Sociedade

Guarda perde sede do Estrela Geopark para Manteigas

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Escrito por Efigénia Marques

Mudança foi aprovada por maioria na última Assembleia-Geral da associação, com a abstenção da Câmara da Guarda

A sede do Estrela Geopark da UNESCO vai ser transferida do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) para a vila de Manteigas, no “coração” da Serra da Estrela. A decisão foi tomada na sexta-feira em Assembleia-Geral daquela entidade.
A proposta apresentada pela Câmara de Manteigas passou com seis votos favoráveis (seis municípios), sendo que o IPG e a UBI, as duas instituições de ensino superior que fazem parte da estrutura, não quiseram pronunciar-se sobre a mudança da sede. Segundo o presidente do município de Manteigas, «não se trata de uma mudança, porque o Geopark ainda não tinha sede definitiva. O que existia era uma sede provisória no IPG e o próprio Politécnico sabia que estávamos perante um local provisório». Flávio Massano justifica a apresentação da proposta para receber a sede definitiva com o facto de Manteigas apresentar «todas as condições em termos patrimoniais, dado que é o único concelho que, geograficamente, está totalmente integrado no território do Geopark com três geossítios de revelo internacional e também o de maior dimensão».
O autarca independente considera que esta decisão implica «maior responsabilidade porque estamos numa fase em que o Geopark tem que se afirmar em todos os territórios e será em Manteigas o centro das decisões de atuação por parte da estrutura técnica, tendo em conta aquilo que o projeto será no futuro». O edil manteiguense não esconde que a localização da sede desta associação irá trazer «algumas vantagens» para a vila, que vai acolher a equipa técnica e executiva, sendo que, possivelmente, algumas dessas pessoas passarão a residir em Manteigas. «Além disso, o concelho também sairá valorizado ao nível da Serra da Estrela e da própria natureza», admite, fazendo questão de sublinhar que todos os concelhos que integram a associação «continuarão a ser valorizados, nesse aspeto nada irá mudar».
A Câmara da Guarda absteve-se na votação da proposta de mudança de sede e o assunto foi abordado na última reunião do executivo, realizada na passada segunda-feira. Da parte do PSD ouviram-se muitas críticas sobre a forma como a autarquia guardense geriu o dossier. Carlos Chaves Monteiro mostrou-se «agastado» e «triste» com a mudança porque «se foi na Guarda e no IPG que nasceu o projeto, considerei sempre que esta ideia de deslocalizar a sede era uma “não questão” e por isso pergunto qual é a dúvida?», criticou. O vereador social-democrata lamentou o posicionamento do atual presidente do município, dizendo ter sido «evidente que Sérgio Costa ficou completamente entregue à decisão, quando devia ter assumido uma posição completamente diferente na Assembleia-Geral para que essa questão não fosse sequer discutida».
Chaves Monteiro salientou ainda que as instituições de ensino superior, o IPG em particular, são «o motor no desenvolvimento» do Geopark e que a Guarda sempre se assumiu, nos anteriores executivos liderados pelo PSD, «como fundamental para o desenvolvimento de todo o território ligado à marca internacional que é a Serra da Estrela». Luís Couto (PS) também se mostrou «surpreendido» com a decisão, sublinhando que o partido entende que «nem tudo tem que ficar na cidade, mas também é verdade que as cidades ganham interesse, capitalidade e dimensão político-social se tiverem os serviços mais concentrados». Para o vereador socialista, não se trata de «secar tudo à volta, mas a capital do distrito deve construir-se. Esta questão do Geopark é importante por este facto». O eleito considerou igualmente que «não há uma razão muito específica e muito clara para que se tenha mexido na sede do Geopark».
Na resposta às críticas da oposição, Sérgio Costa declarou que, «naturalmente, nunca podíamos votar a favor da saída de qualquer instituição, seja ela qual for, da Guarda e por isso votámos da forma que votámos, sem querer prejudicar o espírito coletivo. A Guarda não deve querer secar tudo à volta. A Guarda será sempre mais forte se os concelhos à volta estiverem fortes, e vice-versa». Contudo, o presidente da Câmara perguntou se «alguém da Guarda já ouviu falar nos últimos anos sobre iniciativas bem concretas e definidas do Estrela Geopark. O Politécnico foi efetivamente o embrião, foi uma excelente incubadora para esta associação, mas o entendimento da Assembleia-Geral, onde estão presidentes de Câmara do PS e PSD, foi tomada por maioria, no sentido de colocar a sede do Geopark em Manteigas – e o centro, quer se queira quer não, é Manteigas».
O autarca também questionou «o que foi feito até hoje por esta associação para a promoção dos territórios», sublinhando que «isso é muito mais importante do que a localização da sede». Na sua opinião, o Estrela Geopark «ou serve efetivamente para a promoção e salvaguarda do património dos nossos territórios, ou então temos que mudar a figura. Muito mais importante que a sede, que está fechada ao fim de semana, é trabalhar para o território. Não queremos as pessoas fechadas em gabinetes a troco de bons almoços e bons jantares, queremos as pessoas a trabalhar». De resto, Sérgio Costa lembrou que os municípios contribuem com 25 mil euros anuais para o projeto. Para além de Manteigas, o Geopark abrange os municípios de Belmonte, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Covilhã, Gouveia, Guarda, Seia e Oliveira do Hospital.

 

«Em cinco meses só há projetos que vinham de trás», diz Chaves Monteiro

Na reunião do executivo desta semana, Carlos Chaves Monteiro não poupou críticas à gestão da maioria independente que governa o município, na sequência de algumas obras que estão no terreno há poucos dias.
O vereador social-democrata considerou que nos cinco meses de mandato do seu sucessor se tem «assistido ao trabalho em projetos que já vinham de trás», caso da pedovia/cilclovia. «O presidente da Câmara fez um conjunto de promessas ao eleitorado e são essas que queremos ver concretizadas e não a continuação de projetos que estavam previstos ou em curso no mandato anterior», destacou Chaves Monteiro. Sérgio Costa reagiu dizendo que o vereador do PSD tem «dores de oposição e por isso tem que ir ao médico para lhe receitar um comprimido porque a campanha eleitoral já acabou». O edil sublinhou ainda que «o pai da pedovia sou eu», tendo «ousado» propor à CCDRC este projeto-piloto em 2015. «Por isso eu sou mesmo o pai da “criança” e sou a pessoa que agora está a executá-lo. Só tenho pena que o projeto tenha sido amputado na zona da ponte pedonal com ligação ao bairro de São Domingos», respondeu.

 

Carlos Gomes

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Efigénia Marques

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