Esta segunda-feira não foi um dia de festa em Vilar Formoso com a abertura da ligação da A25 à autoestrada espanhola A62. Já se circula nos últimos 3,5 quilómetros da Autoestrada das Beiras Alta e Litoral e a fronteira é agora uma verdadeira miragem.
A conclusão desta obra vai ser a principal ameaça para o futuro de Vilar Formoso e Fuentes de Oñoro, as duas localidades fronteiriças onde grassa a desilusão e o desalento. Sentimentos partilhados por António José Machado, presidente da Câmara de Almeida, na cerimónia inaugural. «Esta não é a melhor prenda para os vilarformosenses e oñorenses, esta ligação é importante para os habitantes transfronteiriços, mas é mais um revés a que este território já não resiste», disse o autarca, que apelou à intervenção dos dois governos para este território recuperar a sua capacidade competitiva. «Talvez sejamos nós, caro Isidoro, a última geração que viu crescer as nossas respetivas terras», acrescentou, dirigindo-se ao alcalde de Fuentes de Oñoro, Isidoro Alanis Marcos.
«Hoje, é dia em que queria que os governos deixassem a retórica, as promessas e passassem a colocar as equipas a trabalhar no terreno se não quiserem ver estes territórios desaparecer em breve e a situação é grave. Não há coesão sem intervenção de fundo, sem um plano, sem uma vontade, como fez D. Sancho I, o Povoador», prosseguiu António José Machado. E o edil almeidense recordou o que ficou por fazer desde 18 de julho de 2019 quando foi assinado um protocolo de cooperação designado de Projeto Integrado de Intervenção, Reabilitação e Revitalização da Zona de Fronteira.
A ideia era «reinventar o posto de turismo como centro de vocação comercial, turística e de lazer capaz de atrair fluxos de consumidores diversificados e com poder de compra, mas que ainda estamos a aguardar». O mesmo sucede quanto à reabilitação do parque TIR e das respetivas estruturas de apoio. Foi lançado o concurso para a elaboração dos projetos de reabilitação do espaço, de ligação a Vilar Formoso e ao nó em lado espanhol a realizar pela Câmara Municipal. Os projetos estão em curso, espero que a conclusão esteja para breve, mas ainda não sabemos através de que programa irão ser executados», alertou o autarca.
«Sem novidades» permanece também a promessa de «uma zona renovada de localização de atividades e de um espaço multifunções» no Largo da Fronteira, que incluiu uma rede de comércio e serviços especializados e um espaço empresarial. O mesmo sucede com o compromisso de potenciar o investimento na hotelaria e restauração da vila fronteiriça. «Temos trabalho feito, projetos a finalizar, precisamos que se passe de promessas à realização e colocar no terreno estes projetos que tanta falta fazem para não perdermos ainda mais esperança», sublinhou António José Machado.
O presidente da Câmara de Almeida acabou por pedir ao secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado, para que Vilar Formoso «não fique oculto atrás destas barreiras acústicas. Quem não é visto, não é lembrado, ou melhor não é procurado». Confrontado com estas críticas, o governante – o ministro Pedro Nuno Santos não veio devido a compromissos de última hora – apenas disse que o assunto não está esquecido e que o Governo vai continuar a trabalhar para concretizar os compromissos assumidos no referido protocolo. Contudo, ressalvou que, devido às eleições, «pouco mais» pode fazer.
O troço final da autoestrada A25 entre Vilar Formoso e a fronteira com Espanha abriu ao tráfego rodoviário na segunda-feira. Segundo a Infraestruturas de Portugal (IP), com a abertura deste troço com 3,5 quilómetros entre Vilar Formoso e a fronteira, «a A25 fica concluída em toda a sua extensão, ligando diretamente o Porto de Aveiro a Espanha através de autoestrada». De acordo com a fonte, a concretização do investimento «assegura uma importante ligação transfronteiriça à A62 – Autovia de Castilla, com melhores condições de comodidade e segurança rodoviária, nomeadamente para o tráfego de longo curso, sobretudo de veículos pesados, que passam a dispor de uma via mais eficiente, com melhores condições de comodidade e de segurança na ligação com a Europa». A empreitada envolveu um investimento de 13,2 milhões de euros. A cerimónia de assinatura do contrato da empreitada decorreu no dia 20 de novembro de 2018, em Vilar Formoso, com a presença do primeiro-ministro António Costa.