Sessenta e seis dos 157 operários que laboram na Dura Automotive vão ser despedidos. A notícia foi confirmada a O INTERIOR por Paulo Ferreira, da comissão de trabalhadores da fábrica de componentes para automóveis sediada em Vila Cortês do Mondego (Guarda). O responsável afirma que «não sabemos ainda precisar quando isso vai acontecer, mas suspeitamos que já não seja este ano», sublinhando que não estão ainda definidos critérios para a seleção dos funcionários a dispensar nem datas limite.
Paulo Ferreira adianta ter ficado decidido no plenário de trabalhadores entretanto realizado que «quem sair terá direito a uma indemnização de dois meses por cada ano de trabalho», ao contrário do que foi referido pela SIC, que mencionou apenas um mês de compensação aos trabalhadores despedidos. O representante da comissão de trabalhadores acrescenta que a multinacional «não quer ir além do estabelecido por lei», mas assegura que isso não será suficiente e que os trabalhadores da Dura «continuarão a lutar por valores indemnizatórios mais altos». Além dos despedimentos, as condições de quem se vai manter na fábrica vão sofrer alterações. Paulo Ferreira revela que os funcionários que não serão despedidos «foram forçados a fazer cedências, como bancos de horas, redução do pagamento de horas extraordinárias, congelamento de salários e não receberão o prémio de fim de ano».
Como contrapartida há apenas garantias de que manterão os postos de trabalho durante dois anos (2020 e 2021), o prazo de continuidade da empresa em Vila Cortês do Mondego assumido pela administração. O congelamento de remunerações estará em vigor durante o mesmo período, mas «foi acordado que a situação será revista anualmente», refere Paulo Ferreira. De resto, os trabalhadores rejeitaram a proposta de uma redução salarial de 5 por cento. Além dos despedimentos agora anunciados, Paulo Ferreira relata que «a incerteza» e «o cansaço» estão instalados nos trabalhadores, o que afeta seriamente a lado psicológico, mesmo daqueles que se mantêm.
A situação da Dura Automotive sofreu um forte declínio com o fim das encomendas da Boco, um fornecedor da Mercedes, que anunciou a cessação do contrato com a fábrica a 31 de agosto. A saída deste cliente pôs em causa a continuidade da fábrica já que este era o responsável de cerca de 50 por cento da faturação. A situação de falta de trabalho consolidou-se na passada sexta-feira, data em que foi concluída a derradeira encomenda da Dura Automotive para o grande cliente que agora perdeu. «São 70 e tal trabalhadores que estão parados na fábrica e que a empresa tenta ocupar com formações e atividades semelhantes», conta o seu representante. «As pessoas estão cansadas. É muito complicado para um funcionário estar numa fábrica desocupado, sem tarefas para desempenhar», garante Paulo Ferreira. A Dura Automotive labora desde a década de 90 nas instalações da antiga FEMSA, em Vila Cortês do Mondego. Apesar das lutas dos trabalhadores e das negociações estatais com a adminsitração a continuidade da firma é um horizonte cada vez mais longínquo.