Sociedade

Esperança e receio marcam o novo desconfinamento

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Escrito por Carina Fernandes

O movimento nas ruas da Guarda já começa a ser maior e o bom tempo que se faz sentir foi um bom aliado no primeiro dia da segunda fase de desconfinamento. Contudo, os comerciantes continuam com receio do futuro e de um novo confinamento.

A segunda fase do plano de desconfinamento progressivo decretado pelo Governo começou esta segunda-feira. Uma das mudanças autorizadas foi a reabertura das lojas até 200 metros quadrados e com porta para a rua que, até então, apenas tinham permissão para vendas ao postigo. Como O INTERIOR noticiou, esse método não teve grande adesão na região, mas desta vez os comerciantes estão mais motivados e otimistas.

Os cabeleireiros e barbeiros fazem parte dos estabelecimentos que reabriram portas há três semanas. Passada esta fase, o balanço que os empresários do setor fazem é bastante favorável. «O “feedback” é, de certa forma, positivo. Há uma procura bastante agradável por parte das pessoas», adianta Ivan Teixeira, proprietário da Barbearia Clássica, na Guarda. O estabelecimento abriu a 4 de maio de 2020, no primeiro desconfinamento. O facto de estar em funcionamento há cerca de um ano e a pandemia têm dificultado a sobrevivência do negócio. «Se só me deixassem abrir hoje (segunda fase do desconfinamento), eu não tinha dinheiro, tinha de começar do zero. Consegui pagar tudo, mas não foi fácil porque também existe uma vida para além da barbearia e que tem custos», lamenta o barbeiro.

«Espero não chegar ao Inverno e ter de fechar novamente», acrescenta Ivan Teixeira, que se diz «reticente» com o futuro. «Espero que existam bastantes melhoras e que as coisas voltem um bocadinho ao normal, que as pessoas possam conviver um pouco mais. E falo no meu negócio: falarmos um pouco, conviver… espero que isso venha a acontecer», deseja. Ana Santos, proprietária de um salão de cabeleireiro, também faz um balanço animador. «As clientes estavam com vontade de voltar, mas também com a necessidade. Claro que foi com todo o cuidado, mas elas sentiram que aqui estavam seguras», garante a cabeleireira. No seu caso, começou por ser funcionária do salão de beleza que adquiriu há cerca de um ano. «Mal fiquei com o espaço, passado dois meses tive de fechar portas. Tivemos mês e meio encerrados e agora estivemos estes dois meses novamente fechados», relata.

Apesar das quebras de faturação dos últimos meses, não houve alteração nos preços, o que mudou foi o espaço: «Tivemos de pôr acrílicos e todos os cuidados a redobrar, bem como reduzir a quantidade de pessoas que são permitidas dentro do salão», elenca Ana Santos. Apesar de todos os obstáculos e contratempos desistir nunca fez parte dos seus pensamentos. «Sou muito otimista e temos todos de lutar, porque estamos todos no mesmo barco. É que não é só o meu negócio que está mau, estão todos, e por isso temos de lutar», afirma a proprietária do salão Ana Style Cabeleireiro.

<Subtitulo>«Viver o dia-a-dia»

<Texto>As sapatarias, lojas de roupa e cafés também reabriram na primeira fase de desconfinamento, mas apenas com venda ao postigo. Nesta segunda etapa puderam reabrir as portas dos estabelecimentos e receber clientes quase de uma forma normal.

A Sapataria 997, a funcionar há cerca de sete anos, decidiu não reabrir portas no dia 15 de março para fazer vendas ao postigo e continuar com as vendas online porque «a nossa cidade não é propriamente amena. Tivemos dias até bastante agrestes e para fazer vendas ao postigo as pessoas não estão preparadas para comprar um par de sapatos sem os experimentar», justifica Nélida Pereira, a proprietária. Porém, o desconfinamento ajudou a que as pessoas saíssem um pouco mais de casa. «Viu a reação da minha vizinha? Ela entrou, mas só mesmo para dizer “olá” porque há tanto tempo que não nos víamos», exemplifica a empresária.

Não têm sido tempos fáceis para o comércio e as ajudas estatais também não têm sido «nenhumas», queixa-se, dizendo que foram as vendas online que ajudaram «a pagar as rendas» da loja. «A Câmara Municipal fez um miminho a nível da fatura da água, porque veio só a taxa do contador», realça Nélida Pereira. Mesmo com esta reabertura, a proprietária tem dúvidas e receios. «Será que vai haver clientes? Será que isto vai continuar? Será que é desta vez que seguimos em frente?», são algumas das suas interrogações e por isso não faz grandes planos para o futuro. A regra «é viver o dia a dia, pois não vale a pena criar grandes ilusões porque isto é como uma carta fechada. Acho que ninguém imaginava que isto fosse levar tanto tempo», justifica.

Por sua vez, Joaquim Pinheiro, dono de uma loja de vestuário, tem esperança que agora, com o calor, as coisas «se endireitem» e que «o vírus desapareça» para que as pessoas «venham às lojas e nos ajudem, porque neste momento estamos numa situação difícil e vamos lutar para que as pessoas voltem», assume o comerciante. Com a loja fechada foi inevitável que o stock aumentasse drasticamente: «Temos 200 caixas de roupa guardadas que ainda não sabemos o que lhe vamos fazer. Tudo isto é um prejuízo enorme. Encaixotámos tudo o que cá ficou a 15 de janeiro e neste momento é tudo roupa nova na loja», assegura Joaquim Pinheiro.

O empresário não esconde que teme o futuro porque, «com o Rt a subir, as pessoas começam a ficar assustadas», constata. E se este indicador começa a subir volta tudo a fechar outra vez, o que «é mau para toda a gente. Fechados ninguém vende, ninguém consome», avisa Joaquim Pinheiro. As esplanadas também reabriram na segunda-feira com o limite de quatro pessoas por mesa, à exceção se forem do mesmo agregado familiar. Porém os empresários da restauração e cafés não sabem se será uma solução viável. Tiago Carvalho, funcionário de um restaurante da cidade mais alta, defende que o serviço de esplanadas «será mais benéfico para cafés e pastelarias do que para a restauração», pois «na nossa cidade, por causa do tempo que é sempre mais frio, não rende tanto. E mesmo o poder económico dos habitantes começa a ser um bocadinho dificultado», justifica.

Filipe Abrantes, outro empresário da restauração, teme a repercussão que a Páscoa e a reabertura das escolas possam ter nos contágios e que, consequentemente, possam originar um novo confinamento com «consequências violentas» para o setor, em geral, e para o seu negócio, em particular. «Eu e a minha mulher vivemos daqui os dois, com dois filhos e uma empregada, como é que fazemos? É complicado, é difícil aguentar», lamenta o guardense.

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