A Coficab poderá recorrer a imigrantes para suprir a falta de mão de obra qualificada que está a sentir. A opção foi revelada por João Cardoso, diretor-geral da empresa de cablagens e fios para automóveis sediada na Guarda.
Na segunda-feira, no final da visita do primeiro-ministro da Tunísia, Hichem Mechichi, o responsável admitiu que este é um problema com que a multinacional se debate numa altura em que se perspetiva a criação de mais cerca de 100 postos de trabalho na nova fábrica instalada na plataforma logística. «A Coficab é um bom exemplo de falta de mão de obra qualificada. Os jovens saem para as grandes cidades e não voltam, ficam os mais idosos, pelo que começamos a ter dificuldade em ocupar esses postos de trabalho e já estamos também a “sofrer” a concorrência de outras empresas situadas no interior», disse João Cardoso a O INTERIOR, admitindo que o recurso à imigração pode ser «uma solução» para este problema.
O responsável adiantou que aproveitou a visita de outros governantes tunisinos para tentar estabelecer um acordo bilateral que sirva a Coficab e outras empresas da Guarda. «O que se pretende é que, quando tivermos imigração, ela seja ordenada. O processo é começar a dar aulas de Português a quem vai imigrar, disponibilizadas pelo governo tunisino, para começar a aculturar os imigrantes. Depois faremos uma formação tecnológica sobre a área para onde vêm trabalhar», exemplificou. Em contrapartida, as cidades de destino terão que garantir condições condignas para os acolher «e não acontecer o que se passa em Odemira».
No entanto, João Cardoso reitera que esta é a última alternativa. Até lá haverá que «seduzir» quem emigrou para as grandes cidades a regressar ao interior. «Espero que o presidente da Câmara da Guarda faça alguma coisa nesse sentido. Temos que lançar uma campanha de sedução da cidade para tentar reaver alguns jovens que eram de cá e foram-se embora, ou mesmo outros que não sejam de cá. Se não conseguirmos, a imigração é o nosso último recurso», reitera. Pela sua parte, a Coficab oferece emprego com remunerações e perspetivas de carreira «interessantes», já a Guarda tem que criar condições «a nível de saúde, uma coisa de que todos sabemos que estamos carenciados», e de lazer e cultura. Mas a principal tarefa está do lado do Governo, que tem que criar «um IRS discriminatório para quem queira vir para o interior porque não há outra maneira realista de seduzir jovens a deslocarem-se para cá».
Atualmente, a Coficab emprega 800 pessoas, das quais 500 trabalham em Vale de Estrela e 300 na plataforma logística, onde vão ser criados mais 100 novos postos de trabalho dois anos antes do inicialmente previsto. Além da falta de mão de obra, também a crise dos semicondutores está a afetar «e muito» a Coficab. «A Covid afetou-nos dois a três meses e logo a seguir recuperámos grande parte das vendas perdidas. Agora voltámos ao mesmo com os semicondutores, situação que é capaz de nos afetar durante um ano», admitiu o empresário. Para já, a situação ainda não levou à paragem das linhas de produção, mas já forçou o fim das horas extra e do trabalho aos fins de semana. «Podemos chamar-lhe de pandemia tecnológica porque hoje em dia o mundo não funciona sem semicondutores e está dependente de duas empresas, a Samsung e a Taiwan Semiconductors. Estamos a falar de não ter automóveis, armas, eletrodomésticos, satélites, telemóveis, etc.», exemplifica.
«A aposta na Guarda tem sido um sucesso para a Coficab»
Hichem Mechichi, chefe do Governo tunisino, esteve na Guarda na manhã de segunda-feira para conhecer as duas unidades do grupo Coficab, em Vale de Estrela e na plataforma logística, bem como o centro tecnológico onde se desenvolvem os produtos mais inovadores da multinacional para os veículos elétricos e de condução autónoma.
A empresa é um dos maiores investimentos tunisinos no mundo e o maior na Europa. O governante não falou aos jornalistas, mas, de acordo com Hichem Elloumi, presidente do conselho de administração do grupo, o primeiro-ministro ficou «orgulhoso» do investimento da Coficab na cidade mais alta porque «teve êxito e cresceu». «A Guarda foi a nossa porta de entrada no mercado mundial e o ponto de partida da internacionalização do grupo. E esta aposta tem sido um sucesso. Atualmente temos cá duas fábricas, que apostam na alta tecnologia, e o nosso centro de investigação. É um projeto orientado para o mercado global e com um conteúdo tecnológico muito importante», disse o empresário.