Sociedade

«A UBI é hoje uma universidade cosmopolita, do mundo e para o mundo»

Escrito por Jornal O Interior

A Universidade da Beira Interior comemorou 34 anos na quinta-feira e, com um total de 8.387 estudantes – 22 por cento dos quais estrangeiros, é a maior instituição de ensino superior do interior do país. O reitor António Fidalgo garante que ainda há capacidade para crescer mais, sobretudo nas Engenharias e nas Ciências, e sublinha que neste momento a interioridade já não é um «estigma». O problema continua a ser o subfinanciamento estatal «escandalosamente abaixo» de outras instituições de ensino superior.

P– Como está a Universidade da Beira Interior aos 34 anos?
R – De boa saúde, felizmente. Temos vindo a aumentar paulatinamente o número de alunos e a oferta formativa, bem como a investigação, tanto em quantidade como em qualidade. Hoje somos a maior instituição de ensino superior no interior de Portugal. Os rankings valem o que valem, mas não deixamos de nos regozijar por nos reconhecerem como uma boa universidade, ao lado de outras universidades muito mais antigas, e como uma das melhores jovens universidades do mundo.

P – Quais são as apostas de futuro para a universidade?
R – Continuar na senda de um crescimento sólido. Privilegiamos a cultura de um ambiente universitário total, de imersão, em que as aprendizagens informais são tão ou mais importantes que as aprendizagens formais. A parceria com a cidade da Covilhã é crucial. O protocolo assinado na passada quinta-feira, 30 de abril, dia da Universidade, com a Câmara Municipal da Covilhã para uma estratégia conjunta do aproveitamento do Jardim da Goldra insere-se na ambição maior de fazer da cidade uma cidade campus.

P – Num momento em que já ultrapassou os seis mil alunos, há capacidade para crescer em termos de estudantes? Em que áreas?
R – Neste momento a UBI conta com 8.387 alunos, sendo 7.876 próprios e os restantes de mobilidade (Erasmus, etc.). 1.829 são estrangeiros, isto é 22 por cento. Sobretudo na área das Engenharias e das Ciências ainda temos muita capacidade para crescer.

P – Como está a UBI em termos financeiros? Está resolvido o problema do subfinanciamento por parte do Estado?
R – A UBI continua sólida financeiramente graças às receitas próprias e aos projetos de investigação e de prestação de serviços. O subfinanciamento por parte do Estado continua escandalosamente abaixo das outras instituições de ensino superior, apesar da diferenciação positiva havida este ano no aumento da dotação relativa ao ano passado. É incompreensível que a fatia do Orçamento de Estado nas receitas da UBI seja percentualmente mais baixo que nas Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra. É caso único nas instituições de ensino superior do Interior.

P – A interioridade é um anátema sobre a UBI, até que ponto é que a sua afirmação e crescimento não é, ainda hoje, condicionada pela estigmatização de estar na Covilhã?
R – Não há anátema, nem estigma. Já ultrapassámos definitivamente esses preconceitos. Há uma confiança e um orgulho no nosso trabalho que nos dá a consciência de sermos tão bons ou melhores que os demais. Se outros tiverem esses preconceitos, é problema deles. Que o resolvam.

P – No ato fundacional a universidade foi criada num contexto supra local ou regional (e o próprio nome remete para essa integração regional). Porém, a UBI é eminentemente a universidade da Covilhã. Haverá outro caminho? O que faltou para se cumprir esse desiderato de universidade da Covilhã, da Guarda e de Castelo Branco?
R – Temos um ensino superior dual na região, universitário e politécnico. Cada instituição das referidas cidades cumpre a sua missão. Localizamo-nos na Beira Interior, e daí o nome, mas somos hoje uma universidade cosmopolita, do mundo e para o mundo.

P – E o futuro? O que não gostaria de ver acontecer à UBI?
R – O futuro a Deus pertence. Mas o que não gostaria de ver acontecer é que alguma vez a UBI perdesse a ambição de crescer em tamanho e em ciência.

P – Qual é o impacto da Covid-19 na gestão da universidade?
R – Muito forte. A característica da UBI é de ser uma universidade muito humana, em que alunos, docentes e funcionários não são anónimos, mas pessoas com nome, e isso exige a presencialidade de corpo e alma de quem aqui estuda e trabalha. A UBI não é uma universidade à distância, mas uma comunidade de quem vive e estuda o seu dia a dia em contacto direto uns com os outros. Assim, ao mesmo tempo que assegurávamos de forma exemplar o ensino e a investigação mediante os meios telemáticos, tudo fizemos para preservarmos essa nossa característica de vivência académica conjunta. Mesmo no estado de emergência não deixámos de trabalhar e de manter a universidade aberta, cinco portarias do horário normal, as residências e uma cantina a funcionar, incluindo sábados e domingos, e uma sala da biblioteca aberta as 24 horas. Queremos agora voltar à normalidade, obviamente com as cautelas sanitárias a que pandemia obriga.

P – É possível concluir este ano letivo com aulas presenciais?
R – Estamos a reabrir as atividades presenciais e a partir de 11 de maio poderão retomar as aulas laboratoriais e outras que também exigem uma presença corpórea, como as Ciências do Desporto e algumas artes. A partir de 1 de junho teremos aulas teóricas-práticas presenciais nos casos em que os docentes acharem necessário e conveniente. A seguir teremos o período de avaliações, agora com um novo calendário, eliminando a época de exames de recurso de modo a dar mais tempo à lecionação presencial. A época especial será este ano em princípios de setembro e acessível a todos os estudantes, não apenas aos alunos finalistas.

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