os municípios que registaram menos nascimentos foram Aguiar da Beira (2), Fornos de Algodres (8) e Manteigas (9). Já os restantes concelhos registaram mais de 10 nascimentos no ano passado. Nos últimos cinco anos os números têm sofrido oscilações, uma vez que em em 2016 houve 572 partos e 557 no ano seguinte, em 2018 registaram-se 584 (mais 27) e em 2019 os números voltaram a descer para 540 partos, ou seja, menos 44 que no ano anterior. Em 2020 os partos subiram ligeiramente, para 547 (mais sete que no ano anterior).
António Mendes, diretor do serviço de Obstetrícia da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda, considera que o decréscimo dos partos se deve «fundamentalmente à pandemia» e também «à incerteza no futuro» por parte dos casais, pois «raramente» há condições de segurança para as famílias e existem «muitas ameaças e más perspetivas para o futuro». Para o médico, outro dos problemas é «o baixo número de casais» no distrito, aos quais faltam «condições para apoio durante a gravidez e durante o parto». António Mendes avisa que o problema da baixa natalidade na região «é altamente preocupante», sublinhando mesmo que esta é «a maior ameaça para o distrito».
A quebra de nascimentos nos últimos anos pode ser um fator negativo para a maternidade da Guarda, contudo, o obstetra do Hospital Sousa Martins recusa falar no eventual encerramento do serviço: «Isso seria a pior coisa que poderia acontecer. É preciso cuidar dos mais velhos, mas temos de ter consciência que o futuro se constrói com os mais novos e para isso é necessário criar condições para o futuro do distrito. Sem pessoas não há futuro», declara o responsável, para quem levantar ameaças à maternidade da Guarda seria um «erro dos mais crassos que já vi». Na sua opinião, «é preciso investir na saúde materno-infantil» e criar condições para uma «medicina materno-infantil mais próxima ara que as pessoas se comecem a fixar e a viver nesta terra».
A nível nacional, em 2021 fica marcado pelo número mais baixo de nascimentos desde que há registos em Portugal, com 72.316 bebés até final de novembro. São menos 6 mil crianças do que no mesmo período do ano passado, segundo dados do Programa Nacional do Rastreio Neonatal, mais conhecido como teste do pezinho, realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Lisboa, Porto, Setúbal e Braga são as zonas do país com mais nascimentos, enquanto Bragança, Portalegre e Guarda, por esta ordem, foram os três distritos onde nasceram menos crianças.
Emanuel Brasil