P – O tema desta edição da Feira das Tradições é a preservação ambiental. É sinal dos tempos?
R – Também é um sinal dos tempos, mas a escolha deste tema teve a ver, acima de tudo, com o problema dos incêndios e entendemos contribuir um pouco para a pegada ecológica. Com esta edição da Feira das Tradições queremos que os pinhelenses e quem nos visita tenha mais preocupações ambientais. Também a autarquia deu prova dessa preocupação no dia da apresentação da feira mostrando uma intervenção que nos obriga agora a preservar aquilo que temos estado a fazer, nomeadamente nas zonas ribeirinhas. Quando fizemos aquela intervenção na Ribeira das Cabras criámos um pequeno laboratório de como se faz, com métodos tradicionais, a limpeza daquela área na ponte do Freixo. O nosso objetivo agora é, conjuntamente com a Câmara de Almeida, sensibilizar as pessoas dos dois concelhos para potenciar a divulgação e a possibilidade de visitação daquele espaço.
P – Será uma espécie de estação ambiental?
R – No fundo é isso. Há aqui a possibilidade de transformar este local num observatório de como se pode intervir, preservar e transformar as zonas ribeirinhas. Esta intervenção também pode ser um exemplo a seguir pelos empresários agrícolas e os proprietários de terrenos nas margens de rios e ribeiras no concelho e na região sem gastar muito dinheiro.
P – O que tem feito o município nesta área?
R – Pinhel vai inaugurar em 2019 dois grandes parques, a remodelada Trincheira e o parque urbano. Há aqui uma grande preocupação em termos ambientais e da melhoria da qualidade de vida dos pinhelenses. Quem entra na cidade de Pinhel constata que essa preocupação não é de agora. Mas há uma área que nos tem vindo a preocupar muito, que é a separação dos lixos. Aqui ainda tempos um caminho muito longo para fazer. A Câmara de Pinhel não é das melhores na separação dos lixos na área de intervenção da Resiestrela. Este ano instalámos ecopontos em todas as freguesias, estamos agora numa fase de sensibilização na comunidade escolar e vamos passar para o público em geral nas freguesias. Esse trabalho tem que ser feito e é importante, também para diminuir os custos que o município tem tido neste domínio. Infelizmente esses custos têm aumentado e isso preocupa-nos porque a tendência é não aumentar. O trabalho está a ser feito por um gabinete, que tem feito propostas e algumas delas serão eventualmente algos chocantes – eu próprio pedi que fossem colocadas imagens daquilo que acontece no concelho. Felizmente que não temos muitas situações dessas, porque temos contado com a colaboração das Juntas de Freguesia, mas há algumas. A Câmara faz a recolha de monos porta-a-porta e as pessoas ainda não se deram conta disso e continuam a deitar fora um colchão velho ou um eletrodoméstico. É preciso informar os munícipes que este serviço existe todas as semanas, passa à sua porta e pode recolher esses monos, que serão depois levados para o sítio próprio. O nosso objetivo é que não haja lixo despejado à beira da estrada ou espalhado pelas matas e estamos determinados a fazê-lo. Quanto mais preservarmos o meio ambiente mais as pessoas têm apetência para vir para o nosso território.
P – Este ano aposta-se também no fim dos copos de plástico no certame.
R – É uma medida que tem a ver com o tema da feira e que vamos repetir nos próximos eventos organizados pelo município ou associados à Câmara. A partir deste fim de semana todos terão que ter copos recicláveis. O nosso objetivo é deixar de ter aquele “mar” de copos no final da festa. Vamos vender copos recicláveis a um euro e depois haverá espaços para se lavarem. Acredito que vamos poupar muito dinheiro com esta medida e vamos dar um sinal para as pessoas perceberem que é preciso cada vez mais acautelar o meio ambiente. Outra iniciativa diferenciadora é que vamos distribuir sacos de papel aos expositores em vez dos habituais sacos de plástico.
P – Nos últimos anos também houve o cuidado por parte do município de requalificar alguns espaços da cidade. Vai continuar a melhorar a imagem urbana da sede do concelho?
R – Sem dúvida. Sou defensor de zonas urbanas bonitas e cuidadas, até porque também influem na qualidade ambiental. Quando fazemos de Pinhel quase uma cidade-jardim há uma despesa por detrás disto, com a rega dos espaços no Verão. Só para ter uma ideia este ano vamos investir cerca de 200 mil euros para reabilitar a antiga conduta de água que abastecia a cidade pelo rio Côa, que é a que faz o sistema de rega e tem mais de 50 anos. Vamos ter que investir para podermos continuar a ter esta qualidade de vida porque se colocarmos a cidade limpa, com um ambiente agradável, também com mais arte na rua, isso faz com que os pinhelenses cuidem daquilo que é deles e faz com que quem nos visite fique agradado com o que vê. Temos uma estufa municipal onde se está sempre a produzir para podermos ter plantas, flores, arbustos e árvores na cidade e nas aldeias. É uma preocupação constante que temos.
