Augusto Monteiro Valente é o rosto do 25 de Abril na Guarda. Nesse dia coube ao capitão Valente, então colocado no Regimento de Infantaria (RI) 12, concretizar os planos do Movimento das Forças Armadas (MFA), o que fez com um único tiro para o ar.
Falecido em setembro de 2012, aos 68 anos, os seus amigos recordam o antigo segundo comandante-geral da GNR como «homem de grande valor, intelectualmente acima da média e extremamente corajoso». O major-general do Exército na reserva, que tinha ligações familiares à Miuzela do Côa (Almeida) e afetivas à Guarda, foi um “militar de Abril”, tendo integrado o Grupo dos Nove, de Ernesto Melo Antunes. Num depoimento registado na altura, José Pires Veiga, antigo aspirante e alferes do RI 12, no quartel da Guarda, recordou o seu antigo comandante como um «homem bom e íntegro que procurou trabalhar para o bem público e comum». «Os seus princípios e o seu exemplo fizeram dele um líder que era, ao mesmo tempo, um amigo que muitos de nós sempre fomos seguindo em encontros ocasionais. Na mudança do regime do 25 de Abril em tudo arriscou porque ele era um profissional do Exército e já tinha havido vários golpes», afirmou.
Também Abílio Curto recordou com saudade o antigo comandante do RI 12: «Para nós, guardenses, democratas, antifascistas e republicanos, é um símbolo do 25 de Abril e da liberdade», afirmou também o antigo presidente da Câmara da Guarda, para quem Monteiro Valente «perdurará nas nossas memórias». Nascido em Coimbra, em 1944, exerceu na GNR os cargos de comandante da Brigada Territorial 5 (1999-2001), inspetor-geral (2001-2002) e segundo comandante-geral (2002-2003). Presidente da delegação regional do Centro da Associação 25 de Abril, Monteiro Valente era investigador associado do Centro de Documentação 25 de Abril e do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, ambos da Universidade de Coimbra, e colaborador da Revista Militar. Manteve ainda intensa atividade cívica como especialista em questões militares, não esquecendo o estudo do republicanismo e das revoltas militares de resistência à ditadura de Salazar e Caetano.
Incorporado na Academia Militar em 1963, terminou a licenciatura em Ciências Militares – Infantaria três anos depois, tendo passado à situação de reserva em 2003. Entre outras formações superiores, era licenciado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde concluiu uma pós-graduação em Estudos Europeus. Nos últimos anos de vida, Monteiro Valente empenhou-se na preservação da memória do general Gastão Sousa Dias, sendo autor de uma biografia deste democrata e antifascista, publicada pela Câmara da Guarda, no âmbito da coleção “Gentes da Guarda”. Presidiu também à Comissão Instaladora da Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto, na Miuzela do Côa.