Um Partido comprometido com os valores de Abril

Escrito por Honorato Robalo

“As me­didas avan­çadas pelo Go­verno, para lá de não re­sol­verem os pro­blemas ime­di­atos que aí estão a in­fer­nizar a vida de muitos mi­lhares de por­tu­gueses, na prá­tica cons­ti­tuem mais be­ne­fí­cios fis­cais para os mesmos de sempre ao co­lo­carem os re­cursos pú­blicos a pagar os lu­cros da banca e dos grandes interesses imo­bi­liá­rios. “

O Partido Co­mu­nista Por­tu­guês assinalou, no passado dia 6 de março, 102 anos de luta ao ser­viço do povo e da pá­tria, pela de­mo­cracia e o socialismo.
Não focamos apenas a nossa intervenção militante nos espaços da dita democracia burguesa. A intervenção que pros­segue na atualidade e se projeta no fu­turo. In­ter­venção que se con­cre­tiza hoje na luta pelos di­reitos dos trabalhadores e do povo, pela re­so­lução dos pro­blemas na­ci­o­nais, pelo desenvolvimento do país. Uma luta pela rutura com a po­lí­tica de di­reita responsável pelas de­si­gual­dades e as in­jus­tiças com que es­tamos confrontados, pelo au­mento do custo de vida, pelos baixos sa­lá­rios e pensões, pela po­breza, pelo au­mento dos custos com a ha­bi­tação, pelo desinvestimento nos ser­viços pú­blicos, pelo ataque ao SNS, pelas di­fi­cul­dades e os sa­cri­fí­cios que afetam a vida do povo por­tu­guês. Uma po­lí­tica que, em vez de res­ponder aos pro­blemas e an­seios dos tra­ba­lha­dores, do povo e do país, pro­tege os in­te­resses dos grupos eco­nó­micos e os seus lu­cros fa­bu­losos (que, entre os que estão sediados no PSI-20, só em 2022 so­maram 11 mi­lhões de euros por dia).
Uma po­lí­tica que quer PS (com as res­pon­sa­bi­li­dades que as­sume no Go­verno), quer PSD, CDS, Chega e IL (que o apoiam em todas as ques­tões es­sen­ciais) tudo fazem para pros­se­guir e agravar.
A cam­panha contra o setor pú­blico, os ser­viços pú­blicos, as em­presas públicas, de que é exemplo o ataque ao SNS com o en­cer­ra­mento de ser­viços de proximidade ou redução com o argumento da baixa procura, todos sabemos do elevado índice de envelhecimento do nosso distrito e sobretudo o grau de dependência. Infelizmente que muitas famílias de poucos recursos económicos fazem um esforço para que os seus familiares idosos possam usufruir de uma vaga numa ERPI, mas conhecida por lares. O PCP defende uma rede pública de lares, bem contrário ao que defende o PS. Aproveito para destacar o bom exemplo de resposta pública, aquando da pandemia, com esforço dos poucos recursos humanos dos cuidados de saúde primários. Seria urgente travar o desinvestimento que ao longo das últimas décadas levou à supressão de resposta pública de proximidade, nomeadamente as extensões de saúde nas aldeias.
Além da inexistência de resposta, agrava-se a si­tu­ação de mi­lhares de utentes sem mé­dico de fa­mília, ao mesmo tempo que são ca­na­li­zados para os grupos eco­nó­micos do ne­gócio da do­ença 6 mil mi­lhões de euros do OE.
Quando se foca a cobertura de uma Assembleia Municipal não no essencial, mas no acessório, infelizmente com a ajuda da esmagadora maioria dos eleitos que desconhecem as regras, nomeadamente o regimento e legislação que o suporta. Seria importante que a saúde do Poder Local não dependesse de enviesamentos legislativos que condicionam uma autonomia plena dos órgãos autárquicos, saliento a subtração dos poderes deliberativos de uma Assembleia Municipal, mais ainda, a não implementação da Regionalização.
Deveriam estar unidos no primado dos valores de Abril, desde logo na defesa e implementação de um princípio que pouco ou nada os sucessivos governos e autarquias fizeram, refiro-me à habitação.
As me­didas avan­çadas pelo Go­verno, para lá de não re­sol­verem os pro­blemas ime­di­atos que aí estão a in­fer­nizar a vida de muitos mi­lhares de por­tu­gueses, na prá­tica cons­ti­tuem mais be­ne­fí­cios fis­cais para os mesmos de sempre ao co­lo­carem os re­cursos pú­blicos a pagar os lu­cros da banca e dos grandes interesses imo­bi­liá­rios. Áreas em que PS, PSD, Chega, IL e CDS estão de acordo, por mais que o tentem dis­farçar.
É bom lem­brar que, no pas­sado dia 15 de fe­ve­reiro, o PCP propôs me­didas para pro­teger o di­reito à ha­bi­tação, travar o au­mento de rendas e pres­ta­ções, su­bli­nhando que o que se impõe é por os lu­cros da banca a pagar o au­mento dessas pres­ta­ções. Mas, PS e IL vo­taram contra, PSD e Chega abs­ti­veram-se.
Foi também para por termo a esta po­lí­tica e à es­pe­cu­lação que be­ne­ficia os grupos eco­nó­micos que o PCP propôs re­cen­te­mente na AR a fi­xação de preços dos bens es­sen­ciais, me­dida re­jei­tada por PS, PSD, Chega e IL. Mas a re­a­li­dade aí está a con­firmar a razão do PCP, quando se cons­tata que o cabaz dos ali­mentos au­mentou 4 euros na úl­tima se­mana e nunca es­teve tão alto como agora, cus­tando hoje mais 45 euros do que há um ano.
Em con­sequência desta si­tu­ação, as de­si­gual­dades so­ciais con­ti­nuam a aumentar, num quadro em que mais de 3 mi­lhões de tra­ba­lha­dores con­ti­nuam a ga­nhar menos de 1.000 euros por mês e 2 mi­lhões de por­tu­gueses se encontram em si­tu­ação de po­breza (dos quais 385 mil são cri­anças), en­quanto os 5 por cento mais ricos con­cen­tram 42 por cento de toda a ri­queza criada no país.
É contra esta po­lí­tica que se de­sen­volve a luta dos tra­ba­lha­dores e do povo e a in­ter­venção do PCP, por uma po­lí­tica al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda que in­verta o rumo que tem sido im­posto ao país. Uma po­lí­tica que va­lo­rize o trabalho e os tra­ba­lha­dores, ga­ranta o au­mento dos sa­lá­rios e pen­sões, defenda a pro­dução na­ci­onal, in­vista nos ser­viços pú­blicos e nas fun­ções sociais do Es­tado, de­fenda a Cons­ti­tuição de Abril e o re­gime de­mo­crá­tico emanado do 25 de Abril.
Lanço o desafio para que todos os eleitos municipais participem nas comemorações do 25 de Abril, sem esquecer que comemorar implica compromisso com os valores de Abril consagrados na Constituição da República Portuguesa, aprovada a 2 de abril de 1976.

* Dirigente do PCP da Guarda, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e da União de Sindicatos da Guarda

Sobre o autor

Honorato Robalo

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