Sociedade

Empresas organizadoras de eventos com quebras superiores a 80 por cento

Escrito por Jornal O INTERIOR

Setor está parado há um ano e esperança de que eventos cancelados sejam organizados em 2021 diminui à medida que o tempo avança

Desde março do ano passado que a maioria dos eventos de grande dimensão foram cancelados, colocando em risco a continuidade das empresas que os organizam.

O setor da pirotecnia tem sofrido uma quebra da procura há alguns anos. «Em bom rigor, a pirotecnia há três ou quatro anos que não vive o seu auge», considera Ana Fernandes, que invoca todas as restrições que têm sido impostas ao seu trabalho, nomeadamente a retirada de licenças em dias em que determinada região está sob aviso vermelho. Ana Fernandes é uma das responsáveis da empresa familiar Pirotecnia das Beiras, situada no Porto da Carne, no concelho da Guarda. O fabricante e comercializador de fogo de artifício há quatro gerações nunca tinha passado uma fase tão difícil e delicada como neste último ano: «Para o meu pai [Carlos Fernandes] é difícil e nota-se alguma tristeza por ver o setor tão parado», adianta a gerente a O INTERIOR.

«Não é fácil porque temos despesas fixas, nomeadamente o nosso seguro de acidentes de trabalho, o seguro de RC, que são seguros muito específicos e com taxas na ordem dos 35 por cento», acrescenta, revelando que desde março de 2020 que não têm encomendas. «Estamos sem qualquer tipo de espetáculo, apenas tivemos uma pequena sessão na inauguração do presépio no Sabugal», refere Ana Fernandes. A Pirotecnia das Beiras tinha esperança que os eventos previstos para o ano transato fossem adiados para 2021, «mas, honestamente, não sinto que isso vá acontecer», lamenta. E foi o facto da empresa vender produtos pirotécnicos que evitou uma quebra de faturação «da ordem dos 99 por cento»: «Fizemos venda ao consumidor final nas últimas semanas de dezembro, o que fez com que tivéssemos uma quebra de cerca de 75 por cento», contabiliza a responsável. Porém, nessa percentagem já existe a contagem «dos espetáculos de janeiro e fevereiro de 2020 e a passagem de ano de 2019 para 2020», acrescenta.

Contenção de despesas tem sido a máxima dos últimos meses para conseguir manter a firma. Em tempos normais a empresa tem quatro trabalhadores fixos no fabrico de material pirotécnico e cerca de 30 eventuais, porém «neste momento dispensámos e chegámos a acordo com alguns deles. Não estamos a trabalhar com os eventuais porque não há espetáculos e dos fixos manteve-se apenas um», revela a empresária, que se queixa também dos «quase inexistentes» apoios do Estado. «Estamos com zero apoios. O Governo esqueceu-se de colocar o nosso CAE (código de atividade económica) como elegível. Só beneficiámos do “lay-off” no primeiro confinamento porque no segundo não fomos consideradas empresas que estejam fechadas por despacho, pelo que não podemos usufruir novamente desse apoio», lamenta Ana Fernandes.

Inovar para sobreviver

A Diplix Audio é uma das empresas organizadoras de eventos que tem sofrido com a pandemia da Covid-19. Sediada na Guarda, tem também duas vertentes: a de aluguer de equipamentos de som e luz para eventos e a academia de música. Com a parte do aluguer de equipamentos praticamente parada, é a valência da educação musical que tem ajudado à sua sobrevivência.

«Ainda fizemos qualquer coisa na organização de eventos no Verão, mas nada de especial. Paramos definitivamente em setembro», confirma David Neves. O responsável fala numa «quebra de 85 por cento» da faturação, o que levou à «suspensão de dois postos de trabalho», lamenta. A empresa existe há 15 anos, o que faz com que «algumas entidades municipais, associações, grupos de teatro e privados, se mantenham fiéis». Contudo, a pandemia tirou-lhes essa mesma garantia e a academia de música tem sido o foco nos últimos tempos. «Temos conseguido fazer algumas coisas e tentamos inovar nas atividades, nomeadamente na opção de “streaming”», adianta David Neves a O INTERIOR. As transmissões em direto têm sido usadas para lecionar as aulas e para a dinamização de algumas iniciativas. «No Verão fizemos “streamings” com projetos musicais que temos, um de músicas da Disney e outro com músicas que já participaram no Festival da Canção. Tentámos estar um pouco ativos», considera.

Tanto para a Diplix Audio, como para a Pirotecnia das Beiras, a esperança é que o futuro seja risonho. Apesar de não existir para breve o regresso dos grandes eventos na região, «o nosso objetivo principal é manter a empresa», assegura Ana Fernandes. Já o facto da Diplix trabalhar normalmente em eventos de média a pequena dimensão e com entidades fiéis levam David Neves a confessar que «as perspetivas são mais ao menos boas, sentimos uma certa estabilidade».

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