Setembro, mês de regresso às aulas

Escrito por Fidélia Pissarra

“Podem, muito bem, ainda não se ter apercebido, mas tenho cá para mim que depois deste setembro, perante os desafios que os novos alunos nos trarão com o reanimar das nossas escolas, o regresso às aulas não vai voltar a esmorecer.”

Depois do último concurso para professores (dada a panóplia concursal, o mais correto seria falar de concursos), o rol de apresentações, encontros, reencontros e desencontros, que também os há, entre docentes, garante um certo clima de festa aos primeiros dias de aulas. Entre o nervosismo dos que chegam de novo, a ânsia dos que já lá estão há uns anos e os suspiros de quem só já quer sair dali, por esta altura sente-se nas escolas uma animação, quase uma felicidade, cujo auge será atingido com o regresso dos alunos, que não se repetirá até ao próximo setembro. Sempre foi assim, mas desconfio que este ano será ainda mais.
Depois de décadas a perder aprendizes, este é o primeiro ano em que o aumento do número de alunos nas nossas escolas é suficiente para nos fazer voltar a ter esperança de tão cedo, à falta de préstimo, as não ver encerradas. Salas de aula, há muito adormecidas sob o pó das caixas e das tralhas a ocupar o lugar dos alunos que teimavam em não existir, pela primeira vez, voltam a servir para aquilo que foram construídas. À entrada, passando os olhos pela listagem das turmas, nomes pouco habituais por estas geografias relembram-nos séculos passados parecendo querer dar vida aos manuais de história que durante se irão folhear. Meninos vindos de todos os lados e mais algum vão perceber que aqui, na nossa toponímia, na nossa cultura, na nossa maneira de ser e de estar há sempre um bocadinho da sua terra que por aqui passou e ficou. O que é bom para eles que assim não se vão sentir tão deslocados, e para nós que não nos vamos assustar com o que temos de lhes ensinar e como é que lho vamos ensinar. Quem melhor do que nós para reconhecer como suas as palavras começadas por “al” do que um árabe? Quem melhor para falar inglês do que um sul-africano ou saber “capoeira” do que um brasileiro? Quem melhor do que eles para saber o que veio, ou continua a vir, das suas terras para a terra que agora os acolhe? Agora imagine-se o que todos os meninos não aprenderão uns com os outros quando brincarem nos espaços pedagógicos por excelência: os de recreio. Uns a falar com os outros, das suas terras, das suas culturas e tradições. Ainda por cima, desde os números, passando pelas técnicas agrícolas, até às especiarias e outros produtos valiosos, como a prata e o ouro, aprendizagens sancionadas pelas páginas dos manuais.
Podem, muito bem, ainda não se ter apercebido, mas tenho cá para mim que depois deste setembro, perante os desafios que os novos alunos nos trarão com o reanimar das nossas escolas, o regresso às aulas não vai voltar a esmorecer. Quando dermos por nós, só já ansiaremos por mais salas de aula que voltem a ser o que nunca deveriam deixar de ter sido. Assim saibamos aconchegar quem nos escolheu para junto de nós viver.

Sobre o autor

Fidélia Pissarra

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