Com as vindimas quase concluídas por toda a região é tempo de fazer contas campanha deste ano e às uvas que deram entrada nas adegas. Depois de um ano atípico, com condições meteorológicas extremas, as vinhas cederam e parte do fruto foi destruído.
A Comissão Vitivinícola da Beira Interior já tinha alertado em setembro para uma «redução acentuada» de uvas, mas acrescentou que a qualidade dos néctares da região não estava comprometida. Exemplo disso é Figueira de Castelo Rodrigo que, tal como nas demais Adegas da região, regista uma quebra na campanha deste ano. «Primeiro tivemos a intempérie, veio o granizo, a geada, muita chuva e para terminar sofremos um escaldão nas vinhas», condições meteorológicas adversas que provocaram «prejuízos elevados», confirma António Madeira. O ano anterior também já tinha sido difícil e deu menos 30 por cento das uvas que um ano normal: «Este ano estimamos que a perda seja de 50 por cento», adianta o presidente da Cooperativa.
Em cada vindima a Adega de Figueira de Castelo Rodrigo costuma receber cerca de 8 milhões de quilos de uvas, um número «impossível de alcançar este ano», garante o responsável, que aponta para uma redução estimada «de 25 a 80 por cento». Com menos produção, é inevitável que «a economia fique abalada» e António Madeira teme que esta situação gere «dificuldades a alguns produtores». No entanto, menos uvas não significa menos qualidade, essa, António Madeira, garante que é «excelente». Contudo, mais qualidade e menos oferta não significa que venha a existir uma valorização do vinho este ano. «Vivemos numa economia global, pelo que não podemos praticar preços desfasados, temos de acompanhar o valor dos vinhos estrangeiros que têm preços mais competitivos», refere o dirigente.
Apesar de já ser certo que este ano haverá menos vinho em Figueira de Castelo Rodrigo, a Adega vai contrariar a crise e conta lançar brevemente mais «um vinho único no mundo, um espumante tinto».
Uvas de Vila Franca das Naves podem estar a ir para o Douro
Também em Vila Franca das Naves «há muito menos uvas que o normal». Em relação ao ano passado a quebra é de 30 por cento, mas comparativamente a um ano «normal», a redução chega aos 50 por cento. Segundo o vice-presidente da Cooperativa, a média costuma rondar os 4,5 milhões de quilos de uvas por ano, mas em 2018 já é certo que «não chegamos lá». Joaquim Gamboa teme que nem os dois milhões sejam alcançados, pois embora estivesse previsto que a vindima se prolongasse até dia 20, deverá terminar ainda esta semana devido às previsões de chuva para os próximos dias e «pelo que temos até agora não vamos alcançar os dois milhões», admite o responsável.
Quanto aos vinhos, será pouco provável que haja novidades. «Nada de euforias», justifica Joaquim Gamboa, apontando para a redução de uvas. O «essencial» é manter as marcas já existentes e por isso o grande foco da direção é «continuar a comercializar» os vinhos que já estão no mercado. Um coisa é certa: «Teremos bom vinho, porque temos uvas muito boas», sublinha o dirigente. A Adega de Vila Franca das Naves enfrenta ainda outra preocupação, a de recear que produtores do Douro venham comprar uvas aos seus associados. Segundo Joaquim Gamboa, «naquela região também há menos uvas e vêm aqui comprar. Como recebem apoios, podem oferecer valores mais altos pelas uvas e nós não temos como contornar a situação e isso afeta a nossa produção», denuncia.
Adega do Fundão promete novidades
Na Adega do Fundão também não há margem para dúvidas, a «campanha deste ano está fraca», confirma António Madalena. Os números não diferem dos casos anteriores e as perdas são de 30 por cento relativamente ao ano passado. Como 2017 também tinha «sido fraco», a direção da Cooperativa tinha a «expectativa de que este ano fosse receber mais uvas», mas 2018 revelou-se um ano de «muitas contrariedades», inclusive algumas castas «não foram produzidas, como o Tinta Roriz», revelou o presidente da Adega fundanense.
Às suas instalações, para além de uvas do concelho, chegam também da Covilhã, Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Proença-a-Nova e «todas estas zonas ficaram muito afetadas». Além da praga do míldio, «as temperaturas muito elevadas de agosto também nos prejudicaram e deixaram as vinhas secas», diz o responsável. No entanto, nem tudo está perdido e as uvas que chegam «vêm com boa qualidade, em bom estado sanitário e de maturação».
Com cerca de 450 associados, a Adega do Fundão produziu em 2017 cerca de 800 mil litros de vinho e este ano serão entre 500 e 600 mil litros. Uma redução que não impede a instituição de pensar em novos néctares e «em breve poderá haver novidade, estamos pelo menos a trabalhar para isso», declara António Madalena.