Seis meses depois da pesada derrota do PSD nas eleições legislativas, o partido tem uma nova direção para suceder à inepta liderança de Rui Rio. Seis meses depois de o PS terá arrasado com as oposições, pode voltar a haver oposição em Portugal – e o país precisa com muita urgência de salvar a Democracia, de recuperar o debate político e de renovar o nível de exigência em prol de todos: sem oposição o país não progride.
Luís Montenegro vai ter imensas dificuldades na liderança do partido e na promoção de uma alternativa – tem quatro anos de maioria absoluta do PS, uma bancada parlamentar de fiéis a Rio, escolhidos por cortesia pessoal e não pela qualidade política. E não tem por onde crescer – o PS governa ao centro, a IL e o Chega ocupam parte da direita. Ainda assim Montenegro começa com a união do PSD, juntando fações e conquistando os quadros mais importantes do partido, o que é da máxima relevância, especialmente considerando que tem de sobreviver e resistir a quatro anos na oposição sem sequer ter lugar no parlamento. E começou bem discutindo o país e o futuro (errando no afastamento de um referendo sobre a regionalização) sem perder tempo com chorrilhos de lamentações ou a novela Pedro Nuno Santos.
Entre os quadros que juntou à sua volta, e para além de Paulo Rangel ou Pinto Luz, que foram candidatos à liderança do partido, Luís Montenegro promoveu Rui Ventura, presidente da Câmara de Pinhel e um dos dirigentes laranjas de referência na região. A ascensão de Ventura à Comissão Política Nacional do PSD dá-lhe uma responsabilidade acrescida e também uma notoriedade e visibilidade que vai muito para além da região. E é esse peso e responsabilidade nacional que será determinante para o seu futuro: no seu terceiro e último mandato em Pinhel, Rui Ventura tem tudo para ser a figura de referência no PSD regional, mas também a responsabilidade de servir o partido e a região de uma forma exemplar e superior. O edil de Pinhel terá, como Montenegro, muitas dores de cabeça para resolver e ajudar o PSD na recuperação eleitoral do partido, que foi relegado para longe do poder em 2015: poderá ser deputado em 2026, mas também poderá ser o candidato do PSD à Câmara da Guarda em 2025, até porque, como se viu na última Assembleia Municipal da Guarda, a concelhia estreitou o caminho para um putativo regresso de Sérgio Costa ao PSD, naquele que foi o maior ataque político do presidente da secção local, Júlio Santos, ao presidente da Câmara, exibindo um distanciamento inaudito.
Por outro lado, Rui Ventura poderá ganhar espaço e a notoriedade que a região precisa. Na verdade, e não esquecendo o bom desempenho de Carlos Peixoto na Assembleia da República, para além de Álvaro Amaro, o PSD não deu nunca espaço a militantes da Guarda (e Álvaro Amaro conquistou-o a partir de Coimbra). A partir da Guarda, nenhum dirigente social-democrata conseguiu antes estar nos órgãos máximos do partido (sem ser por inerência) – Ana Manso esteve perto e Marília Raimundo chegou a patamares elevados a nível nacional, mas seria depois excluída por Cavaco Silva.
Considerando que o governo do PS inclui Ana Abrunhosa, deputada por Castelo Branco, e Ana Mendes Godinho, deputada pela Guarda, duas forças da natureza e com peso determinante na governação, é importante que também na oposição haja dirigentes de referência originários ou com ligação ao distrito. Assim, não será por falta de peso político que “as coisas” não irão acontecer na região; não será por falta de capacidade política, influência ou presença ao mais alto nível de dirigentes da região que ficaremos de fora das grandes opções do Estado. Esperemos que nos próximos anos a influência política e partidária de Ana Mendes Godinho, Ana Abrunhosa ou Rui Ventura contribuam para a mudança de paradigma tantas vezes reivindicado. E deixo desde já um repto: num momento em que estamos próximos da decisão da construção de linha ferroviária de alta velocidade Lisboa-Porto-Vigo, que a ligação de Portugal à Europa se faça a partir de Aveiro, pelo eixo Viseu-Guarda-Salamanca. Portugal, vergonhosamente, ficou muito para trás no transporte ferroviário e não tem qualquer ligação à Europa, vai sendo tempo de a definir e com passagem pelo distrito da Guarda.
Viva a oposição
“Como se viu na última Assembleia Municipal da Guarda, a concelhia estreitou o caminho para um putativo regresso de Sérgio Costa ao PSD, naquele que foi o maior ataque político do presidente da secção local, Júlio Santos, ao presidente da Câmara”