«Antes de querer seguir Física, quis música. Antes da música, queria História… Tenho vários interesses distintos e coisas que gosto de aprender». Esta afirmação podia definir Sebastião Miranda, o jovem guardense que tem todos os sonhos do mundo e mais uns quantos assuntos para aprofundar.
Toca violino desde os 8 anos, estuda Ciência com afinco e ainda tem tempo para pensar em voluntariado. «Como o curso de Física a que me candidatei na Universidade de Lund, na Suécia, só começa em janeiro – e ainda estou a aguardar o resultado da candidatura – gostava de fazer voluntariado entretanto. O ideal seria ir para um campo de refugiados e dar o meu contributo no que fosse necessário», explica o jovem, com a naturalidade sorridente que o caracteriza. O gosto pela Física surgiu de forma espontânea. Sebastião Miranda conta que sempre quis perceber «a forma como funcionavam as coisas, a natureza… Gosto de poder encontrar resposta para aquelas perguntas inocentes de criança sobre o mundo à nossa volta, e que muitas vezes nos são respondidas de forma pouco satisfatória», afirma o estudante.
No seu percurso soma concursos de ciência e formações que lhe permitem alargar conhecimentos. «Gosto de participar em vários tipos de atividades, sem que estas estejam necessariamente ligadas à escola. Além dos concursos candidato-me a campos de Astronomia, de Física… Gosto de ir para além do que se aprende nas aulas», justifica o guardense. Um dos mais recentes concursos em que participou levou-o a São Tomé e Príncipe, junto com uma professora e dois colegas do Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, onde estudou. «Participámos num concurso da Ciência Viva com um projeto relacionado com o centenário do eclipse que comprovou a Teoria da Relatividade, de Einstein», recorda. O objetivo era sobretudo a divulgação e explicação da teoria e, para isso «desenvolvemos algo que envolveu quase o agrupamento inteiro», nomeadamente palestras, debates, encenações teatrais, músicas e um vídeo final que relata tudo e consolidou a vitória dos estudantes guardenses. «Foi uma experiência fantástica», garante Sebastião Miranda.
O jovem tem um dom para descomplicar o complexo e fala de Ciência com a naturalidade de quem a compreende com clareza. Defende, por isso, que ela deveria ser comum a todos nós. «Acho que é importante trabalhar a comunicação da Ciência, pois é necessário que todos estejamos envolvidos em tudo», justifica, acrescentando que «sendo a Ciência tão relevante para o desenvolvimento, é muito importante que toda a gente a perceba, que todos estejam informados e tenham literacia científica», considera o jovem de 17 anos. No seu caso, a paixão pela Física ainda é abrangente, pois «dentro dela há várias áreas diferentes e eu ainda não decidi qual delas quero seguir».
Jovens com consciência política e social
Apesar disso, as ideias são claras e as vontades assumidas: «Os cientistas pretendem sempre encontrar uma explicação simples e isso significa formular uma teoria que se aplique a tudo o que existe, mas tal ainda não foi completamente possível. Se eu puder dar algum contributo e ajudar a humanidade a perceber algo que ainda não esteja esclarecido seria ótimo», assume Sebastião Miranda. A investigação é o caminho que se impõe no futuro, embora tudo aponte para que não o possa percorrer em terras lusas. «Se as coisas continuarem como estão atualmente acho que não terei oportunidade de desempenhar a minha profissão nem na região, nem no país. A área da investigação está muito difícil em Portugal, com cientistas em situações muito precárias», lamenta o guardense.
Ainda que incerto, o futuro da sua geração enfrenta grandes desafios não só a nível de trabalho, mas também no que toca ao ambiente. A mobilização dos jovens na greve climática é algo que valoriza fortemente, apesar de não ter tido a possibilidade de participar. «Na altura estava em São Tomé, mas elogio fortemente os meus colegas que o fizeram», reforça o estudante, para quem é «essencial termos ativismo e sermos jovens com consciência política e social». Na sua opinião, isso é «muito importante e é o tipo de coisas que não se aprendem na escola. Talvez falte essa componente nos nossos planos curriculares e por essa razão haja ainda muitos jovens desinteressados por essas questões», sustenta.