Sociedade

Dura Automotive despede dois terços dos trabalhadores de fábrica da Guarda

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Escrito por Jornal O INTERIOR

Despedimento coletivo de 95 pessoas avança até final de setembro e foi justificado com a falta de trabalho.
Apenas 60 funcionários vão continuar na unidade de Vila Cortês do Mondego

O fim da linha da Dura Automotive tantas vezes anunciado parece estar agora mais próximo com o despedimento coletivo de 95 trabalhadores na fábrica de Vila Cortês do Mondego, no concelho da Guarda, até ao final de setembro. A decisão foi comunicada na semana passada aos funcionários da multinacional de componentes para automóveis, que vai continuar com apenas 60 pessoas.
O despedimento vai abranger todos os setores e afetar 80 postos de trabalho diretos e 15 indiretos. A justificação dada pela administração é «a redução de projetos, de trabalho, já desde 2019, mas a situação agravou-se muito com a pandemia porque não temos projetos novos, nem se perspetiva que venha a haver encomendas», disse Paulo Ferreira, da comissão de trabalhadores. O representante sindical receia mesmo que este seja «o princípio do fim» da Dura Automotive no Vale do Mondego e não acredita que na viabilidade da fábrica com 60 pessoas. «Isto é uma morte anunciada a longo prazo, poderá ser um, dois, três anos, não sei… Nem a administração deu garantias de futuro, apesar de dizerem que esta reestruturação garante trabalho a quem fica», acrescenta.
Paulo Ferreira considera que este desfecho já era receado há algum tempo: «Estivemos em “lay-off” de cinco meses no ano passado, mas depois começámos a trabalhar em equipas espelho, 15 dias alternados. Há duas semanas saiu um comunicado da empresa a dizer que, desses, passaríamos só a trabalhar quatro dias por semana. Ou seja, no total estávamos a trabalhar oito dias por mês e a empresa continuava a pagar o vencimento por completo, evidentemente que esta situação não se poderia arrastar», desabafa. Os critérios que vão nortear os despedimentos ainda não são conhecidos, uma vez que ainda não há data para iniciar as negociações. O que sabe oficialmente é que a reestruturação vai ser feita até ao final de setembro. «Adorava que ainda fosse possível reverter este despedimento, mas quem manda são americanos e isso diz tudo. Os trabalhadores tinham, mais ou menos, a noção de que alguma coisa teria de ser feita, mas toda a gente estava à espera que fosse outra coisa e não isto», declara ainda o elemento da comissão, que já só espera que a compensação pelo despedimento «seja boa».
Paulo Ferreira alerta que atualmente a fábrica emprega «dez por cento de casais e temos pessoas que nunca trabalharam em mais lado nenhum», alertando que as consequências deste despedimento coletivo vão sentir-se nos concelhos da Guarda, Celorico da Beira e Trancoso.
O presidente da Câmara da Guarda recebeu a notícia com «muita preocupação», pois ainda se lembra «da dificuldade que foi há ano e meio manter aberta esta fábrica». Nos últimos dias Carlos Chaves Monteiro tem estado em ligação com o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, que encetou contactos com a administração do grupo financeiro norte-americano que gere a Dura e com os seus responsáveis em Portugal para «tentar mitigar, minimizar», o despedimento em Vila Cortês do Mondego. «A decisão parece-me irreversível, contudo, acreditamos que ainda será possível revitalizar a empresa com novos projetos e para isso há apoios do Governo no âmbito da revitalização do interior», sublinha o autarca, que considera haver condições para a multinacional continuar por cá. «Temos que dizer aos responsáveis do grupo financeiro que gere a Dura Automotive que há vários apoios do Estado e da Europa para a ajudar a indústria no pós-pandemia. Também a Câmara está disponível para ajudar no que for necessário para manter a fábrica em Vila Cortês», compromete-se Chaves Monteiro.
Entretanto, o «plano B» do presidente do município é «articular com empresas locais a contratação destes profissionais qualificados» logo que se consumar o despedimento. Numa nota divulgada na passada quarta-feira, a Dura Automotive Portuguesa explica que esta reestruturação destina-se a «assegurar um desempenho empresarial sustentável» e resulta de «uma redução dos contratos de produção nos últimos 36 meses, associada ao impacto de uma quebra da indústria automóvel induzida pela Covid», que resultou «numa redução de 65 por cento do volume de negócios em 2021, em comparação com 2019».
A administração acrescenta que a medida permitirá «à unidade da Guarda manter a competitividade necessária para sustentar as operações até ao lançamento de futuros novos projetos». A fábrica da Dura Automotive de Vila Cortês do Mondego, que foi adquirida em 1994, emprega 155 trabalhadores e produz componentes para a indústria automóvel, nomeadamente «cabos de abertura de portas, cabos de mala traseira, cabos de abertura de “capot”, cabos de travão, cabos de assento e “shifthers”». A outra unidade da multinacional em Portugal situa-se no Carregado, onde emprega cerca de 200 trabalhadores.

Entre o medo e a desilusão

António Dias, há 23 anos na Dura

«Estou bastante assustado com o futuro, possivelmente não deverá ser muito bom. Havia sempre uma luz ao fundo do túnel, mas a situação piorou há coisa de um para cá e a Covid veio piorar tudo o que estava a acontecer. Acho que a empresa não tinha outra alternativa porque neste momento temos pouco trabalho, fruto da Covid e de marcas que desistiram da Dura. Nestes últimos anos trabalhámos sempre com o coração nas mãos e à espera do pior, o que acabou por acontecer, infelizmente. Não será fácil encontrar emprego na região porque é muita gente envolvida. Apelo ao senhor presidente da Câmara da Guarda para ter atenção a estes trabalhadores, são todos bons profissionais e uma mais-valia para qualquer empresa da região».

Daniel Leal, funcionário há 10 anos

«Esperámos sempre que isto nunca acontecesse e acabou por acontecer. As alternativas de trabalho na nossa zona nunca são muitas, embora possa haver a possibilidade de criação de emprego na Guarda, mas nunca será algo que permita absorver todas as pessoas direta e facilmente. Estou assustado porque não sabemos se nos calha a nós ou ao colega do lado. Em setembro faz 10 anos que estou na empresa»

Vera Rebelo, há 30 anos na Dura

«Ainda estou em choque, não quero acreditar, apesar de andarmos assim há dois anos. Tudo indicava que isto pudesse acontecer, mas como somos um grupo multinacional tínhamos a esperança que poderia vir trabalho de outras fábricas para a nossa.
Os nossos projetos estão no fim e há, pelo menos, dez anos que não temos um único projeto novo. Na altura alertámos para esta situação. Estou bastante assustada, por mim e pelos meus colegas, porque na nossa região há pouco emprego. Este foi o meu primeiro trabalho e não vai ser fácil. Aliás, a nível psicológico não tem sido fácil desde há dois anos que andamos neste jogo do empurra».

Estela Santos, há 10 anos na empresa

«Já estávamos a contar há muito tempo, só que custa assim de repente. Estou assustada com o futuro porque aqui é complicado arranjar trabalho. Estou na empresa há 10 anos, trabalhei na Delphi e vou viver novamente tudo aquilo porque passei na altura, é muito complicado. Temos que pensar noutras situações, talvez emigrar…»

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Jornal O INTERIOR

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