Trinta e cinco anos depois de entrarmos na Europa, as assimetrias que a interioridade encerra são o maior problema com que a região se confronta. Não é possível contrariar a tendência de litoralização, de despovoamento, de desertificação do interior sem conseguirmos uma nova dimensão de coesão territorial. E é nesse sentido que, depois de muitos diagnósticos e poucas medidas concretas, todos temos reivindicado mudanças de paradigma, mudanças estruturais no ordenamento do território e especialmente na definição criteriosa de opções e caminhos de permitam acreditar que há futuro nos territórios de baixa densidade.
As muitas “políticas” anunciadas ao longo de anos e os milhões de fundos europeus gastos em desenvolvimento estrutural nas regiões periféricas nunca conseguiram cumprir os objetivos propostos. Pelo contrário, o anátema sobre os territórios periféricos é cada vez mais forte e os fundos estruturais não cumpriram com os desígnios propostos e apoiados pela Europa – sim, porque grande parte dos fundos europeus destinados a Portugal foram aprovados num contexto de coesão territorial, ajuda às regiões periféricas e ultraperiféricas (Açores e Madeira), territórios de baixa densidade e zonas mais atrasadas. Ao longo de mais de trinta anos, para além dos fundos estruturais que deveriam ter sido investidos no país como um todo, foram canalizados para Portugal milhões destinados precisamente à correção das assimetrias, para o desenvolvimento das regiões periféricas e mais atrasadas. Porém, por extraordinário que pareça, em Lisboa, os diferentes governantes, sempre conseguiram “desviar” o dinheiro que era destinado aos territórios menos desenvolvidos para a capital e para o litoral. Aliás, o próprio Plano de Recuperação e Resiliência insiste nesse pressuposto e reitera que o investimento em grandes projetos em Lisboa terá um «efeito multiplicador» com consequências em todo o país.
A aposta na digitalização, que a CIM Beiras e Serra da Estrela abraçou como a principal estratégia para o desenvolvimento da comunidade com o apoio do PRR, é um erro no imediato (porque a região precisa de medidas urgentes), mas pode contribuir para a sustentabilidade do desenvolvimento a longo prazo. A opção de outras comunidades, nomeadamente com a escolha de investimento em grandes infraestruturas, como hospitais, são opções muito mais interessantes e válidas no imediato. A Guarda devia ter exigido o investimento na 2ª Fase do Hospital Sousa Martins e devia ter imposto que a CIMBSE defendesse um grande hospital para servir toda a região (uma região com mais de 200 mil habitantes). O facto de a Covilhã estar na mesma CIM e ter um hospital “com ambições”, mas que na verdade é mais pequeno, tem menos camas, menos valências e menos capacidade de resposta, não devia ter provocado constrangimentos na definição estratégica da saúde e da instalação imediata de um grande hospital na Guarda. A saúde tem de ser a primeira prioridade nas apostas de futuro da Guarda. Porque o hospital universitário é na Guarda, na Covilhã e em Castelo Branco e um grande hospital será decisivo para fixar e atrair pessoas.
Um grande Hospital na Guarda
«No PRR, a Guarda devia ter exigido o investimento na 2ª Fase do Hospital Sousa Martins e devia ter imposto que a CIMBSE defendesse um grande hospital para servir toda a região»