Trinta e quatro anos depois do seu encerramento, o troço ferroviário entre o Pocinho (Vila Nova de Foz Côa) e Barca d’Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), na Linha do Douro, tem luz verde para reabrir. Esta segunda-feira o Governo comprometeu-se a lançar, no primeiro trimestre de 2023, o concurso público para a elaboração do estudo prévio e do projeto de reativação desta ligação de 28 quilómetros até à fronteira espanhola.
«Vamos até ao fim e vamos explorar até ao fim o potencial desta grande região, das mais bonitas do mundo, explorar e aproveitar sempre com grande respeito ambiental este nosso diamante e com isso beneficiar toda a nossa população», disse Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, em Freixo de Espada à Cinta, no final da sessão de apresentação dos estudos de viabilidade económica, técnica e ambiental da reabertura daquele troço final da Linha do Douro desativado em 1988. Para o governante, «o primeiro passo para podermos avançar com esse investimento é termos os estudos de viabilidade, os estudos prévios e o projeto feito e o nosso objetivo é lançar o concurso no primeiro trimestre de 2023». De resto, o ministro assumiu ser «muito claro que a Linha do Douro tem um potencial único no mundo, que deve ser aproveitado em toda a sua plenitude e por isso queremos que o comboio chegue à fronteira».
Também presente na sessão, Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, afirmou que «fazer este troço de via-férrea é viável em termos económicos e financeiros. O estudo é claro. E depois é também viável técnica e ambientalmente. Obviamente que temos muitos passos a dar pelo caminho. Tecnicamente pode até ser um caso de estudo. Estes estudos são imprescindíveis para nós termos sustentabilidade para se começar a trabalhar no projeto». Elaborado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), o estudo de viabilidade económica da reabilitação ferrovia entre o Pocinho e Barca d’Alva estima que o projeto tenha um custo global da ordem dos 75 milhões de euros, dos quais 60 milhões serão para a obra física, 3,5 milhões para projetos e 11,2 milhões para fiscalização e estaleiro.
Já os benefícios totais da reabertura do troço são de «84,2 milhões de euros», sendo esperados «importantes impactos» no setor do turismo (hotelaria, restauração, transportes), o que permitirá «mitigar a tendência de decréscimo» da população residente. A título de exemplo, o estudo revela que nos 26 anos de exploração do projeto, o valor acrescentado bruto (VAL) na fileira do turismo irá aumentar «em 101,2 milhões de euros a preços constantes» e serão criados «mais de 4.700 postos de trabalho, sendo que as atividades económicas mais beneficiadas serão a hotelaria e a restauração». Estes impactos económicos vão fazer-se sentir em 22 municípios ribeirinhos do Douro, entre eles Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa, no distrito da Guarda. O estudo aponta ainda para «uma procura diária de 256 passageiros no primeiro ano» e de «um crescimento constante ao longo do tempo, sendo que as principais motivações para a sua utilização são o lazer e o turismo».
Por último, a reabertura deste último troço da Linha do Douro representará uma redução do tempo de viagem «em cerca de 30 minutos», quando comparado com a alternativa rodoviária existente. Em janeiro de 2020, uma petição pela requalificação e reabertura da Linha do Douro (Ermesinde-Barca d’Alva) e subsequente ligação a Salamanca, reuniu 13.999 assinaturas, numa iniciativa promovida pela Liga dos Amigos do Douro Património Mundial e pela Fundação Museu do Douro que levou a Assembleia da República a aprovar uma recomendação ao Governo nesse sentido. O encerramento da ligação para Espanha ocorreu em 1985 e o lanço entre o Pocinho e Barca d´Alva foi desativado em 1988.
Autarcas de Foz Côa e Figueira de Castelo Rodrigo mais otimistas, mas expectantes
«Já vemos uma luz ao fundo do túnel, estamos muito satisfeitos com este anúncio, mas agora é preciso que o Governo cumpra a palavra dada», considera Carlos Condesso.
O autarca de Figueira de Castelo Rodrigo reitera que os estudos da CCDRN e da Infraestruturas de Portugal são «muito claros» quanto a este investimento ser «estruturante não só para a região, como para o país». Na sua opinião, são argumentos que tornam «irreversível» a reabertura desta ligação, sendo um investimento «necessário que irá dar um grande contributo para a economia local, nomeadamente na atividade turística», considera. O edil social-democrata espera que não haja volta atrás, como no início deste século, e que desta vez «se reponha uma injustiça feita a esta região há precisamente 34 anos». De resto, Carlos Condesso lembra que «há muitos anos que este território não vê um investimento estruturante da administração central»
Na expetativa está também João Paulo Sousa (PSD), presidente da Câmara de Vila Nova de Foz Côa. «Quero acreditar – já passou demasiado tempo para que isto se torne uma realidade – que seja desta, embora tenhamos a consciência que irá levar anos», declara, acrescentando que esta ligação deve ser pensada como sendo, «além de rentável, estruturante» para o interior. «Se tudo decorrer conforme foi dito, pelo menos já conseguimos passar desde 2009 de um plano de intenções para um plano de pseudo ação e agora vamos ver se conseguimos», sublinha João Paulo Sousa, que não quer que este projeto «se torne uma segunda TAP» e não haja «grandes derrapagens a partir de agora».
Luís Martins