Perante centena e meia de apoiantes na Praça Velha, no sábado, na apresentação oficial da candidatura, no mesmo cenário da Cimeira Ibérica, o atual diretor do estabelecimento prisional local apontou o dedo a Álvaro Amaro e Carlos Chaves Monteiro. «A cidade e o concelho viveram nos últimos oito anos numa espécie de mundo encantado, em que nos foram iludindo com coloridas mensagens, primeiro de uma Guarda com futuro e mais tarde de uma Guarda confiante», começou por apontar, concluindo que tudo não passou de «promessas vãs» porque «esse futuro nunca chegou». Particularizando, o candidato acrescentou que o concelho foi «traído» por Álvaro Amaro, que recebeu «um expressivo mandato» para servir a Guarda e «apenas se serviu dela virando-lhe as costas na primeira oportunidade». Para o independente, a cidade mais alta foi «apenas um troféu de caça, parte de um plano devidamente delineado, mas devidamente egoísta, ao sabor do desejo que depois de mim o caos e quanto pior melhor».
De «traição» foi também acusado quem ficou no executivo: «O clima de guerrilha a que temos assistido nos últimos dois anos não é fruto do acaso, foi planeado para que não ficasse pedra sobre pedra. Dos dois lados há incapacidade, fraqueza, falta de preparação que antes não se notava porque eram obedientes e veneravam um só mestre», considerou, antes de apontar que «há quem pareça promissor quando obedece, mas revela-se da pior maneira possível quando passa a mandar». Uma indireta a Chaves Monteiro, o «presidente da Câmara substituto», que, na opinião de Luís Couto, está «completamente esgotado e cansado, incapaz de definir uma estratégia. É o timoneiro de um barco à deriva, com a tripulação desmotivada». Para o candidato do PS, o atual autarca «não soube estar à altura das circunstâncias, nem tem condições para continuar».
E isto porque a Guarda perdeu «oportunidades e confiança», fruto de uma autarquia «sem rumo, projeto ou governo e liderança», pelo que «temos o dever, a urgência, de apresentar ao eleitorado uma alternativa credível capaz de devolver à Guarda a esperança e a força que sempre nos caracterizaram», proclamou. Feitas as críticas, Luís Couto comprometeu-se a envolver os guardenses na construção de uma «cidade competitiva, cosmopolita, capaz de se afirmar por si própria, pelos seus recursos, cultura, capacidade de criar emprego e riqueza». Entre as suas apostas está desde já o desenvolvimento das freguesias rurais, que são a «base do progresso da cidade e do fortalecimento do concelho como um todo», justificou. Quer também organizar uma «grande feira» no Verão e anunciou que irá criar «de raiz» uma nova estrutura orgânica municipal, «moderna, eficiente, habilitada profissionalmente e séria». Esta será uma das suas primeiras decisões porque é preciso que «todos os projetos ou iniciativas tenham uma solução rápida e eficiente» por parte dos técnicos. De resto, o cabeça de lista do PS denunciou que se vive «um clima de medo» entre os trabalhadores da Câmara. «Têm-me chegado relatos e até pedidos de ajuda que me deixam escandalizado. Há perseguição pessoal e desvalorização profissional», garantiu.
Já o balanço de Luís Couto quanto ao «projeto político em ruínas» da maioria social-democrata resume-se «a rotundas, cada uma à razão de meio milhão de euros». Tudo o resto não saiu do papel: «Onde funciona o centro tecnológico automóvel? E onde está o programa de apoio ao investimento e promoção de emprego? Alguém conhece o sistema de apoio financeiro à recuperação de edifícios particulares? O que é feito do quarteirão das artes? E onde vai ficar o centro de interpretação da cultura judaica? E o programa municipal de apoio às IPSS? E o CET? E a Alameda para a VICEG? E a variante da Sequeira, ou a ciclovia? E a despoluição dos rios Diz e Noeme?», elencou.
