Figuras que representam bovinos selvagens e cavalos em movimento são algumas das novas gravuras rupestres descobertas no Vale do Côa. Os achados foram revelados no “Côa Symposium”, que juntou especialistas mundiais na arte rupestre a propósito do 20º aniversário do Vale do Côa como Património da Humanidade e terminou na quinta-feira em Vila Nova de Foz Côa.
«Estas novas descobertas vão mudar a visão do sítio arqueológico da Penascosa, já que há um certo movimento nas figuras. Esta nova rocha gravada no xisto vai mostrar que este local é bem mais complexo do ponto de vista arqueológico do que aquilo que se pensava», disse o arqueólogo Thierry Aubry, um dos envolvidos na investigação. Os arqueólogos da Fundação Côa Parque identificaram uma longa sequência cronológica na Penascosa que vai dos 30.000 até aos 15.000 anos. Os especialistas destacam uma rocha onde é possível ver dois auroques com cabeça virada que parecem manter um diálogo. «Esta rocha é quase uma banda desenhada com movimento, porque parece que as figuras [auroques e cavalos] nos contam uma história, já que há a representação de várias cenas. Isto, para a arte do paleolítico, é muito importante», sublinhou Thierry Aubry, que acredita que novas sondagens arqueológicas irão revelar «mais surpresas».
Estas gravuras foram descobertas a poucos metros de “rocha 37”, que tem gravada uma cabra e mobilizou um novo interesse dos arqueólogos sobre o sítio da Penascosa, a escassos metros do rio Côa. «Estas descobertas revelam não só a riqueza da arte rupestre de um dos sítios mais visitados do Vale Côa, como confirma a importância da continuação de trabalhos arqueológicos, mesmo em locais que se julgam muito bem estudados ou conhecidos», sustentou o especialista. Já o presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP) defendeu que, depois de uma certa «paralisia» na investigação da Arte do Côa, num passado recente, se está agora no bom caminho, com a «refundação» da Côa Parque.
«Há um retomar da investigação multidisciplinar no Parque Arqueológico e as descobertas feitas nestes últimos dois anos estão a revelar que a Arte do Côa é muito mais ampla e antiga do que aquilo que se pensava inicialmente», declarou José Arnaut, para quem o que falta de momento é aumentar a área de prestação no PAVC para a descoberta de mais gravuras. O Parque Arqueológico tem uma extensão de 20 mil hectares e mais de meio milhar de rochas identificadas no período do Paleolítico, dos 25 mil aos 30 mil anos. Segundo os especialistas, ali está o maior museu ao ar livre do Paleolítico de todo o mundo, que, em 1998, recebeu a classificação de Património Cultural da Humanidade pela UNESCO.
Exposição assinala 20 anos como Património Mundial
O Museu do Côa acolhe, a partir de sábado, a exposição “20 anos – Vale do Côa Património Mundial”, que encerra as comemorações da efeméride.
Coordenada pelo arqueólogo António Martinho Baptista, a mostra apresenta a história da descoberta, luta pela preservação e a classificação pela UNESCO da Arte do Côa. A inauguração conta com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca. Duas horas antes terá lugar o cine-concerto em 3D “Lovecraftland”, com música de Randolph Carter (alter ego de Paulo Furtado, mais conhecido por The Legendary Tigerman) e filmes, manipulação e filmagens ao vivo de Edgar Pêra.
“O Côa na Escola” vence prémio internacional
O programa pedagógico “O Côa na Escola”, dos Serviços Educativos da Fundação Côa Parque, venceu a categoria I do 9º Prémio Ibermuseus de Educação, a que corresponde um valor monetário de 15 mil dólares.
Para o júri do galardão, ao qual concorreram 192 projetos do espaço Ibero-Americano, “O Côa na escola” promove «a aproximação da comunidade escolar de Vila Nova de Foz Côa ao património cultural e natural da região, numa vila com menos de oito mil habitantes». Graças a este prémio, o programa, desenvolvido com o Agrupamento de Escolas Tenente Coronel Adão Carrapatoso, será incluído no Banco de Boas Práticas em Ação Educativa da Rede Ibermuseus e passará a ser uma referência internacional de excelência.
Museu do Côa integra rede de Ciência Viva
O Museu do Côa vai fazer parte da rede de Centros de Ciência Viva, anunciou o presidente da Fundação Côa Parque.
«Vamos ter de fazer algumas adaptações ao nosso programa museológico para criar um conjunto de atividades mais interativas e assim proporcionar verdadeiras experiências à comunidade escolar com intuito pedagógico», adiantou Bruno Navarro na semana passada, durante o “Côa Symposium”. O responsável revelou também que o museu e o Parque Arqueológico estão a trabalhar projetos comuns com os vizinhos espanhóis e que, no âmbito dessa parceria, será montada uma exposição itinerante conjunta dedicada à arte rupestre peninsular, nomeadamente do Vale do Côa e de Siega Verde (Espanha), ambos Património da Humanidade. «Contamos que este trabalho científico passe pelo Museu Arqueológico de Madrid e pelo Museu de Arqueologia de Lisboa, entre outros espaços culturais», adiantou Bruno Navarro. Para 2019 está ainda previsto implementar, através da Fundação e da Junta de Castela e Leão, um Serviço de Informação Geográfica (SIG) para mapear toda a área de Siega Verde e do Vale do Côa. Já do “Côa Symposium” saiu a sugestão de criar uma grande rota da arte pré-histórica portuguesa.