Imaginem que um planeta em convulsão e tecnologicamente avançado, com uma espécie prevalente, decide mandar para outro lugar habitável membros daquela espécie evoluída, mas que estupidamente se conduziu à destruição. Colocam algumas premissas na experiência: ficarão nus, deixados com sua memória enquanto durar, sem ferramentas, abandonados à sua sorte no meio hostil. Como evoluirão? Assim abandonados em seis ou sete locais nem sabem que existem uns e outros, evoluirão de modos distintos. Confrontar-se-ão depois? Plantados em Krypton dois, ao fim de dois dias aquela espécie tem imensa fome e sede, tem um habitat virgem com seus predadores e suas vítimas, parte partira para caçar, talvez se vista, talvez consiga fazer fogo, talvez tente criar armas. Outros irão à procura de frutos e raízes. Os próximos dias dos novos habitantes de Krypton não são técnicos. Não há casas, nem torneiras, nem eletricidade, nem meios de comunicação. Alguns dias depois de terem sido largados, uns foram alimento de predadores, outros refugiaram-se em grutas e cavernas, outros ainda, mataram e comeram. Dos grupos expostos temos os que são canibais, os que são mais agressivos e definem territórios, os que se organizam em ações de grupo, os que partem sós. A espécie adapta-se lentamente. Nascem novos membros que nunca viram nada do que contam os mais velhos. Uns desenham nas paredes para que perdure a memória, mas a dinâmica não permite ficar. A espécie que resta, ao fim de cem anos, não sabe que veio de outro lado, desconhece a luz, a matemática, a escrita, desvanecendo a memória. Há um confronto direto com outos grupos parecidos, como entre Sapiens e o Neandertal. Já existem os “Larapiens” e não se perderam as características da espécie. Preguiça, ambição, vozearia, ciúme, raiva, melancolia, luxúria, vingança, inveja, deslumbramento, desinteresse, intolerância, que vão dando cor aos diferentes grupos que evoluem em simultâneo e agora se desconhecem. Uma evolução em paralelo de civilizações que, como na América do Sul e na Europa, se confrontaram no século XV com espanto. Já houvera os confrontos de vikings com romanos, de persas com gregos. Os recém-chegados, plantados noutro lugar, realizavam vinte mil anos depois a mesma trajetória dos que os haviam trazido. A aprendizagem não se deu com o novo desabrochar.
Um guião para a origem das espécies
“Dos grupos expostos temos os que são canibais, os que são mais agressivos e definem territórios, os que se organizam em ações de grupo, os que partem sós. “