«Salvam-se os passadiços, já muito atrasados na novidade», ressalvam, apontando o dedo às requalificações que deixam algumas ruas da cidade «pior do que estavam, porque é tudo à pressa, à boa maneira da política velha, de abrir buracos em cima das eleições». O candidato assumiu entretanto alguns compromisso, como o de «repensar» a Praça Velha, e de desafiar os guardenses a refletir sobre o futuro da antiga Casa da Legião. Dizendo nada ter contra o centro de arte contemporânea anunciado pela Câmara, Luís Couto quer aproveitar para fazer «o tão reivindicado» estacionamento subterrâneo que sirva o centro histórico e abrir uma «nova praça» entre a porta principal da Sé e o Solar Teles de Vasconcelos. Quanto à candidatura a Capital Europeia da Cultura, que apoia, só lamenta que o processo seja «opaco, desenraizado da sociedade e coloca à margem as pessoas e associações. Oxalá não seja mais uma oportunidade perdida».
Mais otimista está com o avançar, «de uma vez por todas», da segunda fase da requalificação do Hospital Sousa Martins porque conta com «o comprometimento do Governo para que isso aconteça, se assim não fosse tinham-me à perna». Que será o que vai acontecer à Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela quando assumir a presidência da autarquia: «Comigo, a CIMBSE não será apenas uma casinha na Praça Velha, de porta fechada, sem prestar contas acerca do que lá se faz. Assumirei a reivindicação da liderança e verdadeira capitalidade da Guarda para transformar a Comunidade Intermunicipal num organismo ativo e interveniente para servir os cidadãos», sublinhou.
«Chegou a nossa hora!», diz Ana Mendes Godinho
«Chegou a nossa hora Luís Couto! É a hora do PS» para «quebrar o marasmo» da gestão autárquica na Guarda.
O desafio foi lançado no sábado por Ana Mendes Godinho, candidata do PS à Assembleia Municipal, para quem «é preciso energia, foco, determinação e aceleração» para mudar o rumo de um bastião socialista conquistado por Álvaro Amaro em 2013. Características que a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social vê no independente que encabeça a lista à Câmara: «É a pessoa certa para liderar esta mudança e este momento crucial de viragem que não podemos desperdiçar», assumiu. Na sua intervenção, a governante recordou «a obra» do PS na Guarda, dos investimentos culturais, à requalificação urbana e passando pelo trabalho nas freguesias rurais, e evocou Abílio Curto e Maria do Carmo Borges, mas esqueceu-se de Joaquim Valente. Ana Mendes Godinho falou depois do trabalho do Governo nesta pandemia, sublinhando que «nós arregaçámos as mangas, transformamos o impossível em possível e criámos apoios extraordinários nunca feitos ao contrário de outras crises, em que o PSD decidiu fazer cortes, aplicar receitas de austeridade que pareciam ser as únicas possíveis e convidar os jovens a emigrar».
Antes, António Monteirinho, líder da concelhia guardense, apelou à união dos socialistas em torno dos candidatos porque é necessário «um novo rumo» para a Guarda. «As próximas autárquicas podem ser uma oportunidade para a nossa região. Juntos teremos que erguer a nossa economia, a nossa cidade e devolver o orgulho perdido. Apelo por isso a todos que apoiem, pois a vitória nas próximas autárquicas está ao nosso alcance», afirmou, sublinhando que o PS foi o garante da «estabilidade política» na Guarda nos últimos anos ao exigir aos responsáveis do município «contenção e responsabilidade». «O PS nunca falta, nem faltará, à Guarda», acrescentou António Monteirinho.
Alexandre Lote foi outro dos oradores, tendo agradecido a Monteirinho por ter abdicado de ser candidato. O presidente da Federação não poupou elogios a Luís Couto, «um humanista, competente, confiável, com mundo e que sabe o que quer para a Guarda e isso é importante para o futuro da cidade». O dirigente também não esqueceu a «luta fratricida» entre os sociais-democratas pelo poder, mas para dizer que «essa não é a nossa matriz». Alexandre Lote garantiu também que o Governo «tudo tem feito, apesar das circunstâncias difíceis que vivemos, para ajudar a Guarda», o problema é que «quem lidera a cidade não sabe para que porto se dirige». A concluir, o líder federativo disse ter «a certeza» que Luís Couto «nos vai conduzir a uma grande vitória».
Por sua vez, José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do partido, garantiu que «sempre que o PS esteve no poder a Guarda progrediu, quando não está a Guarda regrediu e estagnou», antes de elogiar o candidato. Maria da Luz Rosinha, dirigente nacional, e António José Dias de Almeida, que sublinhou ser a primeira vez que um independente concorre à Câmara da Guarda, foram outros dos oradores desta sessão.