P – Também se tem apostado na recuperação de espaços devolutos.
R – A Câmara tem que dar vida à cidade e isso é dar orgulho a quem cá mora, que tem que perceber que temos uma preocupação particular com pequenas coisas. E em cidades como a nossa, no interior, com pequenas coisas faz-se muito. A recuperação da Fonte Nova é um bom exemplo porque era o local onde os mais antigos namoravam. Hoje, esse património está no centro da cidade, junto à escola, mas estava ao abandono e nem sequer se sabia que existia ali uma fonte de mergulho que tem água durante todo o ano. O que fizemos foi recuperar o que estava, dar-lhe um aspeto moderno com um trabalho extraordinário da nossa arquiteta Joana Correia Saraiva e temos hoje um espaço que é novamente desfrutado pelas gerações mais jovens. É isso que estamos a fazer em Pinhel, como é o caso do auditório ao ar livre no centro histórico, também da mesma arquiteta, onde não havia espaço para os residentes e os visitantes poderem estar. Recuperámos, não destruímos nada, para que aquele espaço seja útil para a comunidade. Já fizemos lá sessões do “Museu à Noite” e espetáculos, é este tipo de obras que acho fundamentais numa cidade como a nossa. O parque de estacionamento atrás da igreja é outro exemplo: não quisemos desconfigurar a rua e mantivemos a fachada da casa em ruínas que ali estava para as pessoas perceberem como é que antigamente se pensava o espaço urbano. Aquilo não foi feito ao acaso, destruí-lo era o pior que podíamos fazer e resolvemos o problema do estacionamento. Esta é a forma de pensarmos na Câmara Municipal: dar à cidade um aspeto moderno, mantendo sempre a sua traça antiga.
P – Voltando à Feira das Tradições, este ano o espaço expositivo voltou a aumentar. Deve-se à procura por parte dos expositores ou à vontade de proporcionar mais conforto aos visitantes?
R – Deve-se, em primeiro lugar, à própria dinâmica da Feira das Tradições, que tem 14 mil metros de área coberta, de nunca ser igual. Mas fundamentalmente essa opção tem a ver com dois aspetos. O primeiro é que as duas empresas que laboram ali poderem estar num só pavilhão, é mais do que suficiente, os próprios empresários ficaram satisfeitos com a sugestão e nós também. A outra tem a ver com o conforto das pessoas, não com o aumento de expositores porque o número atual, cerca de 200, é suficiente. E tem também a ver com os custos associados à feira. Poderíamos manter toda a estrutura do certame e mais esse pavilhão, mas optámos por reduzir o espaço das tendas, que, no fundo, fazem o acesso aos pavilhões, e depois proporcionar mais conforto a quem nos visita, o que não deixa de ser importante. A Feira das Tradições teve sempre essa preocupação.
P – Quais vão ser os principais destaques da 24ª edição da Feira das Tradições?
R – Quem chegar à feira, a primeira coisa que vê são as nossas freguesias e depois também o stand da localidade espanhola de Guijuelo, que estará no meio das freguesias de Pinhel. Foi uma opção porque vamos assinar o acordo de geminação no primeiro dia da Feira. Nesse pavilhão ficará também o palco principal, que vai acolher na sexta-feira um espetáculo com 400 pessoas da Academia de Música, Banda Filarmónica e outras coletividades. No pavilhão seguinte as pessoas vão encontrar os stands institucionais e depois entram no espaço reservado aos nossos produtores de vinho, mel, azeite, frutos secos e doçaria. Mas este ano há uma novidade. No tal pavilhão que ficou disponível colocámos todos os produtores regionais de queijo e enchidos, naturalmente que os nossos de forma diferenciada. Até aqui estávamos fechados com os nossos produtores, mas queremos abrir este certame à região. É aí que fica também o tal espaço de lazer muito amplo, onde as pessoas se podem sentar, estar e descontrair. É um sítio para o convívio e isto é fundamental.
P- Portanto, além de Pinhel, vamos encontrar este ano os produtores da região?
R – Cada vez mais. A partir desta edição queremos ter cada vez mais a região na Feira das Tradições porque essa é a nossa realidade, o nosso território. Pinhel estará sempre em destaque, mas queremos ter muito mais que Pinhel e dar destaque à região. É uma forma de envolver as pessoas dos outros concelhos e de atrair mais gente à Feira das Tradições. Esse destaque começará nesta feira
P – O primeiro-ministro já confirmou a presença na inauguração do certame?
