O feio palavrão do título é a designação alemã do feio sentimento que é sentir alegria pelo infortúnio dos outros. Podem dizer que só os alemães, na sua perversidade, poderiam ter uma palavra para isto, mas sejamos justos: há-que reconhecer-lhes a honestidade de terem dado nome à coisa, o que nós portugueses, entre muitos outros, sentindo a mesma alegria em inúmeras situações não lhe souberam dar nome. Temos o “bem feita!”, mas não é a mesma coisa e são duas palavras; os americanos (e outros) falam em karma, mas aqui vemos o sujeito e não o observador. Os alemães é que sabem.
Quem deu ultimamente alegria a muita gente, pelos maus motivos de acharmos que não teve mais do que aquilo que merecia (bem feita!), foi Trump.
Passou rapidamente de invulnerável à Covid-19 a objeto dos melhores e mais atuais cuidados médicos, assistido por um verdadeiro batalhão com acesso a soluções de ponta, mesmo que ainda experimentais, inacessíveis à generalidade das pessoas e ainda mais dos americanos pobres sem seguro de saúde. Esses cuidados e a acumulação de tratamentos mostram que a infeção foi mais grave do que o divulgado e as contradições na comunicação sugerem precisamente isso. Tantas foram as contradições que se chegou a pensar que tudo não tinha sido senão um golpe de propaganda. “Fake news”? Talvez não, que este não é momento, com a campanha eleitoral em curso, para paragens de um dia sequer, sobretudo a cair nas sondagens e ao mostrar, com esta doença e com um surto grave na Casa Branca, que nem aqui consegue controlar a doença.
Mesmo que saia incólume do episódio fica-lhe colada a imagem de incompetência e mesmo que tudo se resuma a um susto, quem pensar um pouco sobre o assunto recordará que os mais de 2.000.000 mortos nos EUA não tiveram a mesma sorte, nem acesso aos mesmos meios.
É verdade que nem assim os indefetíveis arredam pé, e lá estavam eles na rua em frente ao hospital em que Trump estava internado, sem máscara e a gritar o seu apoio. Esta atitude transmite para todos os outros, os que a acham uma estupidez no pretexto e na forma, uma mensagem de esperança: a seleção natural acabará, mais tarde ou mais cedo, por resolver o problema do populismo e da cegueira das massas que nos condenam a maus governantes.
Quanto aos tratamentos que ele recebeu, aposto que não nenhum deles incluiu lixívia ou hidroxicloroquina. É pena, era o momento ideal para fazer a prova dos nove.