Ao tempo em que escrevo já se iniciou a greve que parece ir pôr o país de pantanas. Num tempo que é de férias para muitos dos nossos concidadãos, num tempo que nos traz milhares de emigrantes (alguns de segunda, terceira, ou até de quarta geração), eis que o país está suspenso das decisões de uma classe profissional e dos seus dirigentes sindicais (ou será melhor não trazer para aqui o sindicalismo para não ofender os muitos que, quantas vezes pagando alto preço, o construíram ao longo dos tempos?…).
Não, não se trata de colocar em causa o direito à greve, um direito inalienável e devidamente enquadrado pela Constituição que abril nos legou. Nem sequer se trata de pôr em causa as legítimas, reforço, legítimas aspirações dos motoristas em melhorar a sua situação profissional e remuneratória.
Do que verdadeiramente se trata é de perceber, ou de tentar perceber, quais as motivações para uma greve já em segunda edição e “nesta altura do campeonato”.
Do que se trata é de fazer um esforço para tentar perceber se a greve será, ou não, um meio para instrumentalizar os motoristas de camiões que transportam produtos perigosos.
Do que se trata é de tentar ler nas entrelinhas de um movimento sindical cuja face mais visível nem sequer é profissional do mesmo mester e que, vá lá saber-se porquê, até já foi convidado por sindicatos de outras classes profissionais para as assessorar. Saberá o senhor assim tanto de sindicalismo? Conhecerá o senhor tanto assim do mundo laboral? Ou estaremos perante um caso de alguém que sabe de subtilezas legais e as utiliza de molde a satisfazer as pretensões dos, digamos, seus “clientes”?…
O que já se percebeu, recorrendo aos dizeres de Orwell, é que todas as greves são iguais, mas umas são mais iguais que outras. Fosse uma greve de outras classes profissionais e outro galo cantaria…
A prova? A prova está aí, hoje mesmo. Compare-se a repercussão desta greve com a dos conservadores e técnicos dos registos e notariado, por muito que esta última cause engulhos a quem necessite de um qualquer documento. Para fazermos uma ideia bastará observar atentamente a comunicação social e o espaço que é dedicado a cada uma delas.
Para acabar de uma forma algo mais leve, esta greve, para nós os que teimamos em viver neste interior cada vez mais interior, traz-nos um sentimento que não nos é muito usual: o de sermos invejados pelos nossos concidadãos do litoral por aqui vivermos. É que estamos perto das terras de “nuestros hermanos” e, por isso, temos acesso facilitado ao precioso combustível. Ainda por cima mais barato…