Região

Quercus pede avaliação independente do fogo na Serra da Estrela

Fogo
Escrito por Efigénia Marques

A associação ambientalista Quercus pede uma avaliação independente ao incêndio na Serra da Estrela e questiona qual foi a intervenção da AGIF – Agência para a Gestão Integrada dos Fogos face a críticas à descoordenação de meios.
Em comunicado, perante as críticas ao desempenho sobre a coordenação dos meios, a Quercus questiona qual foi a intervenção da AGIF – criada para melhorar a atuação do sistema de prevenção e combate aos fogos – e lembra que, devido à destruição da vegetação nas encostas, sobretudo no vale do Zêzere, «os fenómenos de erosão com arrastamento de materiais vão ser problemáticos». A associação considera importante fazer-se «uma avaliação independente sobre este incêndio», para que fique claro o que deve ser melhorado para o futuro, e defende que deve haver prioridade máxima para a definição, antes do Inverno, de medidas de emergência na gestão pós-fogo.
A Quercus diz ter acompanhado «com preocupação» a evolução do incêndio que está a devastar parte do Parque Natural da Serra da Estrela.
Os ambientalistas sublinham que o fogo já afetou florestas e habitats biodiversos do Parque Natural da Serra da Estrela, Zona Especial de Conservação da Rede Natura, assim como geossítios do Estrela Geopark da UNESCO, e que terá «impactes severos sobre a flora, fauna, território e populações». «Os pinhais têm sido bastante afetados, assim como os matos dominados por piornais, urzais e caldoneirais», alerta a Quercus, apontando as áreas com povoamentos de castanheiros, carvalhos-alvarinhos e faias no concelho de Manteigas, «que foram pouco afetados por terem baixa combustibilidade e, portanto, serem mais resilientes ao fogo». «Devemos aprender com estas lições, para reordenar a paisagem», sublinha a associação, que chama também a atenção para a perda de biodiversidade da montanha. «Entre a biodiversidade da fauna, pode-se destacar a lagartixa-de-montanha e a salamandra-lusitânica, endemismos ibéricos que apenas ocorrem no noroeste da Península Ibérica e que tem o seu habitat destruído pelo fogo», refere a Quercus.
Na nota enviada a O INTERIOR, a associação ambientalista defende igualmente que devem ser criadas condições para a pequena agricultura e pecuária, «com a remuneração dos serviços ecossistémicos locais», que considera «essenciais para a fixação da população nestes territórios de montanha, mantendo a biodiversidade».

PNSE vai levar «décadas a recuperar»

O Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) vai demorar décadas a recompor-se, podendo haver locais do parque irremediavelmente perdidos, alerta o dirigente da Quercus Domingos Patacho.
Na classificação como Parque Natural (onde coexiste o geoparque mundial da UNESCO) foi tido em conta tratar-se de uma região com «refúgios de vida selvagem e formações vegetais endémicas de importância nacional». O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) destaca a importância das turfeiras, dos cervunais ou dos bosques de teixo, da lagartixa-de-montanha ou da salamandra-lusitânica. No parque natural tem ardido essencialmente pinheiro bravo, uma espécie autóctone para travar a erosão das encostas. «A primeira lição deste incêndio é a de que temos de ter áreas mais compartimentadas, são precisas mais folhosas, como as faias, que em manteigas foram menos atingidas pelo fogo e que poderão por isso regenerar-se mais facilmente», disse dirigente da associação ambientalista e engenheiro florestal. São essas árvores que vão demorar décadas a repovoar a zona do PNSE, considera Domingos Patacho, acrescentando que os bosques de teixo, raros em Portugal, foram até agora poupados das chamas.
O incêndio vai também afetar zonas de pastagens e de agricultura, pelo que vai ser prejudicial para o queijo, mas também para o mel. «Parte das áreas do parque que são matos podem regenerar-se. Mas não estamos a falar de 10, ou 100 hectares. Estamos a falar de milhares de hectares, de habitats dos quais dependem muitas espécies de animais, os insetos polinizadores, a lagartixa-de-montanha… tudo isto funciona em cadeia», realça. No entender do dirigente da Quercus o mais preocupante como consequência do incêndio são as encostas íngremes do Vale do Zêzere, agora sem árvores e sujeitas à erosão quando chover, como aliás já aconteceu no passado, com o arrastamento de terra e rochas, disse.

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Efigénia Marques

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