Sociedade

Exploração mineira na Argemela gera consternação nas populações

Minas Da Argemela
Escrito por Efigénia Marques

A prospeção e extração de lítio e outros minerais entre os concelhos da Covilhã e Fundão é um dos exemplos da exploração mineira em Portugal e no interior do país

O debate sobre a exploração mineira tem sido uma constante em Portugal e sobretudo na região da Beira Interior. A mina da Argemela, situada na freguesia de Barco, no concelho da Covilhã, é um dos exemplos. Recentemente, o Governo avançou com uma autorização para a exploração de depósitos de lítio e outros minerais na zona, o que está a causar a indignação da população local.
A Associação Guardiões da Serra da Estrela é um dos movimentos contestatários da mineração. Maria do Carmo Mendes, coordenadora do grupo, nomeadamente no interior do país, refere que «os Guardiões da Serra da Estrela defendem, em primeiro lugar, a preservação dos ecossistemas da Serra da Estrela, sobretudo a ameaça que representa a implementação de uma indústria extrativa que usa recursos vitais para a sustentabilidade da região a longo prazo, nomeadamente o uso da água (a nossa principal preocupação), pois, para além do pedido de exploração da Argemela, existem outros pedidos, para prospeção e pesquisa de recursos minerais que abrangem praticamente toda a região da Beira-Serra».
O que preocupa a população do Barco, das freguesias vizinhas e a Associação dos Guardiões da Serra da Estrela é, segundo Maria do Carmo Mendes, «o impacto visual de ver, todos os dias, a serra ser esventrada pela demanda mineira, pois a mineração a céu aberto é muito mais agressiva – basta fazer uma breve pesquisa para perceber a dimensão do problema, que vai muito para além do conceito de “pedreira”, ao contrário do que tem sido divulgado por elementos do Governo. Além disso, a proximidade da aldeia implicará que os seus habitantes vejam completamente alterado o seu dia-a-dia: desde a qualidade do ar e da água até ao seu modelo de vida».
Maria do Carmo Mendes diz ainda que as “desculpas” para o avanço desta exploração são muitas e podem induzir em erro quem não tiver uma opinião bem formada sobre o assunto: «Dizem que a implementação desde projeto mineiro implicará uma diminuição da desertificação desta aldeia e arredores e a criação de postos de trabalho, mas tudo isto são quimeras pois são promessas que terminam quando uma mina fecha – todos nós sabemos que um projeto mineiro tem, logo à partida, os dias contados. O que fica depois do fecho de uma mina? Penso que não é este o modelo de desenvolvimento que se pretende para o interior, pois a mineração assenta em projetos pensados a curto prazo». E pergunta se os portugueses querem «um interior “sacrificado” para que tenhamos telemóveis, computadores, baterias e carros elétricos, nesta realidade em que se promove o “usar e deitar fora”».
A exploração mineira depende agora da aprovação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que emitirá uma declaração de impacte ambiental favorável ou não. Na perspetiva de Maria do Carmo Mendes, «do que conhecemos do projeto e dos impactos claros que trará a vários níveis, acreditamos que a APA, com bom senso, emitirá parecer desfavorável». Também o presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, garantiu na passada sexta-feira, que o município «tudo fará» para tentar travar a exploração de lítio na Serra da Argemela, cujo contrato de concessão foi assinado a 28 de outubro. «Tudo faremos e tudo estamos a fazer no sentido de evitar essa exploração desta mina a céu aberto, no local em que está previsto», declarou o autarca aos jornalistas no final da reunião do executivo. Na sessão foi aprovada por unanimidade uma moção contra a exploração, que reitera a preocupação para «riscos, incómodos e consequências gravosas» que a mina representará para o ambiente, a paisagem e património das freguesias que estão localizadas a pouca distância do local, bem como para a saúde das respetivas populações. O documento, que se junta a outros produzidos ao longo do tempo, surge depois de o contrato de concessão da exploração ter sido assinado com a empresa PANNN – Consultores de Geociências, LDA.

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Efigénia Marques

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