No contexto da Feira Medieval, a Câmara de Pinhel aproveitou o ambiente festivo para inaugurar no domingo a requalificação da muralha medieval da “cidade Falcão”.
A muralha, que chegou a ter cerca de 900 metros, com seis portas e três torres, teve a requalificação de 740 metros do denominado “caminho da ronda”. Segundo o presidente da autarquia, Rui Ventura, com esta intervenção «desobstruímos» o perímetro da muralha, que foi também consolidada. «As pessoas dizem-me que há cem anos que não era possível percorrer todo o caminho sobre a muralha», recordou o autarca, para quem esta intervenção vai «permitir atrair mais pessoas, mais turistas, à cidade». Na cerimónia inaugural, o edil pinhelense apelou à sua memória para recordar que brincou muito naquela muralha quando era criança e concluir que «não há nada melhor que uma criança crescer e, ao ser presidente da Câmara, poder intervir e melhorar os sítios onde ele e os demais meninos brincavam».
Presente na sessão, a Diretora Regional de Cultura do Centro, Suzana Menezes, considerou que esta valorização da muralha permite criar condições «para que os turistas possam percorrer toda a sua extensão, aproximando o que está longe». A responsável concluiu que o investimento na cultura e no património, «na valorização da memória», contribui para o desenvolvimento de «uma economia da cultura, do conhecimento e do património», pois «o turismo cultural tem hoje uma enorme relevância no desenvolvimento económico dos territórios». Já Luís Caetano, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) – Ana Abrunhosa não esteve presente por motivos de saúde – afirmou que «é assim que podemos construir uma região desenvolvida», referindo-se à aposta «sustentável» que Pinhel tem feito, nomeadamente no turismo.
A recuperação da muralha teve um custo de 285 mil euros, 85 por cento dos quais suportados por uma candidatura ao Portugal 2020. A inauguração foi um dos pontos altos da feira medieval de Pinhel, que levou alguns milhares de visitantes ao centro histórico para vivenciar este regresso ao passado protagonizado por mercadores e taberneiros, cavaleiros, nobres, exposições de artes e ofícios, animação musical e encenações. A tradicional ceia juntou este ano cerca de 350 comensais e uma missa campal completaram o quadro da então vila de Pinhel, a quem D. Dinis outorgou vários privilégios, entre os quais o de ter uma feira franca com a duração de um mês (de 8 de maio a 8 de junho).
Opinião
Assim se valoriza o Património em Pinhel
Foi inaugurada no passado domingo, 2 de junho, a obra de recuperação e valorização da Muralha de Pinhel. De planta oval irregular alongada e datada dos finais do século XIII, a muralha encontrava-se pontualmente degradada, mas sobretudo inacessível em vários pontos da sua extensão.
A atual intervenção veio possibilitar o acesso a todo o “Caminho de Ronda” (este, em cima das muralhas, e era usado inicialmente pelos soldados como percurso para proteção do interior da muralha), consolidando a muralha onde necessário e desobstruindo os pontos que com o tempo foram sendo ocupados com edificado. De uma simplicidade incrível, a atual intervenção mostra o total respeito pelo local onde se insere, pelo Património e pelo próprio centro histórico. Com materiais de pequeno impacto visual, como é o caso do ferro pintado a cinza escuro nas estruturas metálicas de acesso e de proteção ou da resina cor de ocre do pavimento do “Caminho de Ronda”, todo o percurso possui linhas puras que permitem uma completa apreciação da vasta (e incrível) paisagem, com a segurança necessária para tal.
A seleção do mesmo material para as proteções laterais, para os acessos e para os pequenos apontamentos necessários para vencer as cotas do terreno, transmitem uma uniformização de toda a intervenção, tornando o percurso num todo único. Apenas com exceção da parte superior das Portas de entrada da muralha, todo o perímetro de 800 metros do percurso possui guardas metálicas de proteção. Pormenores como a grelha metálica aberta dos degraus de acesso atribuem a esta intervenção uma grande riqueza e personalidade, pois, para além de possuir uma identidade contemporânea, proporciona também aos visitantes uma visão completa de todo o espaço, não havendo barreiras visuais entre espaços e níveis de cotas. Pontualmente, o percurso abre-se para pequenos espaços existentes (e também recuperados), que agora são verdadeiros miradouros sobre a cidade e pontos de contemplação do próprio Património.
Enquanto cidadã, técnica de Arquitetura e apaixonada pela História do Património e Centros Históricos, os meus parabéns aos técnicos profissionais responsáveis pelo excelente projeto e intervenção. Assim se valoriza o Património.
Por: Joana Correia Saraiva
* Arquiteta