Foi o projeto mais votado na edição de 2015 do Orçamento Participativo do município da Covilhã, mas passados três anos ainda está por construir o Centro de Recolha e Acolhimento Animal, candidatado pela Instinto, cuja dotação inicial era de 60 mil euros. A associação voltou a candidatar-se no ano seguinte e venceu com um projeto de esterilização de animais errantes (25 mil euros), mas num caso e no outro o dinheiro ainda não foi entregue.
Após vários meses de espera e depois de escolhido o local onde iria nascer o centro de acolhimento, um terreno cedido pela Câmara no sítio dos Caldeirões, junto ao Complexo Desportivo, foi assinado em setembro do ano passado um protocolo que previa que as obras tivessem início em janeiro e ficariam concluídas até setembro. Tudo parecia encaminhado, mas ainda não foi desta que a obra avançou. Há cerca de duas semanas o presidente da Câmara anunciou numa reunião do executivo que as obras estavam suspensas «por dois ou três meses» para ser definida uma nova localização. Estes atrasos e constantes adiamentos preocupam os responsáveis da associação, que não tem um espaço próprio para acolher animais.
Fundada há seis anos, a Instinto dedica-se ao resgate de animais de companhia que se encontram perdidos, feridos ou em risco e procura encontrar-lhes um novo lar. Depende exclusivamente de terceiros, como famílias de acolhimento, voluntários, donativos de particulares e empresas. «Nunca obtivemos apoios municipais», lamenta o vice-presidente, Vítor Costa. Sendo a componente financeira «essencial» no trabalho da Instinto, sem ela «é mais limitado o número de animais que conseguimos ajudar, pois todos os que passam pela Instinto são tratados, alimentados, esterilizados, vacinados e é-lhes colocado um microship». Um novo centro viria «dar melhores condições aos animais recolhidos» e fazer frente à dificuldade em arranjar famílias de acolhimento. O espaço já projetado vai incluir abrigos, zona de passeio, e uma sala de tratamentos, que iria também permitir «poupar algum dinheiro atualmente gasto em clínicas».
Embora a proposta inicial fosse de 60 mil euros, associação e autarquia acordaram que o projeto teria uma cabimentação de 75 mil euros, com recurso a 15 mil do prémio do segundo orçamento participativo. Mas este sonho continua a ser adiado e tendo em conta apenas o que está protocolado, «já vai com seis meses de atraso», salienta Vítor Costa, que continua sem saber «se ficará construído até setembro como previsto».
Já depois de ter sabido através dos meios de comunicação social da suspensão das obras, a Instinto reuniu com um responsável da Câmara que revelou a nova localização do centro, no Parque Industrial do Tortosendo, o que não deixa de causar alguma surpresa a Vítor Costa: «É num espaço ao fundo do parque industrial e o canil é logo ao início», estranha, lamentando que, tendo em conta esta proximidade, não se aproveite para «construir um espaço contiguo». Esta sempre foi uma proposta da associação protetora de animais, pois «acreditamos que poderia ser boa uma parceria trabalharmos em conjunto com o canil, mas esta sugestão nunca foi aceite pelo município», indica o responsável.
Contactado por O INTERIOR, o município adianta que houve «um vasto conjunto de queixas de instituições e munícipes» a propósito da localização inicialmente escolhida. No entanto, encontrado um novo terreno, a empreitada «encontra-se já adjudicada e com um prazo de execução de 120 dias».
Associação vive no limite
Atualmente a Instinto tem a seu cargo cerca de 130 animais, sendo que só nos últimos três meses recolheu 35. Todos são esterilizados e é esta tarefa que consome a maior fatia do orçamento da associação. Há 500 mil euros de fundos públicos para os municípios e canis municipais, em que cada entidade pode pedir até 15 mil euros: «Temos pressionado a autarquia neste sentido, mas até agora não obtivemos uma resposta». Vítor Costa salienta que este apoio «não está a ser usado por inação do município, que, em vez disso, estrangula financeiramente a associação».
A lei de abate de animais nos canis vai mudar em novembro e «acreditamos que com implementação da prática de esterilização vamos diminuir o número de animais nas ruas». Na Covilhã, a Instinto já ganhou a confiança da população, que é para onde liga quando quer sinalizar algum animal abandonado. A associação ajuda em média 100 animais por ano e isso «poupa dinheiro ao município, pois os animais que ajudamos já não terão de ser eutanasiados». Mas estes parecem não ser argumentos suficientes para receber apoios municipais e enquanto isso a Instinto «vive numa situação limite». Com uma dívida a clínicas veterinárias superior a 5 mil euros e devido a limitações de espaço, «estamos impossibilitados de recolher e ajudar mais animais» até que a situação atual seja invertida, alerta o responsável.
A O INTERIOR a autarquia garantiu que avançou já com uma candidatura para a modernização do Centro de Recolha Oficial (CRO), cuja comparticipação será de 15 mil euros, à qual ainda aguarda resposta.