Sociedade

Frio nos meses quentes atrasou produção de castanha

Com as temperaturas a baixarem e a chegada do mês de novembro, a castanha torna-se o fruto mais apetecido. Depois de a produção ter sofrido quedas acentuadas devido à seca no ano passado, a campanha de 2018 parece trazer uma ligeira melhoria.

Embora com o atraso na maturação das castanhas, a expetativa da AAPIM – Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha é que este «seja um ano médio de produção», adianta José Assunção. Com junho e julho mais frios do que o habitual, o presidente da associação sediada na Guarda acrescenta que, contrariamente ao que aconteceu no ano passado, «houve um atraso de quase mais de um mês do tempo quente», o que influencia diretamente o desenvolvimento da castanha, «que precisa de uma determinada temperatura acumulada». Mas este atraso será apenas uma questão de «mais uns dias», tranquiliza o responsável, que acredita que as castanhas «vão chegar a tempo do São Martinho».
Quentes e boas é assim que se querem e a qualidade este ano também deverá ser «bem melhor» que a do ano transato. «Não há condições para o desenvolvimento de bichos e as pragas estão controladas», afiança José Assunção. A vespa do castanheiro que alarmou alguns produtores na região está «totalmente controlada e felizmente não afetou toda a produção», acrescenta o dirigente, para quem «o controlo está feito e sabemos que não há problema». Além disso a “martainha”, a variedade predominante de castanhas na região, é imune àquela praga, recorda José Assunção, que avisa no entanto que é necessário que os produtores estejam «atentos» a todos os sinais para que o alerta seja dado a tempo. Mas não é apenas a vespa uma das ameaças dos castanheiros, uma árvore que «deveria ser mais valorizada», considera o presidente da direção da AAPIM, lamentando que, por vezes, seja olhada «numa lógica de competitividade».

Ano de «muita castanha» em Videmonte

Conhecida como a “capital da castanha” no concelho da Guarda, por Videmonte também se acredita que este «é um ano de boa qualidade». Quem o diz é o presidente da Junta de Freguesia com base no “feedback” que tem obtido dos produtores. Afonso Pacheco não duvida que este «é um ano de muito castanha» e «melhor» que o ano passado, mas é inevitável a comparação a outros anos, como por exemplo 2016, «que foi muito bom». Apesar disso, o autarca acredita que 2018 «vai trazer mais venda que 2017». Também em Videmonte se confirma que o fruto «está um pouco atrasado», mas «já se verifica muita procura e as pessoas já se deslocam até Videmonte para comprar», declara Afonso Pacheco.
Este ano os preços serão naturalmente mais elevados, pois, pese embora a quantidade seja maior, também terá «muito melhor qualidade», justifica. Assim, o quilo de uma castanha «mais fraca» custa entre 1,2 e 1,5 euros. Já para a “martainha” e a judia, qualidades consideradas «melhores», os valores de venda estão compreendidos entre 2 e 2,5 euros. Quanto à “longal”, que é «a que tem mais procura, porque também se aguenta mais tempo», pode ser um pouco mais cara. O possível aumento dos preços não preocupa o autarca de Videmonte, pois sabe que «se houver quantidade, as pessoas vão continuando a procurar e vêm cá».

Castanha Longal com perdas significativas

Às portas de mais uma Feira da Castanha e Paladares de Outono, que se realiza em Trancoso este fim-de-semana, as primeiras castanhas «só agora começaram a cair» nos soutos do concelho.
Segundo Pedro Fidalgo, a apanha da castanha ainda «está no início», pelo que até agora também ainda não foi possível «avaliar a sua qualidade». O técnico do município confirma que «há muitos ouriços», mas esclarece de seguida que «não sabemos o que está lá dentro». No entanto, estima que «é esperada uma colheita ao nível do ano passado, mas com uma qualidade muito superior», segundo revelaram as primeiras castanhas. Nesta campanha é também esperado um aumento dos preços por quilo. Atualmente, a variedade “martainha” está a ser vendida em Trancoso a 3,3 euros o quilo. Um preço que ainda pode subir nos dias do certame dedicado à castanha, pois «tendo em conta que há pouca e será feita a escolha da melhor castanha para vender na feira, é natural que o preço suba», explica o técnico da autarquia.
Além de “martainha”, o concelho também é conhecido pela produção de “longal”, mas esta é uma variedade «que há garantidamente em menor quantidade» este ano. A culpa é da vespa do castanheiro que poderá ter provocado «uma diminuição significativa da produção, na ordem dos 50 por cento», justifica o técnico do município.

Aguiar da Beira teme qualidade da castanha

Por Aguiar da Beira a produção também «atrasou bastante», confirma Manuela Silva, técnica do gabinete de Agricultura da Câmara Municipal. Se em 2017 o mês de agosto surpreendeu com as primeiras castanhas, este ano «no dia 15 de outubro verificávamos que a castanha ainda não tinha maturidade suficiente».
No entanto, não é só a quantidade que preocupa a engenheira do município, também a qualidade, uma vez que «as produções estão condicionadas pela natureza» e quer no ano anterior, quer neste, «houve fatores que não ajudaram e facilmente se verifica uma quebra», lamenta. Apesar das primeiras castanhas revelarem uma qualidade aquém das expetativas, a esperança está no fruto que irá cair nos próximos dias: «Acreditamos que com as últimas chuvas a castanha venha a engrossar mais um pouco e por isso será de melhor qualidade», confira Manuela Silva.

Sobre o autor

Ana Eugénia Inácio

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