R – Não. O senhor primeiro-ministro está convidado para vir à Feira das Tradições, mas não se faz representar. Ou vem ele, ou inaugura o presidente da Câmara, que é quem paga. A Feira das Tradições é o maior evento de Inverno na região, portanto não aceito que o primeiro-ministro não aceite vir inaugurar o certame. Percebo a sua agenda, Pinhel não será seguramente a sua prioridade, mas como ele sai todas as sextas-feiras pelo país este convite não é coincidência.
P – Em termos de visitantes, é expetável ultrapassar as 55 mil pessoas registadas no ano passado?
R – A Feira das Tradições tem tido um número estável de visitantes, de 52 a 54 mil visitantes, nos últimos anos. Acredito que vamos continuar a manter esse número, se aumentar melhor, mas já é um número muito bom para aquilo que fazemos porque é real. No entanto, há um problema que se põe sempre, que é ter condições para receber as pessoas que nos visitam. Não abdico de proporcionar conforto e segurança aos visitantes da Feira das Tradições, isso é fundamental. Se quem vier ficar satisfeito vai passar a palavra e não há publicidade melhor do que essa. Na minha opinião, tem sido esse o grande “clique” da Feira das Tradições. Basta ir ao Facebook e ver os pinhelenses emigrados a exibirem o bilhete de avião de ida e volta para este fim de semana, é uma coisa brutal! Enche-nos de orgulho. O certame já é um ponto de encontro para amigos, famílias e antigos colegas de escola.
P – Qual é o orçamento para esta edição e quais são os apoios?
R – Esta edição vai ter um investimento de 350 mil euros, não é gastar, mas investir 350 mil euros na promoção do território. Quanto custa promover desta forma um território num canal de televisão, numa rádio ou num jornal nacionais? Se quiséssemos promover, com esta dimensão, o nosso concelho numa televisão não nos chegavam 100 mil euros. Neste momento temos como principais sponsors da Feira das Tradições a Superbock, a Matos & Prata e a Caixa de Crédito Agrícola. De resto, este ano aumentámos o valor dos stands e obrigamos os expositores na área da restauração, independentemente de serem associações, a terem CAE para o efeito e a faturar. A feira está a atingir números em que temos que reforçar a preocupação nalguns aspetos para não manchar a imagem do certame. Já estamos a falar de números muito significativos de faturação, pelo que a Câmara, sendo uma entidade pública, não pode proporcionar, ou compactuar, com a fuga ao fisco.
P – Já obteve resposta à reivindicação da ligação do concelho ao IP2 a partir de Cidadelhe?
R – Não há. Era algo que desejávamos em Pinhel porque essa ligação ao Norte do país era muito importante para o nosso concelho e para os municípios vizinhos, mas vamos continuar a reivindica-la. Se o senhor primeiro-ministro vier à Feira das Tradições é uma das reivindicações que vamos fazer. Também considero inadmissível que não se faça a requalificação da Linha do Douro, do Pocinho a Barca d’Alva, que é fundamental para o turismo nesta região. O Douro está na moda e acaba aqui no nosso território e temos que tirar partido disso. Há um potencial enorme para Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo e Almeida se reabrirem esse troço.
«Não vamos prolongar o arrendamento do Centro Logístico»
P – Já conseguiu apoios comunitários para a construção de um novo pavilhão multiusos?
R – Ainda não os consegui porque não há fundos comunitários para esta obra. Mas a solução poderá não passar por aí. A Câmara de Pinhel tem três anos para pensar naquilo que vai fazer no espaço da antiga Rohde, que é alugado. Ou opta por adquirir definitivamente aquela área, mas por um preço justo, ou vai construir pavilhões novos. O contrato termina daqui a três anos e a Câmara tem obrigatoriamente que tomar uma decisão: negoceia com o proprietário dos espaços do Centro Logístico ou avança para um projeto de raiz, com fundos comunitários, o que tem que ser desenvolvido a partir de agora. Não vale a pena esconder nada, há contratos, eles estão assinados, têm um prazo e há posições que têm que se tomar em nome da boa gestão deste município. A aquisição não pode ser feita pelos preços que estavam pensados há uns anos, nem pouco mais ou menos, porque a economia mudou, a Câmara foi alugando, foi melhorando e tudo isto conta. É a decisão que o município vai ter que tomar e que vamos formalizar junto do proprietário. O certo é que daqui a três anos temos que resolver o problema e temos que meter mãos à obra. Outra hipótese é renovar o contrato, mas eu não sou defensor da renegociação do arrendamento da Rohde.
P – Quanto é que pagam neste momento?
R – São 20 mil euros por mês, ou seja, 240 mil euros por ano. O espaço está arrendado há seis anos, é uma “prenda” que vem de trás e não estou para continuar com isto. Isto é insuportável para a Câmara de Pinhel. Fui eleito para tomar decisões e é isso que vou fazer.